da família ['San' é
casado a cerca de 15 anos com a jornalista Mara Conti, com quem
tem uma filha de 4 anos], e da sua infância e pré adolescência
em Descalvado. Acompanhe a entrevista feita pelo Diretor Geral
de Jornalismo do
DESCALVADO NEWS,
Mário Zambelli.
DESCALVADO NEWS (DN) - COMO FOI O SEU PRIMEIRO CONTATO COM A
MÚSICA? NÓS DESCALVADENSES TEMOS VÁRIAS LEMBRANÇAS SUA DESDE
PEQUENO E SEMPRE MUITO LIGADO À MUSICALIDADE...
SANDAMÍ - Pois é, Descalvado foi meu início com a música, foi
ali mesmo! Claro, através dos meus pais; minha mãe foi porta
bandeiras por três anos da Anbraskol, junto com o 'Talaia', junto
com um cara do Rio que foi pra lá e mudou todo o esquema da escola,
e meu pai, sempre aquele festeiro ao lado dos irmãos dele, o
'Paulinho' e o 'Celsinho', que faziam malabares com o pandeiro.
Então, todo ano a gente se preparava pra sair na avenida!
O meu começo com a música foi numa escola de samba!
DN - E O QUE NÃO
SAI DAS NOSSAS LEMBRANÇAS É AQUELA IMAGEM SUA COM UM
PANDEIRO NA MÃO, NÃO É MESMO?
SANDAMÍ - Pois é, tem vários vídeos desse tempo da escola de
samba lá em Descalvado! Tinha uma época que a escola subia a
avenida em vez de descer. Era um negócio surreal, e ver
essas imagens pra mim é um negócio importantíssimo na minha
vida!
DN - E AÍ A PARTIR
DISSO VOCÊ ACABOU INDO ESTUDAR FORA, CORRETO?
SANDAMÍ - A minha infância toda foi com o samba! Quando eu fui
pra Campinas eu tocava pandeiro, então o Ciro - que até
está aqui no show de hoje -, me levava quando eu tinha oito anos
pra fazer malabares com o pandeiro junto com mulatas e
participar da banda dele, que chamava 'Clave do Samba'. Então eu
entrava como participante mirim, porque com oito anos eu não
podia ficar a noite inteira na balada. Então eu entrava, fazia a
participação com as mulatas e já tinha que ir embora. É claro
que junto com o meu pai, a gente dava umas escapadinhas e tal...
[risos], o que acabou gerando muitos problemas pra mim
e para eles! Mas eu comecei a estudar música de fato
em São Carlos, na Cemusi, onde eu comecei a
estudar bateria. Nessa época eu já estava com uns
quatorze anos.
DN - FOI A PARTIR
DESSE PONTO QUE PODEMOS DIZER QUE VOCÊ COMEÇOU A ENCARAR A
MÚSICA COMO PROFISSÃO?
SANDAMÍ - A verdade é que tudo o que eu fiz fora da música foi
uma aventura errada! Eu fui frentista no posto vizinho da casa
da minha avó por dois dias, porque na verdade eu gostava mesmo
era do macacão da galera sabe! Então, a minha avó comprou um
macacão pra mim eu fiquei ali lavando vidro por uns dois dias e aí
não gostei e parei! Depois eu namorei a Cylzer que tinha um
escritório de contabilidade e fui ser office boy do
escritório por um tempo. Essas foram as minhas duas
únicas profissões fora da música! Daí eu fui estudar violão,
estudei um pouco de harmonia, de piano, fiz umas aulas com o Zé
Carlos [Adorno], com a Fátima, e fui indo devagarzinho. Mas eu
acredito que meu grande talento tenha sido até hoje o ouvido!
Eu nunca fui um bom estudioso da música! Por mais que eu
saiba um pouquinho, eu me considero um autodidata. Eu sempre
quis aprender mil instrumentos, mas nunca me dediquei a um só!
Até o cantar pra mim veio muito de repente! Eu nunca me
imaginei cantando, e de repente eu comecei a cantar porque faltou
cantor, então eu comecei a fazer 'backing vocal' e aí foi
acontecendo. A partir disso você vai deixando uns instrumentos,
pegando outros,e a cada época eu acho que fui
melhorando um pouquinho em um determinado instrumento. Tem
época que toco mais violão, em outras mais percussão ou bateria,
e aí eu acabo estudando um pouco mais.
