Desde o dia 25 de março o Shopping Iguatemi, em São Carlos, está
barrando a entrada de adolescentes desacompanhados dos pais ou
responsáveis aos fins de semana.
A medida, segundo a
assessoria de imprensa do centro de compras, foi tomada prezando a
segurança e tranquilidade dos adolescentes, clientes, colaboradores e
também dos lojistas, que relataram que o grande fluxo de jovens aos
sábados e domingos atrapalhava as vendas.
“As pessoas têm que pensar
que o shopping é privado, e não público. É uma empresa que visa ao
lucro. Esse ‘rolezinho’ virou bagunça, ficou fora do controle dos
seguranças. Havia consumo de drogas e bebidas nas dependências do
shopping, o que acabava se tornando uma responsabilidade para ele",
disse uma vendedora de loja que pediu para não ser identificada.
“Nunca vi adolescentes
bebendo em frente à loja, mas tinha algumas crianças que passavam em
frente falando ‘vamos ali no estacionamento que tem bebida’. E, sempre
que passava pelo ponto de ônibus, por volta das 22h, tinha alguns
bebendo”, relatou outro vendedor.
Um terceiro funcionário
contou que o grande fluxo de adolescentes não se refletia em vendas.
“Esse movimento não gera lucro para os comerciantes, muito pelo
contrário. Quem iria com o intuito de passear e gastar simplesmente não
ia por conta da bagunça. A cidade é precária no quesito lazer, todos
entendemos e concordamos, mas isso não é culpa do shopping”.
'LAMENTÁVEL'
- Com a adoção da medida, surgiram relatos de pessoas barradas e teve
início uma discussão nas redes sociais.
A maquiadora Thalita Piassi
relatou pelo Facebook que, no dia 25, levou a sobrinha e uma amiga ao
shopping e, em um momento de separação, um segurança colocou as duas
adolescentes para fora. “Levei minha sobrinha e uma amiga que queriam ir
até o cinema. Já na entrada o segurança não queria deixar passar, mas eu
era a responsável e iria ficar lá, aí aceitaram. Eu fui em uma loja e as
meninas foram ao mercado antes do cinema, nisso o segurança colocou as
duas para fora”, contou.
Indignada, ela relatou que
decidiu questionar a atitude. “Fui até o segurança e perguntei o que
estava acontecendo e ele me olhou com uma cara esnobe e perguntou o que
eu ia consumir no shopping. Gostaria de poder entender, porque eu não
tenho que dar satisfação para o segurança do que eu vou gastar ou não”.
A maquiadora disse que
procurou a Polícia Civil e foi orientada a ir à Delegacia de Defesa da
Mulher (DDM) para registrar o boletim de ocorrência, mas ainda não se
dirigiu à unidade. Ela afirmou que registrou uma reclamação no Serviço
de Atendimento ao Consumidor (SAC) e reduzirá as visitas ao centro de
compras.
“Os adolescentes vão ao
cinema, comer lanche, eles estão consumindo. Os pais dão dinheiro para
os filhos, ninguém deixa uma criança ir para o shopping sem R$ 1 no
bolso. O pessoal tem que ter isso em mente”, defendeu.
“Foi um fato lamentável o
que aconteceu. Eu frequentava muito pouco e agora vou menos ainda. Achei
um absurdo o que fizeram com minha sobrinha e mais absurdo ainda ele
questionar no que a gente ia gastar ou o que ia fazer lá dentro”.
CASO SEMELHANTE
- O engenheiro Anselmo Campos, de 53 anos, disse que viveu momentos
parecidos com o da maquiadora no dia 25, quando tentou entrar no
shopping acompanhado da esposa, dos filhos e de duas colegas das
crianças. “Fui trocar uma calça e jantar. Quando tentamos entrar, os
seguranças já questionaram quem eram aquelas crianças e disseram que eu
não poderia entrar com as amigas da minha filha porque só crianças
acompanhadas dos pais podiam entrar no estabelecimento”.
Segundo Campos, um
funcionário do shopping sugeriu deixar as crianças para o lado de fora
durante a troca da peça de roupa e ele se negou. Por fim, decidiu ir ao
mercado comprar ingredientes para fazer o jantar em casa e, ao pagar as
compras, foi abordado novamente.
“Veio um segurança falando
muito alto que eu havia descumprido uma ordem da gerência e que ele nos
escoltaria para fora, ‘sem piar’, senão eles usariam a força. Fomos
muito humilhados”, disse.
OPINIÕES
- Os relatos de pessoas barradas dividiram a opinião de frequentadores
do estabelecimento. A consultora de vendas Edna Cacheta, por exemplo,
concorda com a decisão tomada pela administração, mas acredita que
deveria haver exceções.
“Eu passei por duas
situações em um sábado à noite que me desagradaram bastante, causadas
por esses bandidinhos que não sabem se comportar lá dentro. Foi preciso
fazer isso, mas foi feito de maneira errada. Deveria ser permitida a
entrada de duas ou mais adolescentes com um adulto, não é necessário a
mãe ou o pai de cada uma”, declarou.
Já a publicitária Mariana
Fernandes discorda da medida que o shopping adotou. “Todos têm o direito
de ir e vir. Se os pais deixam as crianças ir ao shopping sozinhas, é
problema dos pais, agora colocar as crianças para fora, isso não pode. É
comum eu deixar meu irmão lá para assistir a um filme e comer com os
amigos, depois vou buscá-lo”, disse.
ADMINISTRAÇÃO DO
IGUATEMI
- A administração do Shopping Iguatemi foi procurada e
questionada de que forma o controle de acesso de menores pode
melhorar a segurança dos adolescentes, se o shopping teve
problemas com vandalismo ou algum outro tipo de crime e se em
algum momento foi registrado boletim de ocorrência.
Também foram
questionados se o pedido de restrição foi feito ao Ministério
Público e por quanto tempo essa medida irá continuar, quem
realiza o controle na entrada do estabelecimento e de que forma
o shopping está orientando os clientes sobre esse procedimento. |
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Em resposta, a assessoria
de imprensa do Shopping Iguatemi informou, por meio de nota, que a
decisão de barrar a entrada de menores foi tomada prezando a segurança e
tranquilidade dos adolescentes, clientes, lojistas e colaboradores.
O comunicado afirma que as
autoridades competentes estão cientes da medida adotada e que o bloqueio
foi realizado no dia 25 de março, das 17h às 22h, mas não informa até
quando a ação vai perdurar.
MINISTPERIO PÚBLICO
- O Promotor de Justiça da Vara da Infância e Juventude de São Carlos,
Mário José Corrêa de Paula, disse que a gerência do shopping procurou o
Ministério Público, mas que a decisão tomada pelo centro de compras foi
independente.
“O shopping entrou com um
pedido para que a Justiça determinasse a proibição da entrada dos
menores. Acontece que essa medida não teve andamento, devido ao direito
de ir e vir dos cidadãos”, afirmou. “O shopping é privado, então ele
pode regulamentar a entrada nas dependências. A Justiça não irá
disciplinar, nem regrar a entrada em uma entidade privada”.
*Com informações
do G1/São Carlos (Fotos: Shopping Iguatemi/Divulgação)
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