branca de geladeira e
fogão”, diz José Edson Galvão de França, presidente executivo da
Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação
(Abinpet).
E a grande vedete dentro
desse mercado é o segmento de saúde animal. Impulsionado pelo avanço da
tecnologia, esse nicho avança na casa dos dois dígitos – a projeção é
que cresça 13% em relação a 2015, quase o dobro do mercado pet como um
todo.
Mas o que faz essa área se
destacar tanto num período em que as pessoas estão cortando gastos? A
resposta é simples: a mudança de comportamento dos donos dos bichos. Nos
últimos anos, os animais de estimação passaram para dentro das casas e
ganharam o status de membros da família.
“Como sobem no sofá, dormem
no quarto e dividem o ambiente com as crianças, eles passaram a ser mais
bem cuidados por seus donos. A atitude, que antes era curativa, se
tornou preventiva”, diz Gustavo Moraes, diretor de negócios da unidade
pet da MSD Saúde Animal, que no ano passado faturou 576 milhões de reais
no Brasil.
Essa transformação de
perfil chacoalhou a área de animais de estimação da MSD. Nos últimos
dois anos, metade da equipe foi substituída ou remanejada e investiu-se
pesado no desenvolvimento de pessoas e na criação de novas vagas. Só
neste ano, foram sete contratações, três delas em nível gerencial –
ainda há uma vaga de coordenador de território aberta.
A empresa percebeu o
potencial de crescimento da área de saúde animal após o lançamento, em
2016, do primeiro antipulgas oral do país. “Antes dele, a MSD ocupava a
nona posição no ranking de empresas do segmento pet. Hoje, já está na
primeira posição”, diz Gustavo.
Para crescer nesse filão, a
companhia não economiza. Em julho deste ano, levou 400 funcionários,
proprietários de estabelecimentos e distribuidores para passar uma
semana num resort na Praia do Forte, na Bahia, para debater a
importância da prevenção de doenças nos animais. Só nesse evento o
investimento foi de cerca de 1,5 milhão de reais.
A Zoetis, fabricante global
de produtos farmacêuticos animais, também surfa a onda dos medicamentos
inovadores que surgem para conquistar um dono cada vez mais exigente.
Além de lançar o próprio antipulgas oral, para enfrentar a concorrência,
a companhia aposta em um remédio sem corticoide para romper o ciclo de
coceira e inflamação associado às alergias.
Com esses lançamentos, a
empresa, que no último trimestre faturou 56 milhões de reais no Brasil,
espera retomar o ritmo de crescimento, que sofreu uma desaceleração no
primeiro semestre de 2016 em relação a 2015. “Já sentimos ânimo no
mercado e temos uma boa perspectiva para 2017”, diz Tiago Papa, diretor
da unidade de animais de companhia da Zoetis.
Outro nicho que tem
brilhado é o de rações medicamentosas, que auxiliam no tratamento de
doenças renais, cardíacas e de pele. Mesmo com valores salgados – um
pacote de 10 quilos pode custar 180 reais -, não há estagnação nem
queda nesse segmento. Só neste ano, a Royal Canin, uma das maiores
fabricantes de alimentos especiais do mundo, lançou sete produtos – 70%
deles rações medicamentosas -, como uma linha especial para combater a
obesidade de cães e gatos. Para 2017, há mais oito lançamentos
programados. Cães de pequeno porte e gatos – cuja população cresce duas
vezes mais rapidamente do que a de cachorros – estão entre as principais
apostas da empresa.
“Comparados com a grande
massa de ração, esses alimentos representam 5% do mercado. Mas é
possível dobrar esse percentual em cinco anos”, afirma Frederico
Giannini, diretor de vendas da Royal Canin. Segundo ele, foi a certeza
desse potencial que levou a empresa a ampliar em 6% o quadro de
funcionários em plena crise. “Cerca de 50 pessoas foram contratadas em
todas as áreas estratégicas da companhia”, diz.
A ampliação é resultado dos
investimentos que a Mars, norte-americana detentora das marcas Royal
Canin, Pedigree e Whiskas, tem feito no Brasil.
No ano passado, a
empresa anunciou um aporte de 750 milhões de reais
para turbinar a área de petcare. Uma parte foi usada para a expansão de
fábricas como a de
Descalvado (SP),
onde fica a produção da Royal Canin; outra, para incrementar o
portfólio; e a terceira, para construir uma fábrica em Ponta Grossa
(PR), que ficará pronta em 2017.
Angélica Carvalho, de 37
anos, gerente do centro de distribuição da Royal Canin em Campinas (SP),
colhe os frutos dessa expansão. Onze meses atrás, deixou Curitiba,
cidade natal onde atuava como gerente regional da Royal Canin, para
assumir a gerência do centro de distribuição em Campinas, no interior de
São Paulo.
Além do salário mais alto e
de novos benefícios, como auxílio-moradia, ganhou mais responsabilidade.
Acostumada a trabalhar sozinha, passou a liderar 32 pessoas. “Fiz um
treinamento robusto de liderança, que me deu suporte em gestão de
pessoas”, diz Angélica. O próximo passo será fazer uma especialização em
marketing.
Segundo André Prazeres,
líder da comissão de animais de companhia do Sindicato Nacional da
Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), essa indústria se
tornou uma boa opção para veterinários. “Como a área clínica é
ultracompetitiva e demanda investimento, oportunidades corporativas são
bem-vindas”, diz. Além de pesquisa e desenvolvimento, as áreas comercial
e de marketing também geram vagas para profissionais com outras
formações.