DN - NA SUA CASA
VOCÊ TEM QUAIS INSTRUMENTOS? QUAL VOCÊ SE DEDICA MAIS?
SANDAMÍ - Eu acho que é o violão e o canto que eu mais pratico,
vamos dizer assim! Mais eu tenho quase todos os instrumentos:
tenho piano, tenho contrabaixo, violão, cavaquinho, um monte de
percussão, e de vez em quando eu pego um pouquinho de cada
um! E como eu disse: não me considero um instrumentista de
nenhum destes instrumentos, sou um aventureiro em cada um deles.
E hoje eu estou é cantando, estou sendo a linha
de frente de um projeto, assim como eu fui do Sambô, por exemplo.
DN - E COMO FOI
ESTAR NO SAMBÔ?
SANDAMÍ - Eu não entrei pra ser o cantor da banda! Eu entrei pra
ser o percussionista. Era o Zé da Paz que era o cantor, mas aí
eu fui fazendo vocal, então pintou essa história de tocar o rock
com o samba, que foi uma coisa que não veio da cabeça de ninguém
da banda. A gente tava fazendo um pagode, animando o aniversário
de um amigo, quando os convidados dessa festa acabaram pedindo
em tom de brincadeira: "pô toca raul, toca led zeppelin, toca
isso, toca aquilo", e agente acabou arriscando com aqueles
instrumentos que a gente tinha, e deu no que deu!
DN - QUE ANO FOI
ISSO?
SANDAMÍ - Foi em 2005, eu tava chegando do Rio de Janeiro, que
eu tive uma banda com o Sudu [baterista do Sambô], que chama
"Côa", e mais três músicos, inclusive o Tiago Adorno lá de
Descalvado, que também foi comigo pro Rio! E deu tudo errado lá,
a gente passou um perrengue lascado lá!
DN - VOCÊS FICARAM
MUITO TEMPO NO RIO?
SANDAMÍ - Ficamos um ano! Foi o tempo que o bolso aguentou! A
gente não conseguia trabalhar, dava tudo errado, o cachê que a
gente descolava era de R$ 300, pra dividir com banda
inteira! Era um perrengue mesmo! A gente ia tocar de circular
pra você ter uma idéia! Ficávamos no ponto [de onibus] com bateria,
percussão, guitarra, amplificador... tudo! Parávamos o ônibus,
pedia pro motorista esperar pra poder botar tudo lá, e aí a gente
ia! Naquela época nós não queríamos dar
preocupações pra nossa família sabe? Então pra eles
tava tudo bem, a gente falava que tava tudo bem, e hoje a
gente sorri muito diante de tudo isso! Agora a gente já pode falar!
DN - MAS VOLTANDO
AO SAMBÔ, QUANDO FOI QUE VOCÊS PERCEBERAM QUE O SUCESSO HAVIA
SIDO CONQUISTADO?
SANDAMÍ - Então, a gente ficou aí por quase 10 anos! Tocamos
em todos os lugares do Brasil e foi muito bacana! Mas a gente
viu que tinha dado certo mesmo quando nós fizemos um 'CDzinho
demo' pra espalhar pros nosso amigos de festas, e isso se
espalhou dentro do nosso meio. A gente já tava tocando bastante
na região de Ribeirão Preto, e daí a gente foi fazer uma festa
corporativa num hotel na Bahia. Nós estávamos nadando lá na
praia e passou um ambulante com o CD do Sambô, bem na nossa frente!
Isso aí pra gente foi o termômetro, de que a coisa tava
realmente estava acontecendo. E aí todo mundo abraçou [o estilo da banda] e
a novidade que foi, pelo repertório que a gente montou e que é um repertório que
agora todo mundo conhece! O mercado tava precisando disso!
DN - VOCÊ
CONSIDERA QUE QUANDO O SAMBÔ ESTOUROU, VOCÊS ACABARAM TRAZENDO O
OLHAR DO PÚBLICO DE VOLTA PARA O SAMBA?
