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A
equipe do delegado Walkmar da Silva Negré, do 2º Distrito Policial de
São Carlos, prosseguiu, na última semana, com as investigações da
quadrilha suspeita de envolvimento no golpe do seguro, arquitetado por
um ex-agente funerário de 47 anos, um ex-assessor comercial de uma
seguradora, de 25 anos, uma dona de casa de 24, e o médico de 29 anos,
que prestou serviços na Unidade de Pronto Atendimento (UPA). As
investigações apontam que o golpe renderia R$ 1,4 milhão em nome da
ex-moradora em situação de rua Cristiane da Silva, de 39 anos, de Matão,
que até o momento, para a Justiça, encontra-se “morta”.
A exumação
ocorrida no dia 30 de maio ratificou o golpe. |
Em oito de junho, o médico de 29 anos foi o primeiro a ser ouvido e na
presença de seu advogado admitiu que preencheu e assinou a Declaração de
Óbito (DO), relatando ainda que teria sido procurado pelo ex agente
funerário de 47 anos, que conhecia e na confiança recebeu a folha e
preencheu. Ainda segundo o médico dias após o ex agente funerário
novamente o procurou e disse que a família de Cristiane, teria um
“segurinho” e pedia para que ele preenchesse o questionário a respeito
do óbito e a documentação a respeito da “morte súbita de origem
cardíaca”, no que também atendeu, sempre acreditando que Cristiane da
Silva estaria “morta”.
DEPOIMENTO DO
EX AGENTE
FUNERÁRIO - Na
última segunda-feira (12), durante cinco horas, o ex agente funerário, a
filha dele e o ex assessor comercial de uma seguradora, acompanhados de
um advogado, foram formalmente ouvidos e também indiciados por três
crimes.
Ele disse que no primeiro
semestre de 2016, conheceu na avenida Dr. Teixeira de Barros, na vila
Prado a ex moradora em situação de rua Cristiane da Silva, que dizia ser
de Matão e atualmente estaria vivendo nas ruas de São Carlos. No início
do mês de junho daquele ano, conversando com o genro que trabalhava como
ex assessor comercial de uma seguradora, ambos tiveram a ideia de
montar um seguro
de vida em nome de Cristiane,
pois acreditavam na morte dela em função do uso de bebidas alcoólicas.
No dia 28 de junho de 2016, acompanhado do genro, levaram Cristiane até
o prédio do Poupatempo e deram entrada no Registro Geral (RG) da ex
moradora de rua. Ele confessou que em momento algum teria relatado para
mulher que o documento seria usado na aquisição de um seguro de vida, e
também confirmou que foi o genro quem providenciou a proposta de seguro
em nome de Cristiane, colocando como beneficiária a própria esposa
(filha do ex agente funerária), constando no documento que ela seria a
única pessoa viva com parentesco com Cristiane.
O ex-agente chegou a dizer
à polícia que um dos coveiros comentou que o caixão estava leve demais.
Ele justificou que a “morta” era magrinha.
Genro e filha também apresentaram suas versões sobre o caso
- O ex assessor comercial de uma seguradora (genro do ex agente
funerário), disse que foi questionou pelo sogro sobre a possibilidade de
realizar o seguro em nome de Cristiane, independente do grau de
parentesco. O ex agente funerário teria dito que havia uma mulher
usuária de drogas e alcoólatra, bastante debilitada que poderia falecer
a qualquer momento, e eles poderiam fazer um seguro de vida em nome dela
para ganhar um dinheiro. Eles conseguiram adquirir a certidão de
nascimento de Cristiane, e dias depois eles a levaram até o Poupatempo
onde retiraram seus documentos para dar início no seguro de vida. Como
ele conhecia várias seguradoras, resolveu ir até a cidade de Descalvado,
onde montou as seis apólices de seguros de vida e começou a pagar as
parcelas. Já a filha do ex agente relatou à polícia que o marido e o pai
a convenceram de participar da trama, e ela assinou as propostas de
seguro.
Como o médico, o trio foi
indiciado pelos crimes de estelionato (Artigo 171), Falsidade Ideológica
(Artigo 299) uma vez que o médico emitiu declaração falsa de óbito -
ambos do Código Penal Brasileiro -,e associação criminosa (Artigo 2º) da
Lei 12.850.
A Polícia informou que
outras pessoas serão ouvidas no inquérito.
CREMESP
- O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo
(Cremesp) instaurou uma sindicância para apurar a participação do médico
no golpe. Se for constatada conduta antiética, o médico pode sofrer
sanções que vão de uma advertência à cassação do registro. A sindicância
leva de seis meses a dois anos para ser concluída.
*Com informações do
Jornal Primeira Página (Foto: Jean Guilherme)
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