20/12/2015 (19h00)

DE TUDO PARA TODOS

Seguindo carreira solo, Daniel San fala com exclusividade ao Descalvado News

Ex vocalista do Sambô contou sobre a decisão de sair do grupo, da família, da infância em Descalvado e do seu novo projeto artístico, que agora segue com o nome de Sandamí. DVD será lançado em janeiro pela Som Livre.

Foi num clima de muita alegria e descontração que o ex vocalista do grupo Sambô, Daniel San, ou melhor, o Sandamí, recebeu no final do mês de novembro, a equipe do DESCALVADO NEWS no camarim da casa de shows 'Jongo Reverendo', em São Paulo, onde aconteceu um show para fãs, amigos e todos que curtem boa música e muita diversão. O "ensaio" contou com a participação de vários fãs clubes do intérprete, que vieram de várias regiões do país para curtir a apresentação do artista.

Demonstrando muita animação nesta nova fase da sua carreira, Sandamí - que completou neste ano de 2015 quarenta anos de idade - contou como foi a decisão de sair do Sambô,

da família ['San' é casado a cerca de 15 anos com a jornalista Mara Conti, com quem tem uma filha de 4 anos], e da sua infância e pré adolescência em Descalvado. Acompanhe a entrevista feita pelo Diretor Geral de Jornalismo do DESCALVADO NEWS, Mário Zambelli.

DESCALVADO NEWS (DN) - COMO FOI O SEU PRIMEIRO CONTATO COM A MÚSICA? NÓS DESCALVADENSES TEMOS VÁRIAS LEMBRANÇAS SUA DESDE PEQUENO E SEMPRE MUITO LIGADO À MUSICALIDADE...
SANDAMÍ - Pois é, Descalvado foi meu início com a música, foi ali mesmo! Claro, através dos meus pais; minha mãe foi porta bandeiras por três anos da Anbraskol, junto com o 'Talaia', junto com um cara do Rio que foi pra lá e mudou todo o esquema da escola, e meu pai, sempre aquele festeiro ao lado dos irmãos dele, o 'Paulinho' e o 'Celsinho', que faziam malabares com o pandeiro. Então, todo ano a gente se preparava pra sair na avenida! O meu começo com a música foi numa escola de samba!

DN - E O QUE NÃO SAI DAS NOSSAS LEMBRANÇAS É AQUELA IMAGEM SUA COM UM PANDEIRO NA MÃO, NÃO É MESMO?
SANDAMÍ - Pois é, tem vários vídeos desse tempo da escola de samba lá em Descalvado! Tinha uma época que a escola subia a avenida em vez de descer. Era um negócio surreal, e ver essas imagens pra mim é um negócio importantíssimo na minha vida!

DN - E AÍ A PARTIR DISSO VOCÊ ACABOU INDO ESTUDAR FORA, CORRETO?
SANDAMÍ - A minha infância toda foi com o samba! Quando eu fui pra Campinas eu tocava pandeiro, então o Ciro - que até está aqui no show de hoje -, me levava quando eu tinha oito anos pra fazer malabares com o pandeiro junto com mulatas e participar da banda dele, que chamava 'Clave do Samba'. Então eu entrava como participante mirim, porque com oito anos eu não podia ficar a noite inteira na balada. Então eu entrava, fazia a participação com as mulatas e já tinha que ir embora. É claro que junto com o meu pai, a gente dava umas escapadinhas e tal... [risos], o que acabou gerando muitos problemas pra mim e para eles! Mas eu comecei a estudar música de fato em São Carlos, na Cemusi, onde eu comecei a estudar bateria. Nessa época eu já estava com uns quatorze anos.