SANDAMÍ - Na verdade eu não sei se a gente trouxe um olhar
comercial pro samba ou se a gente trouxe um olhar pro rock sabe,
porque tinha muita gente que não conhecia um monte de músicas que
a gente tocava no Sambô, tipo Janis Joplin e James Brown, a
maioria das pessoas não conhecia! Eu digo do popular mesmo sabe,
a galera que está acostumada a ouvir outras coisas, elas não
estavam acostumadas a ouvir o rock'n roll. E agente trouxe esse
pulso forte do rock com o ritmo de samba, então é um negócio que
a gente fica meio em dúvida! A gente trouxe a popularidade do
samba mais à tona, ou se foi o rock que a gente colocou em
evidência? Porque muita gente acabou vindo a conhecer músicas que uma
galera não conhecia. A gente nunca quis rótulo nenhum sabe? Por
mais que o Sambô era uma banda rotulada - fazia parte do
segmento pagode ou samba -, a gente não gostava desse rótulo.
Tanto é que eu saí do grupo pra eu abrir o meu leque
musical sabe?
DN -
QUANDO VOCÊ TOMOU A DECISÃO DE SEGUIR UMA CARREIRA SOLO?
SANDAMÍ - Eu já vinha pensando nisso ha muito tempo! Ano
a ano eu gravo meus trabalhos autorais, e eles sempre
ficavam na gaveta. Eu tenho hoje quatro discos com
músicas autorais, e todos na gaveta, sem possibilidade
de trabalhar porque no Sambô a gente tocava demais!
Então era uma opção que eu tinha pra colocar esses
projetos pra frente! |
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DN - E O QUE VOCÊ
PRETENDE NESSA SUA NOVA EMPREITADA?
SANDAMÍ - Hoje o que que eu tô fazendo nesse show, que chama 'De
tudo pra todos'? É tudo o que eu já vivi, toda história e todas
as passagens da minha vida, pra todo mundo! Tem lembranças
que eu trago da Banda Hollywood, que foi a minha primeira banda
de baile, Unidade 2... E eu ainda tô montando esse projeto!
É claro que num show com quinze músicas você não consegue
mostrar tudo, mas eu tô passando pelo samba, pelo baião, pelo
pop, pelo rock... eu tô fazendo aquela música sem limite, e
com repertório que eu adoro e que eu vivi e já toquei em uma o
outra ocasião! E isso que eu estou tentando fazer, e é claro que
esse show ainda está nascendo! Eu gravei um DVD com quinze
músicas e ficou animal! Vai ser lançado pela Som Livre em
janeiro, que leva o mesmo nome do meu show.
DN - ONDE FOI
GRAVADO O DVD?
SANDAMÍ - A gente gravou em um estúdio. Construímos uma história
meio que surreal ali! Eu queria um ambiente totalmente habitável
pro cenário do show, então eu montei como se fosse uma sala com
poltrona, com televisão, com uma mesinha, enfim uma sala, onde
nela vive um casal e a gente toca nesse ambiente. Então enquanto
a gente toca, esse casal tá interagindo o tempo inteiro com as
músicas, de uma forma ou de outra, em sintonia, mas cada uma
na sua dimensão, como se fosse duas dimensões separadas. A gente
está bem confiante nesse novo trabalho!
DN - E O POR QUE
DE UM NOVO NOME ARTÍSTICO? O QUE ELE SIGNIFICA PRA VOCÊ?
SANDAMÍ - Meu nome é Daniel Santiago, então é a inicial do meu
sobrenome, "San" como sempre foi usado, e em especial
em Descalvado, já que é assim que todo
mundo me conhece! E lá em Descalvado, você mais do que
ninguém aqui, sabe que é uma cidade pequena e onde todo mundo se
conhece, e sabe de que família você é. Quando você encontra
alguém andando na rua em Descalvado, geralmente o pessoal
pergunta "você é de quem, bem?", daí você tem que explicar que
você é filho da Bernadete, parente de num sei quem, e por aí
vai. E a minha avô se chama Maria Eliza, e ela tá com 91 anos,
quase 92, e é o alicerce da nossa família, eu gosto dela demais!
Ela reúne geral, ela dá bronca, ela põe pra cima, faz de tudo
ali com a família! Então é uma homenagem à ela: 'San' da 'Mí',
como muitos a conhecem, e que é um nome que eu já usava desde o
meu primeiro e-mail.
