Em seu site, você reflete um pouco sobre a influência de sua
infância na criação artística. Fale um pouco mais sobre como
o encantamento e o imaginário criados na infância foram
importantes para sua descoberta como artista.
Sou filho único e neto mais velho da família, há uma
diferença de 14 anos para o 2° neto. Toda minha infância foi
passada no sítio de meus avós, mas não tinha amigos ou
primos para dividir ou brincar durante o dia. Assim, era
natural ter toda a atenção dos meus avós me proporcionando
distração durante o dia todo.
Tenho lembranças de deitar no terreiro de café e ficar
achando formas de animais em nuvens. O sítio até hoje não
possui energia elétrica, usamos lamparinas de pavio que
criam sombras nas paredes. Havia também toda a religiosidade
de minha avó e a superstição de meus avós.
Todas essas histórias, o relevo montanhoso e suas pedras nos
morros, com o colorido da natureza cercado pelo silêncio da
região, tiveram e têm uma grande influência em meus
trabalhos. Prova disso foi a construção da igreja, em cuja
dedicatória consta uma homenagem aos meus avós e, em seus
vitrais – que eu pintei com tinta guache e impermeabilizei
com verniz – está toda a história vivida pela família. Assim
como os santos, feitos de galhos e troncos de árvores
plantadas pelos meus avós.
Poderia falar um pouco sobre seus trabalhos já realizados?
Tenho trabalhos que foram feitos aos 12 e aos 16 anos, por
exemplo, que ainda estão com parentes ou no sítio. Nessas
obras já fazia rostos, mãos, mas não acreditava que com o
tempo eles teriam essa dimensão.
Atualmente, tenho trabalhos por vários estados brasileiros
com particulares e colecionadores (caso de um colecionador
do RJ). Também tenho dois trabalhos expostos permanentemente
em espaços públicos, além de um presépio (vencedor do
primeiro concurso de presépio de Descalvado e região) em uma
propriedade da cidade.
Este ano fiz a doação de oito peças, com motivos variados,
para a Secretaria Municipal Educação e Cultura de
Descalvado, que estuda um local para exposição permanente
das peças.
Porque optou pela madeira em seus trabalhos? Quais as
vantagens em utilizá-la?
Assim como a argila foi muito comum na minha infância, a
madeira também era. Tínhamos fogão de lenha e as madeiras
eram colhidas pela minha mãe nos pastos, sempre galhos secos
e pequenos troncos que ficavam armazenados ao lado do fogão
na cozinha. Também trabalho em uma empresa de mineração há
mais de 26 anos, onde existe um trabalho de reflorestamento.
Dessa forma, sempre encontro raízes que aparecem no processo
de lavagem do minério (exemplos disso podem ser vistos no
meu trabalho ÁRVORE DOS ESTRANHOS SERES, um conjunto de
raízes que formam vários animais de formas e cores
diferentes).
A madeira é um material com grande variação de cores,
texturas e formas, que pode ser usada naturalmente ou
pintada.
Artistas renomados como Frans Krajcberg, Elisa Bracher e
Geraldo Teles de Oliveira também utilizam a madeira para a
confecção de suas obras. Você se inspirou ou acredita ter
algum tipo de ligação com esses artistas?
Realmente, comparando os trabalhos, tenho uma certa ligação
com todos. Elisa Bracher usa elementos de metal em várias
obras. Assim como ela, também faço uso do material em alguns
trabalhos meus, como “Diálogo de Paz”, e “Natureza humana em
construção” (em que uso ferro e madeira). Com relação às
obras de Geraldo Teles de Oliveira, tenho a semelhança da
construção das figuras amarradas entre si, por exemplo a
obra “Árvore dos estranhos seres”. Com quem mais me
identifico é Frans Krajcberg, no sentido de que ele usa
somente a natureza. Adoro as cores vermelhas das tintas
naturais usadas por ele, assim como as madeiras de
queimadas. Um trabalho meu que lembra muito o de Frans é
“Natureza Morta”, no qual há três animais entalhados em um
tronco de árvore queimada.
Você acredita que a implantação de esculturas e monumentos
em espaço público ajuda na maneira com que as pessoas
interagem com a cidade?
Perfeitamente. Prova disso é o grande número de casais de
noivos que são fotografados ao lado de meus trabalhos
expostos no espaço público ao lado da antiga estação da
Fepasa, a "ÁRVORE DA VIDA" e "LIBERDADE".
Houve algum procedimento específico para a implantação de
suas obras dispostas em espaços públicos? Elas estão sendo
preservadas de forma adequada?
A doação foi feita na semana festiva da cidade, através da
Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Tive todo o
apoio e incentivo para implantação das obras. É um trabalho
que foi criado para ficar em exposição a céu aberto, e o
local foi escolhido por estar cercado e ter funcionários
durante o horário de expediente.
Quanto à preservação, até o momento é ela feita por mim
mesmo. Faço duas intervenções durante o ano usando verniz.
No entanto, o desgaste é muito grande, por se tratar de
madeira, que fica submetida aos períodos de chuva e recebe
luz solar diariamente. Mas, com essas intervenções, o
trabalho tem resistido ao tempo com algumas avarias. Uma das
peças já está exposta há quatro anos, e a outra vai
completar dois anos agora em setembro.
Como você enxerga a preservação do patrimônio público de
Descalvado?
A Prefeitura de Descalvado, nessa última gestão, tem grande
preocupação com o patrimônio. Muitas secretarias estão sendo
ocupadas por profissionais com formação ou conhecimento das
pastas em que atuam. Podemos confirmar isso com a criação do
nosso museu, e considerando os profissionais que estão
ligados a esse patrimônio.
Qual a importância das redes sociais digitais para o seu
trabalho?
Tenho grande visibilidade em todo país através das redes
sociais. Isso é de grande satisfação em meu trabalho (de
Descalvado para o mundo).
Você acredita que a criação de acervos digitais, como o MuBE
Virtual, podem ajudar a promover o reconhecimento dos
escultores brasileiros?
Certamente esse trabalho é de grande importância. Prova
disso é que já recebi elogios de escultores renomados pelos
seus trabalhos e conhecidos em seus estados através do
contato na página do MuBE Virtual.