DN - FOI A PARTIR DESSE PONTO QUE PODEMOS DIZER QUE VOCÊ COMEÇOU A ENCARAR A MÚSICA COMO PROFISSÃO?
SANDAMÍ - A verdade é que tudo o que eu fiz fora da música foi uma aventura errada! Eu fui frentista no posto vizinho da casa da minha avó por dois dias, porque na verdade eu gostava mesmo era do macacão da galera sabe! Então, a minha avó comprou um macacão pra mim eu fiquei ali lavando vidro por uns dois dias e aí não gostei e parei! Depois eu namorei a Cylzer que tinha um escritório de contabilidade e fui ser office boy do escritório por um tempo. Essas foram as minhas duas únicas profissões fora da música! Daí eu fui estudar violão, estudei um pouco de harmonia, de piano, fiz umas aulas com o Zé Carlos [Adorno], com a Fátima, e fui indo devagarzinho. Mas eu acredito que meu grande talento tenha sido até hoje o ouvido! Eu nunca fui um bom estudioso da música! Por mais que eu saiba um pouquinho, eu me considero um autodidata. Eu sempre quis aprender mil instrumentos, mas nunca me dediquei a um só! Até o cantar pra mim veio muito de repente! Eu nunca me imaginei cantando, e de repente eu comecei a cantar porque faltou cantor, então eu comecei a fazer 'backing vocal' e aí foi acontecendo. A partir disso você vai deixando uns instrumentos, pegando outros,e a cada época eu acho que fui melhorando um pouquinho em um determinado instrumento. Tem época que toco mais violão, em outras mais percussão ou bateria, e aí eu acabo estudando um pouco mais.

DN - NA SUA CASA VOCÊ TEM QUAIS INSTRUMENTOS? QUAL VOCÊ SE DEDICA MAIS?
SANDAMÍ - Eu acho que é o violão e o canto que eu mais pratico, vamos dizer assim! Mais eu tenho quase todos os instrumentos: tenho piano, tenho contrabaixo, violão, cavaquinho, um monte de percussão, e de vez em quando eu pego um pouquinho de cada um! E como eu disse: não me considero um instrumentista de nenhum destes instrumentos, sou um aventureiro em cada um deles. E hoje eu estou é cantando, estou sendo a linha de frente de um projeto, assim como eu fui do Sambô, por exemplo.

DN - E COMO FOI ESTAR NO SAMBÔ?
SANDAMÍ - Eu não entrei pra ser o cantor da banda! Eu entrei pra ser o percussionista. Era o Zé da Paz que era o cantor, mas aí eu fui fazendo vocal, então pintou essa história de tocar o rock com o samba, que foi uma coisa que não veio da cabeça de ninguém da banda. A gente tava fazendo um pagode, animando o aniversário de um amigo, quando os convidados dessa festa acabaram pedindo em tom de brincadeira: "pô toca raul, toca led zeppelin, toca isso, toca aquilo", e agente acabou arriscando com aqueles instrumentos que a gente tinha, e deu no que deu!

DN - QUE ANO FOI ISSO?
SANDAMÍ - Foi em 2005, eu tava chegando do Rio de Janeiro, que eu tive uma banda com o Sudu [baterista do Sambô], que chama "Côa", e mais três músicos, inclusive o Tiago Adorno lá de Descalvado, que também foi comigo pro Rio! E deu tudo errado lá, a gente passou um perrengue lascado lá!

DN - VOCÊS FICARAM MUITO TEMPO NO RIO?
SANDAMÍ - Ficamos um ano! Foi o tempo que o bolso aguentou! A gente não conseguia trabalhar, dava tudo errado, o cachê que a gente descolava era de R$ 300, pra dividir com banda inteira! Era um perrengue mesmo! A gente ia tocar de circular pra você ter uma idéia! Ficávamos no ponto [de onibus] com bateria, percussão, guitarra, amplificador... tudo! Parávamos o ônibus, pedia pro motorista esperar pra poder botar tudo lá, e aí a gente ia! Naquela época nós não queríamos dar preocupações pra nossa família sabe? Então pra eles tava tudo bem, a gente falava que tava tudo bem, e hoje a gente sorri muito diante de tudo isso! Agora a gente já pode falar!

DN - MAS VOLTANDO AO SAMBÔ, QUANDO FOI QUE VOCÊS PERCEBERAM QUE O SUCESSO HAVIA SIDO CONQUISTADO?
SANDAMÍ - Então, a gente ficou aí por quase 10 anos! Tocamos em todos os lugares do Brasil e foi muito bacana! Mas a gente viu que tinha dado certo mesmo quando nós fizemos um 'CDzinho demo' pra espalhar pros nosso amigos de festas, e isso se espalhou dentro do nosso meio. A gente já tava tocando bastante na região de Ribeirão Preto, e daí a gente foi fazer uma festa corporativa num hotel na Bahia. Nós estávamos nadando lá na praia e passou um ambulante com o CD do Sambô, bem na nossa frente! Isso aí pra gente foi o termômetro, de que a coisa tava realmente estava acontecendo. E aí todo mundo abraçou [o estilo da banda] e a novidade que foi, pelo repertório que a gente montou e que é um repertório que agora todo mundo conhece! O mercado tava precisando disso!