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DN -
QUANDO NÓS CHEGAMOS AQUI, EU ME DEPAREI COM UM MONTE DE
GENTE COM CAMISETAS DE FÃ CLUBES SEU. COMO É A SUA
RELAÇÃO COM OS FÃS?
SANDAMÍ - Nossa, fã clube é uma coisa que eu nunca
imaginei ter! Esse pessoal tá trabalhando
espontaneamente pra levar a minha música para a maior
distância possível! Hoje aqui no show tem fã clube de
alguns lugares do nordeste, tem de Fortaleza, do Rio de
Janeiro, enfim, veio gente de muito longe! É um negócio
surreal, você não faz idéia! Essas pessoas divulgam, |
fazem
panfletos, ficam panfletando durante shows! Eu
adoro isso, e faz parte do meu trabalho. Eu fico
muito grato e só tenho que agradecer e apoiar essas
pessoas que estão levando o meu trabalho pra cima! |
DN - E QUAL A SUA
EXPECTATIVA AGORA?
SANDAMÍ - É trabalho em cima de trabalho! Eu vou fazer esse
primeiro DVD, vou sentir a resposta do público... É claro que eu
to aberto a receber todo tipo de elogio e críticas pra esse
trabalho. Tem muita gente que fala "meu você não podia ter saído
do Sambô, era a sua cara", mas também tem muita gente que não
gostava do meu trabalho lá, dizia que eu tinha que fazer o meu
som. Então eu segui meu coração e vou fazer o que eu quero! Eu
acho que eu tenho esse direito hoje, depois de muito tempo, de
fazer o que eu quero! É claro que eu não cheguei exatamente
aonde eu quero, porque a transição é difícil! As pessoas hoje me
chamam na rua de Sambô, não pelo meu nome! Então, a coisa mais
difícil hoje em dia é eu trabalhar com o meu nome. Eu nem tenho
tanto problema com a sonoridade, mas na hora de divulgar uma
festa, você fala que vai ter o show do Sandamí, e aí alguém
pergunta "pô, mas quem é ele?". Ainda você tem que acabar
falando que você é o ex vocalista do Sambô, então essa transição
leva um pouco de tempo, mas é natural, e eu já esperava por
isso!
DN - SAN, MUITO
OBRIGADO PELA ENTREVISTA! NÓS DO DESCALVADO NEWS DESEJAMOS À
VOCÊ MUITO SUCESSO NESTA SUA NOVA JORNADA, E O PESSOAL DE
DESCALVADO CERTAMENTE TAMBÉM ESTÁ LÁ NA TORCIDA! SUCESSO!!!
SANDAMÍ - Pôxa, muito obrigado vocês! E pra galera de
Descalvado, eu vivo passando por aí viu gente! Mas é que eu
fico muito tempo sem ver a minha família, então eu não saio
muito de casa quando eu vou pra aí! Eu visito minha mãe, minha
avó, minha tia e todo mundo que eu tenho que ver, e aí não dá
pra ver todo mundo! Mas eu tô louco pra fazer um show em
Descalvado, como ia rolar ha um tempo atrás mas acabou não dando
certo, e tenho certeza que agora as coisas dependem bem mais de
mim pra eu fazer esse show. Vou fazer ele custe o que custar! Eu
tenho a maior saudade de tudo, dos sons que eu fazia no coreto,
nas garagens dos amigos, dos bailinhos! As minhas músicas falam
muito dessa história, das coisas que eu vivi! A música que eu
vou abrir o show aqui hoje se chama 'Vida Longa', e que fala
exatamente sobre isso: "Quero ter a vida longa, pra ver tudo
o que eu fiz e por tudo ter valido a pena! Lembrar dos
momentos que foram marcados em mim: da poeira que quando eu
passei levantou, e brindar essa caminhada", e Descalvado faz
parte desse brinde! Eu tenho tudo ali: tenho amigos, família,
história, tenho tudo ali! Tem muita gente que fala "pô mais
quando você dá entrevista você fala que nasceu em Bauru!", e é
verdade, porque eu nasci em Bauru! Eu fui com seis anos pra
Descalvado. Foi quando os meus pais se separaram e eu fui morar
lá com a minha mãe. Portanto minhas melhores lembranças são de
lá! Um abraço enorme pra todos vocês! Saudade de todos vocês!!!
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