"Essas partes, teoricamente não comestíveis, são ricas
em sais minerais, vitaminas e fibras, nutrientes
essenciais ao nosso organismo", aponta Rosane Pilot
Pessa Ribeiro, professora do Departamento de Enfermagem
Materno-Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem
da USP de Ribeirão Preto. Um bom exemplo disso é a casca
da laranja, que tem 40 vezes mais cálcio do que sua
polpa.Mas não para por aí. De acordo com a Tabela de Composição Química das Partes não
Convencionais dos Alimentos, apresentada pelo programa Alimente-se Bem do Sesi
(Serviço Social da Indústria) de São Paulo, partes como a casca, o talo e a
semente possuem muitos nutrientes importantes para o bom funcionamento do
organismo.A casca do abacaxi, por exemplo, é rica em vitamina C, que aumenta as defesas do
organismo, auxiliando na prevenção e no combate de infecções como a gripe. Já a
folha da cenoura é fonte de proteína, que auxilia na formação e manutenção dos
órgãos e na cicatrização, e em lipídios, que regula a temperatura corporal,
fornece energia e facilita o transporte de nutrientes pelo organismo. E o talo
da salsinha possui grandes concentrações de fibra, que auxilia a controlar os
níveis de açúcar e gordura no sangue, ajudando a prevenir diabetes e doenças do
coração, além de contribui para o bom funcionamento do intestino, e em cálcio,
que é responsável pela formação e manutenção dos ossos. E esses são apenas
alguns exemplos.
Na regra do aproveitamento integral dos alimentos, nada se perde. Sementes de
abóbora, por exemplo, podem se tornar um petisco saudável e é interessante notar
que elas têm 28 vezes mais fibras do que a polpa.
Sementes de outras frutas, como a jaca, também pode ser torradas e trituradas
para virar uma farinha nutritiva, que pode ser usada em massas de bolos e
tortas. Nem a casca do ovo deve ser jogada fora: rica em cálcio, ela pode ser
triturada e misturada à farinha em bolos e pães.
Incrementando a culinária
-
"A utilização integral dos alimentos possibilita uma maneira de incrementar a
culinária diária, criando receitas enriquecidas nutricionalmente. Podem ser boas
fontes de fibras, vitaminas e sais minerais, quando se implanta corretamente
esses alimentos no cotidiano das famílias", aponta Júlio Sérgio Marchini,
professor de Nutrologia da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (FMRP/
USP).
As opções são muito variadas – e as receitas também. Tanto que o programa
Alimente-se Bem do Sesi acabou de lançar um livro com 50 receitas que aproveitam
todas as partes de frutas e hortaliças. Todos conceitos mostrados no livro são
também apresentados em cursos, com quatro ou três aulas práticas e teóricas, com
carga horária de 10 horas, e realizados em 44 das 54 unidades do Sesi ou "in
company". O livro é gratuito e oferecido para quem faz o curso com 65% de
presença comprovada.
Entre as
receitas estão o arrumadinho de berinjela, que aproveita
a casca da berinjela e talos de salsa, e o bolo musse de
acerola, que utiliza a entrecasca (aquela parte branca
entre a casca e a polpa da fruta) do maracujá entre seus
ingredientes.
As
partes não convencionais dos alimentos podem ainda ser
utilizadas em sopas, saladas, sucos, geleias, compotas e
até como aperitivos. Tudo depende da criatividade de
quem cozinha. "A casca da banana, por exemplo, é rica em
fibras e pode ser utilizada na confecção de bolos e
doces; a casca do maracujá e da tangerina são ricas em
vitamina C e fibras e pode se fazer um doce em compota
ou geleia; a casca da abobrinha é rica em fibras e pode
ser utilizada em conjunto com a ricota em quiches; a
casca da berinjela é rica em potássio e pode ser
utilizada refogada como acompanhamento", ensina Célia
Cohen, nutricionista e pesquisadora da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
(FMRP).
Uma
questão de economia - Além de fazer bem para a
saúde, o aproveitamento integral dos alimentos também
faz bem para o bolso. Afinal, no Brasil, o desperdício
de alimentos é muito grande. Para se ter uma ideia, a
maior parte do lixo produzido no país é orgânico, ou
seja, proveniente de restos de alimentos.
Segundo
dados da ONU (Organização das Nações Unidas) de 2012,
uma residência brasileira desperdiça em média 20% dos
alimentos que compra semanalmente e, a cada ano, o
Brasil joga fora R$ 12 bilhões de reais com o
desperdício de alimentos. Por outro lado, a fome
continua sendo um dos mais graves problemas do país.
Ainda de acordo com dados da ONU, o país possui 50
milhões de pessoas que convivem com a fome e a
desnutrição.
Isso se
reflete na economia pessoal também, pois um único
alimento pode ser preparado de cinco formas diferentes e
todas com alto valor nutritivo. Assim, aproveitar a
casca, o talo e a semente também significa economia e
permite que as pessoas experimentem novas opções de
receita, diversificando o cardápio.
"Utilizar o alimento em sua totalidade denota mais do
que economia. Significa usar os recursos disponíveis sem
desperdício, reciclar, respeitar a natureza e
alimentar-se bem, afinal, talos, folhas, sementes e
cascas são, muitas vezes, mais nutritivos do que a parte
dos alimentos que estamos habituados a comer", afirma a
nutricionista Bruna di Chiara Passos.
*Fonte: UOL/Saúde |