DN - VOCÊ CONSIDERA QUE QUANDO O SAMBÔ ESTOUROU, VOCÊS ACABARAM TRAZENDO O OLHAR DO PÚBLICO DE VOLTA PARA O SAMBA?
SANDAMÍ - Na verdade eu não sei se a gente trouxe um olhar comercial pro samba ou se a gente trouxe um olhar pro rock sabe, porque tinha muita gente que não conhecia um monte de músicas que a gente tocava no Sambô, tipo Janis Joplin e James Brown, a maioria das pessoas não conhecia! Eu digo do popular mesmo sabe, a galera que está acostumada a ouvir outras coisas, elas não estavam acostumadas a ouvir o rock'n roll. E agente trouxe esse pulso forte do rock com o ritmo de samba, então é um negócio que a gente fica meio em dúvida! A gente trouxe a popularidade do samba mais à tona, ou se foi o rock que a gente colocou em evidência? Porque muita gente acabou vindo a conhecer músicas que uma galera não conhecia. A gente nunca quis rótulo nenhum sabe? Por mais que o Sambô era uma banda rotulada - fazia parte do segmento pagode ou samba -, a gente não gostava desse rótulo. Tanto é que eu saí do grupo pra eu abrir o meu leque musical sabe?
 
DN - QUANDO VOCÊ TOMOU A DECISÃO DE SEGUIR UMA CARREIRA SOLO?
SANDAMÍ - Eu já vinha pensando nisso ha muito tempo! Ano a ano eu gravo meus trabalhos autorais, e eles sempre ficavam na gaveta. Eu tenho hoje quatro discos com músicas autorais, e todos na gaveta, sem possibilidade de trabalhar porque no Sambô a gente tocava demais! Então era uma opção que eu tinha pra colocar esses projetos pra frente!

DN - E O QUE VOCÊ PRETENDE NESSA SUA NOVA EMPREITADA?
SANDAMÍ - Hoje o que que eu tô fazendo nesse show, que chama 'De tudo pra todos'? É tudo o que eu já vivi, toda história e todas as passagens da minha vida, pra todo mundo! Tem lembranças que eu trago da Banda Hollywood, que foi a minha primeira banda de baile, Unidade 2... E eu ainda tô montando esse projeto! É claro que num show com quinze músicas você não consegue mostrar tudo, mas eu tô passando pelo samba, pelo baião, pelo pop, pelo rock... eu tô fazendo aquela música sem limite, e com repertório que eu adoro e que eu vivi e já toquei em uma o outra ocasião! E isso que eu estou tentando fazer, e é claro que esse show ainda está nascendo! Eu gravei um DVD com quinze músicas e ficou animal! Vai ser lançado pela Som Livre em janeiro, que leva o mesmo nome do meu show.

DN - ONDE FOI GRAVADO O DVD?
SANDAMÍ - A gente gravou em um estúdio. Construímos uma história meio que surreal ali! Eu queria um ambiente totalmente habitável pro cenário do show, então eu montei como se fosse uma sala com poltrona, com televisão, com uma mesinha, enfim uma sala, onde nela vive um casal e a gente toca nesse ambiente. Então enquanto a gente toca, esse casal tá interagindo o tempo inteiro com as músicas, de uma forma ou de outra, em sintonia, mas cada uma na sua dimensão, como se fosse duas dimensões separadas. A gente está bem confiante nesse novo trabalho!

DN - E O POR QUE DE UM NOVO NOME ARTÍSTICO? O QUE ELE SIGNIFICA PRA VOCÊ?
SANDAMÍ - Meu nome é Daniel Santiago, então é a inicial do meu sobrenome, "San" como sempre foi usado, e em especial em Descalvado, já que é assim que todo mundo me conhece! E lá em Descalvado, você mais do que ninguém aqui, sabe que é uma cidade pequena e onde todo mundo se conhece, e sabe de que família você é. Quando você encontra alguém andando na rua em Descalvado, geralmente o pessoal pergunta "você é de quem, bem?", daí você tem que explicar que você é filho da Bernadete, parente de num sei quem, e por aí vai. E a minha avô se chama Maria Eliza, e ela tá com 91 anos, quase 92, e é o alicerce da nossa família, eu gosto dela demais! Ela reúne geral, ela dá bronca, ela põe pra cima, faz de tudo ali com a família! Então é uma homenagem à ela: 'San' da 'Mí', como muitos a conhecem, e que é um nome que eu já usava desde o meu primeiro e-mail.
 
