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07/02/2017 (12H09)   |   Atualizada às 16h04



Na primeira sessão do ano, Câmara veta 2 projetos de lei do Executivo e aprova contas do ex prefeito Sposito



Por 9 votos a 1, contas do ex prefeito interino foram aprovadas pela Câmara Municipal. Medida do legislativo descalvadense traz o "perdão político" na dívida milionária do 'Caso Castellucci", e mais uma vez os contribuintes e os servidores da Prefeitura é que deverão pagar a conta!

Nesta segunda-feira (6), aconteceu a primeira Sessão Legislativa de 2017, e que teve na sua pauta pelo menos três importantes decisões a serem debatidas e votadas.

Em discussão, estavam pelo menos três projetos considerados polêmicos, que tratavam da criação de cargos para agentes comunitários de saúde e também para o controle de endemias, do aumento da parcela mínima para o Programa de Parcelamento Permanente e a rejeição das contas da Prefeitura do exercício de 2013. Os três projetos foram derrubados pela vereança.

CRIAÇÃO DE CARGOS DE AGENTES PARA A SECRETARIA DE SAÚDE - O primeiro projeto de lei a ser votado foi o de número

54/16, que tratava da redenominação e a criação de cargos no quadro de funcionários efetivos da Prefeitura Municipal, para posterior abertura de concurso público que visa a regularização dos empregos de agentes de saúde no município de Descalvado, funções estas atualmente exercidas por pessoas contratadas através da Associação da Irmandade da Santa Casa, que está sob intervenção do poder público desde meados de 2014.

Ocorre que no ano passado, a Prefeitura assinou junto ao Ministério Público de Descalvado, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) se comprometendo a regularizar por meio de concurso público, a contratação de todos os funcionários que atualmente prestam serviços para a 'Associação da Santa Casa', entidade que foi criada no passado para justamente burlar a realização de concurso e empregar pessoas para trabalharem em Postos de Saúde do município. Desde então, a Associação sempre dependeu 100% dos recursos enviados pela Prefeitura Municipal, e já foi alvo de várias denúncias de desvio de dinheiro.

De acordo com informações, a entidade ainda possui uma dívida milionária junto ao INSS. O caso inclusive deu origem à duas CPI's na Câmara Municipal, e também é investigado pelo MP.

O projeto de lei analisado na sessão de ontem pretendia criar no quadro de funcionários efetivos da Prefeitura, 30 vagas de Agente Comunitário de Saúde e mais 8 de Agente de Combate de Endemias, o que permitiria o Executivo a proceder a abertura de concurso público e o preenchimento das vagas num prazo médio de cerca de 3 anos. O projeto acabou vetado pelos vereadores sob a alegação de que no momento não há índice de limite prudencial na folha de pagamentos da Prefeitura para a realização de concurso público. Vale ressaltar que a Prefeitura recebe verbas federais para a manutenção do programa de agentes comunitários que atualmente prestam serviços na Associação, e como já existe o apontamento do MP sobre as irregularidades envolvendo a entidade, o município agora corre o risco de ter os repasses suspensos.

Outra irregularidade é quanto aos agentes de controle de endemias, onde a Prefeitura também já recebe do Governo Federal recursos que visam o subsídio para o pagamento de salários de 8 servidores, mas atualmente a Secretaria de Saúde detém apenas metade disso em seu quadro de funcionários. Se houver alguma denúncia junto ao Ministério da Saúde, a Prefeitura poderá ter o repasse de recursos suspenso, e pior, correndo o risco de ter que devolver dinheiro à União. Nenhum dos vereadores que votaram contra o projeto de lei se manifestaram sobre estas irregularidades.

PPP - O segundo projeto de lei analisado pelos vereadores foi o de número 01/17, que pretendia fazer alteração no Programa de Parcelamento Permanente (PPP) da Prefeitura Municipal. Atualmente, os contribuintes que possuem dívidas junta à Prefeitura podem parcelar os débitos em 72 meses, com parcelas mínimas de R$ 50,00. A proposta do Prefeito Becão era de aumentar o valor da parcela mínima, alterando-a para R$ 80,00.

Contrários à manobra que prejudicaria boa parte dos inadimplentes, os vereadores Sebastião José Ricci (PP), Vick Francisco (PPS) e Argeu Rischini (PTB) criticaram o projeto de lei e lideraram a derrubada do projeto. Ricci e Vick alertaram sobre a questão do desemprego que afeta Descalvado, afirmando que se já está difícil o contribuinte pagar uma parcela de R$ 50, imagine se ela passasse para R$ 80, conforme pretendia o prefeito.

