"O
povo cansou de tanto desiludir-se. Chegou a hora da verdade." Lembro-me
dessas palavras de Mário Covas em seu discurso de posse como governador
de São Paulo, em 1º de janeiro de 1995. Eram tempos difíceis; havia
necessidade de mudar o panorama da gestão pública para superar décadas
de crise econômica e social no país. Dávamos,
então, os primeiros passos rumo à estabilidade e devemos muito do que
conseguimos nos anos seguintes à coragem e à ousadia de nosso
governador.
Duas décadas se
passaram, muitos rumos foram prometidos e tentados no Brasil, e aqui
estamos na maior crise econômica da nossa história, que maltrata a
população e a faz ter medo do futuro.
Farra fiscal, gasto
público de má qualidade e o ilusionismo como política econômica
produziram o imenso desastre que teve a sua apoteose em 2016. No país
com mais de 12 milhões de desempregados, respiramos o desânimo de um ano
que parece não ter fim.
Se 2016 teve
acontecimento positivo, foi a demonstração de que os cidadãos não mais
toleram proezas irresponsáveis com a coisa pública. Essa ampla
conscientização recolocará o Brasil na trilha da responsabilidade. Os
brasileiros já não aceitarão a doce, mas destrutiva, embriaguez do
populismo.
A população exige que
seus governantes sejam bons gestores. Ao Estado cabe induzir o
desenvolvimento, prestar serviços de qualidade e descomplicar a vida
daqueles que geram empregos e renda.
Em São Paulo, a
responsabilidade fiscal é lei há mais de 20 anos. O Estado não gasta
mais do que arrecada, não atrasa salários e não suspende serviços
essenciais. Investimentos em obras de infraestrutura essenciais, como o
Rodoanel e o Metrô, geram 180 mil empregos sem produzir deficit.
Em dezembro, entregamos
as primeiras unidades habitacionais (de um total de 3.683) erguidas no
centro da capital em parceria com a iniciativa privada, para famílias de
baixa renda.
Temos fôlego e vamos
entregar, em 2017, 11 estações do metrô e cinco do VLT da Baixada
Santista. As nove estações novas da linha 5-Lilás vão colocar mais 500
mil passageiros/dia no sistema metroferroviário paulista, que transporta
75% de todos os passageiros que viajam em trens urbanos no Brasil.
A rede estadual de
saúde, referência nacional de qualidade, chegará a 101 hospitais com a
inauguração das oito unidades em construção. Em 2017, esperamos a boa
notícia da aprovação da vacina tetravalente contra a dengue, produzida
com tecnologia nacional pelo Instituto Butantan, hoje em fase final de
testes.
Também dão frutos os
investimentos na educação. Em 2016, São Paulo foi o primeiro Estado a
ocupar simultaneamente o topo do ranking nacional de qualidade nos três
ciclos do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Estamos
no caminho correto, mas é preciso melhorar mais.
O exemplo tem de vir de
cima. Por isso, congelamos os salários do governador, vice e
secretários. Caso se aplicasse reajuste pela inflação, o efeito cascata
sobre altos salários do Estado tiraria dinheiro da educação, da saúde e
de serviços essenciais.
O futuro é o que
plantamos. Fizemos em 2013 a reforma da Previdência paulista. Em 2015 e
2016, antecipamos o ajuste que garantiu a saúde financeira do Estado.
Em novembro, com aval do
Banco Mundial, lançamos um pacote de concessões de rodovias e aeroportos
que supera R$ 10 bilhões em investimentos. Dinheiro novo, privado e sem
endividamento.
É necessário ter
otimismo para superar a crise, mas não basta. Precisamos superá-la como
São Paulo superou a maior crise hídrica da história do Sudeste: com a
participação da população e investimento em obras estruturantes, que
geram competitividade e empregos.
O povo cansou de
desiludir-se. Os desafios da hora exigem qualidade de gestão e coragem
política redobradas. Tenho em mente as palavras de um grande brasileiro
que nos deixou há pouco, dom Paulo Evaristo Arns: "A crise é um momento
de mudanças qualitativas".
O sábio arcebispo
emérito recomendava viver com coragem e esperança, sempre.
GERALDO
ALCKMIN (PSDB) é governador do Estado de São Paulo desde 2011. Também
ocupou o cargo de 2001 a 2006. Foi deputado estadual (1983-1987) e
federal (1987-1995).
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