DN - QUANDO NÓS CHEGAMOS AQUI, EU ME DEPAREI COM UM MONTE DE GENTE COM CAMISETAS DE FÃ CLUBES SEU. COMO É A SUA RELAÇÃO COM OS FÃS?
SANDAMÍ - Nossa, fã clube é uma coisa que eu nunca imaginei ter! Esse pessoal tá trabalhando espontaneamente pra levar a minha música para a maior distância possível! Hoje aqui no show tem fã clube de alguns lugares do nordeste, tem de Fortaleza, do Rio de Janeiro, enfim, veio gente de muito longe! É um negócio surreal, você não faz idéia! Essas pessoas divulgam,
fazem panfletos, ficam panfletando durante shows! Eu adoro isso, e faz parte do meu trabalho. Eu fico muito grato e só tenho que agradecer e apoiar essas pessoas que estão levando o meu trabalho pra cima!

DN - E QUAL A SUA EXPECTATIVA AGORA?
SANDAMÍ - É trabalho em cima de trabalho! Eu vou fazer esse primeiro DVD, vou sentir a resposta do público... É claro que eu to aberto a receber todo tipo de elogio e críticas pra esse trabalho. Tem muita gente que fala "meu você não podia ter saído do Sambô, era a sua cara", mas também tem muita gente que não gostava do meu trabalho lá, dizia que eu tinha que fazer o meu som. Então eu segui meu coração e vou fazer o que eu quero! Eu acho que eu tenho esse direito hoje, depois de muito tempo, de fazer o que eu quero! É claro que eu não cheguei exatamente aonde eu quero, porque a transição é difícil! As pessoas hoje me chamam na rua de Sambô, não pelo meu nome! Então, a coisa mais difícil hoje em dia é eu trabalhar com o meu nome. Eu nem tenho tanto problema com a sonoridade, mas na hora de divulgar uma festa, você fala que vai ter o show do Sandamí, e aí alguém pergunta "pô, mas quem é ele?". Ainda você tem que acabar falando que você é o ex vocalista do Sambô, então essa transição leva um pouco de tempo, mas é natural, e eu já esperava por isso!

DN - SAN, MUITO OBRIGADO PELA ENTREVISTA! NÓS DO DESCALVADO NEWS DESEJAMOS À VOCÊ MUITO SUCESSO NESTA SUA NOVA JORNADA, E O PESSOAL DE DESCALVADO CERTAMENTE TAMBÉM ESTÁ LÁ NA TORCIDA! SUCESSO!!!
SANDAMÍ - Pôxa, muito obrigado vocês! E pra galera de Descalvado, eu vivo passando por aí viu gente! Mas é que eu fico muito tempo sem ver a minha família, então eu não saio muito de casa quando eu vou pra aí! Eu visito minha mãe, minha avó, minha tia e todo mundo que eu tenho que ver, e aí não dá pra ver todo mundo! Mas eu tô louco pra fazer um show em Descalvado, como ia rolar ha um tempo atrás mas acabou não dando certo, e tenho certeza que agora as coisas dependem bem mais de mim pra eu fazer esse show. Vou fazer ele custe o que custar! Eu tenho a maior saudade de tudo, dos sons que eu fazia no coreto, nas garagens dos amigos, dos bailinhos! As minhas músicas falam muito dessa história, das coisas que eu vivi! A música que eu vou abrir o show aqui hoje se chama 'Vida Longa', e que fala exatamente sobre isso: "Quero ter a vida longa, pra ver tudo o que eu fiz e por tudo ter valido a pena! Lembrar dos momentos que foram marcados em mim: da poeira que quando eu passei levantou, e brindar essa caminhada", e Descalvado faz parte desse brinde! Eu tenho tudo ali: tenho amigos, família, história, tenho tudo ali! Tem muita gente que fala "pô mais quando você dá entrevista você fala que nasceu em Bauru!", e é verdade, porque eu nasci em Bauru! Eu fui com seis anos pra Descalvado. Foi quando os meus pais se separaram e eu fui morar lá com a minha mãe. Portanto minhas melhores lembranças são de lá! Um abraço enorme pra todos vocês! Saudade de todos vocês!!!
 

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