Planos de saúde
- Com os novos avanços, a medicina veterinária está mais cara. Por isso,
o plano de saúde pet tem se tornado uma alternativa cada vez mais
atraente para quem tem um bichinho de estimação. “Quando o animal
adoece, o dono apaixonado faz de tudo para salvá-lo. E os custos com
internação e remédios podem chegar facilmente a 10 000 reais. Para a
classe média, é um impacto no orçamento e faz sentido ter um plano”, diz
Marcello Falco, diretor da Petplan, líder global em seguros de saúde
para bichos.
Há cinco anos no Brasil, a
empresa oferece três tipos de plano, a partir de 83 reais mensais, e
opera por enquanto no estado de São Paulo, onde tem 500 veterinários
credenciados. Em 2017, deve iniciar operações em Curitiba e no Rio de
Janeiro. A projeção para os próximos dois anos é chegar a uma carteira
de 30 000 vidas.
Mas a Petplan terá
concorrência nessa tarefa. Nascida em 2014 com o aporte de 6 milhões de
reais de três sócios vindos do mercado de planos de saúde para humanos,
a Health for Pet teve 51% das operações compradas pela Porto Seguro no
ano passado.
Com a ajuda do exército de
28 000 corretores da Porto, a empresa cresce a passos largos e já conta
com 22 000 vidas e 700 veterinários credenciados em Belo Horizonte, Rio
de Janeiro, São Paulo e região metropolitana, além de Piracicaba e
Campinas, no interior paulista. “Temos também os primeiros contatos de
empresas nos procurando para oferecer o benefício aos funcionários”, diz
Fernando Leibel, sócio e presidente da Health for Pet.
A companhia trabalha com
cinco opções de plano, a partir de 60 reais. No ano que vem, os
investimentos em expansão da companhia devem ultrapassar 10 milhões de
reais. A ideia é operar em Brasília e em duas capitais do Sul: Curitiba
e Porto Alegre.
Todas as áreas
- A sofisticação dos tratamentos veterinários tem gerado vagas não só
para profissionais de saúde como também para as áreas de apoio (vendas e
logística, por exemplo). Na MedMep, empresa especializada em terapia com
células-tronco, isso aconteceu depois que, em 2015, a companhia mudou o
foco do negócio e passou a oferecer tratamentos para animais, em vez de
humanos.
Como a aplicação leva 15
minutos, não exige anestesia e resolve problemas penosos, como a
displasia – que pode impedir os cãezinhos de andar -, a procura pelo
serviço tem aumentado, a despeito do alto valor do tratamento, que custa
entre 1 000 e 8 000 reais.
Com 100 clínicas
credenciadas em dez cidades espalhadas pelo Brasil, a MedMep dobra o
faturamento a cada seis meses e, em menos de dois anos, trocou um
escritório de 100 metros quadrados por outro de 600. “Começamos com uma
pessoa no laboratório, hoje temos cinco. Em vendas, fomos de um para 12
funcionários e já somos quatro pessoas em logística”, diz Edson Lo
Turco, veterinário responsável pela MedMep.
A rede de hospitais
veterinários Pet Care, de São Paulo, também vem fazendo contratações nas
mais diversas áreas. Em cinco anos, a empresa quadruplicou de tamanho ao
oferecer atendimento 24 horas, exames de imagem, como tomografia, além
de UTI e atendimento em dermatologia, odontologia, cardiologia,
oncologia e neurologia.
Hoje, ela atende 2 700
animais de pequeno porte por mês e emprega 250 pessoas. “Nos tornamos
uma empresa enorme, com RH, marketing e reuniões de conselho. Nosso
planejamento é chegar a 20 unidades em dez anos”, diz Carla Berl,
diretora da Pet Care. Neste mês, a rede inaugura um centro especializado
em oncologia na zona sul da capital, para o qual fez cinco contratações.
Especialização
- Um levantamento inédito feito pela farmacêutica Zoetis mostrou, por
exemplo, que apenas 8% dos veterinários no Brasil são dermatologistas e
só 1% é oncologista. Para os especialistas em saúde pet, os veterinários
especializados levarão vantagem nesse bom momento de seu mercado.
No caso da médica
veterinária Sibele Konno, de 38 anos, de São Paulo, foi o treinamento em
atendimento de emergência nos Estados Unidos que fez a diferença. Nos
cinco anos em que atua na rede de hospitais da Pet Care, ela já recebeu
três promoções. A última foi em novembro: ela assumiu a coordenação
geral de todas as unidades e teve um incremento de 30% na renda.
Agora ela investe numa
especialização de dois anos na área de medicina intensiva. “Hoje o
veterinário precisa se especializar, inclusive porque os donos estão
muito bem informados. Quando chegam aqui, já pesquisaram tudo sobre a
doença no Google e nos cobram mais conhecimento”, afirma Sibele. Isso
prova que a evolução do setor é um caminho sem volta. E que, para a
sorte dos bichinhos e do mercado de trabalho, o segmento de saúde
veterinária deve seguir caminhando na contramão da crise.
Cara de um, focinho do outro
- Confira como os brasileiros agem e quanto gastam com seus animais,
considerados por metade dos donos parte da família:
-
Investem em seus animais: donos de cães gastam, em média, 300 reais
por mês; já os de gatos desembolsam 120 reais, em média;
-
Tratam os pets como parte da família: metade dos donos de cães diz
ter relação de pai e filho com o animal, o que explica o alto
investimento em saúde animal;
-
Estão mais permissivos: sete em cada dez cães ficam dentro de casa e
43% dos tutores os deixam dormir na cama
-
Preocupam-se mais com a saúde: 70% dos veterinários percebem que os
tutores estão mais atentos aos avanços da medicina veterinária e à saúde
de seus pets
*Fontes:
Abinpet e Zoetis (Matéria publicada originalmente na edição 223 da
revista Você S/A)
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