Ricci inclusive lembrou sobre a votação do projeto de lei que aumentou substancialmente o valor do IPTU a partir de 2011, quando Becão era vice prefeito de Panone. "Vocês se lembram do projeto do IPTU não é mesmo? Na teoria era uma maravilha, todo mundo ia sair ganhando não é mesmo? Depois que foi aprovado, vejam só o estrago que foi feito no bolso dos contribuintes", relembrou o vereador. O projeto de lei acabou derrubado pela maioria dos vereadores.

CONTAS DO GOVERNO INTERINO - Por fim, os vereadores analisaram o Projeto de Decreto Legislativo n.º 08/16, que pretendia rejeitar as contas da Prefeitura Municipal de Descalvado durante o exercício de 2013, período em que a Prefeitura foi administrada interinamente por Anderson Aparecido Sposito (PRTB). De autoria das Comissões Permanentes de Justiça e Redação e Orçamento e Finanças, o projeto pretendia reprovar as contas de Sposito, mesmo tendo recebido parecer favorável do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE).

A justificava para o pedido de reprovação das contas se deu em razão de que, mesmo emitindo parecer favorável, o TCE fez duas ressalvas ao analisar as contas de Sposito. A primeira delas foi quanto a não aplicação de 100% dos recursos destinados ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). De acordo como Tribunal de Contas, Sposito teria deixado de aplicar cerca de 0,5% do que estaria previsto para aquele exercício. Em sua ressalva, o TCE apontou que a irregularidade poderia ser sanada pela gestão seguinte, em razão da pequena diferença apurada.

Já a segunda ressalva trata sobre as compensações realizadas irregularmente pela Prefeitura Municipal entre os anos de 2012 e 2013, no episódio que ficou conhecido como "Caso Castellucci". Em novembro de 2012, o então Prefeito Luis Antonio Panone deu início ao "calote" que resultou em uma dívida milionária junto ao INSS, medida esta que continuou a ser praticada durante todo o ano de 2013 pelo ex prefeito interino. No início de 2015, a Receita Federal enviou uma DARF à Prefeitura Municipal no valor de pouco mais de R$ 13,5 milhões, em razão do não pagamento dos impostos que foram descontados dos funcionários e não pagos ao INSS. O caso está sendo analisado pela justiça local, que já determinou o bloqueio dos bens pessoais dos 2 ex prefeitos, e de pelo menos 2 ex secretários municipais da época em que Sposito ocupava a cadeira de prefeito (um deles agora nomeado como assessor de gabinete do atual prefeito Becão).

O vereador Vick Francisco se manifestou na Tribuna sobre o seu parecer contrário à aprovação das contas de Sposito, em virtude do calote que foi dado. Segundo o vereador, mesmo nutrindo apreço pelo ex companheiro de Câmara, como profissional em contabilidade e advogado, ele não poderia votar a favor da aprovação das contas de Sposito (que inclusive estava presente no Plenário do Legislativo nesta segunda-feira). "Este é um julgamento político, mas como contador profissional, não posso fechar os meus olhos quanto ao problema que foi gerado com essas compensações indevidas. Por isso, meu voto é favorável ao projeto de decreto legislativo que prevê a rejeição das contas do ano de 2013", justificou Vick, que foi o único vereador a votar a favor da rejeição das contas. O projeto de decreto legislativo foi derrubado por 9 dos 10 vereadores votantes, e as contas de 2013 acabaram aprovadas sem qualquer prejuízo político para o ex prefeito interino.

Vale lembrar que em 2010, quando a Prefeitura e a Câmara Municipal eram governadas pelo mesmo grupo que hoje comanda os dois poderes, as contas do ex prefeito José Carlos Calza (PSDB) - referente aos exercícios de 2007 e 2008 - foram rejeitadas, apesar de também contarem com os pareceres favoráveis do Tribunal de Contas. Calza acabou sofrendo aquilo que chamou de "perseguição política", o que o deixou impedido de disputar eleições pelo período de 8 anos. Comparada com as contas aprovadas na data de ontem, as contas do ex prefeito Calza não tinham causado qualquer prejúízo sequer ao erário público, ao contrário das dívidas que agora estão sendo cobradas pela Receita Federal e que também receberam as ressalvas do TCE. A diferença neste caso, obviamente, é que naquela época não havia ninguém do grupo político que governa atualmente o município, envolvido em atos de improbidade.

Com a aprovação das contas de Sposito, o Poder Legislativo descalvadense acabou "perdoando" um dos responsáveis pela dívida milionária deixada pelos antigos administradores, e deixando ainda a conta para ser paga pelos contribuintes e servidores municipais. Durante os momentos que antecederam a votação, o Presidente da Câmara, vereador Luis Guilherme Panone (PSD), usou a Tribuna para manifestar o seu apoio ao ex prefeito interino, e disse acreditar que as compensações serão analisadas e declaradas regulares pela Receita Federal. Vale ressaltar que o Presidente da Câmara é filho de um dos réus no processo que tramita na justiça, juntamente com o ex prefeito interino.
 

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