Descalvado completou três meses de
quarentena por conta do coronavírus sob
o desafio de conter o avanço da doença e
abrir caminho para a retomada econômica

Somente nos últimos 11 dias, o número de casos positivos da doença aumentou 140%.

Fica até difícil de lembrar como era a rotina antes de 22 de março de 2020. Naquele dia, a Prefeitura publicou um decreto com restrições de circulação por conta do coronavírus em Descalvado, seguindo as medidas restritivas impostas pelo governador João Dória que um dia antes colocou oficialmente todo o Estado de São Paulo em quarentena. Desde lá, são três meses permeados por isolamentos, mudanças de hábitos, uso obrigatório de máscaras, e, mais recentemente, uma tentativa de volta – e respectivo retrocesso – de parte das atividades econômicas, por meio da implementação do Plano São Paulo.

Desde a última segunda-feira (22), Descalvado entrou no quarto mês de quarentena ainda sob o crescimento das estatísticas, apesar dos razoáveis índices em comparação a outras cidades do interior paulista, Há ainda, em meio a toda estas preocupações, o desafio da retomada das atividades econômicas.

Com base nos números da doença divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde, a população de Descalvado conviveu mais da metade da quarentena sem nenhum caso positivo da doença. Somente no dia 18 de maio, quase dois meses após a decretação das medidas de isolamento, é que a cidade registrou o primeiro caso positivo pelo novo coronavírus.
 

De lá pra cá, passaram-se 38 dias em que os números oficiais apontam pelo crescimento dos casos de Covid-19, sendo que apenas nos últimos 11 dias, o número de casos positivos cresceu 140%, saltando de 15 no dia 13 de junho para 36 casos nesta quarta-feira, dia 24. Neste mesmo período, mais uma morte pela doença acabou sendo confirmada, a segunda desde o início da quarentena.

No último boletim da Secretaria de Sáúde (N.º 98), atualizado as 17h, o órgão municipal chamou a atenção quanto ao aumento do número de casos entre adultos jovens, e pediu mais atenção quanto aos cuidados necessários para evitar a contaminação. No mesmo informe, a secretaria publicou um gráfico informando os bairros do município onde houve maior incidência de casos positivos.
 

Entre as cidades limítrofes, Descalvado ocupa a antepenúltima posição no número de casos positivos. Mas a cidade figura - ao lado de Pirassununga e Santa Rita do Passa Quatro - na segunda colocação desta da lista quando o assunto é o número de óbitos, ficando atrás apenas de São Carlos que já registrou 11 mortes. Veja a situação de cada município:

- São Carlos: 434 casos, com 12 mortes;

- Pirassununga: 221 casos, com 2 mortes;

- Porto Ferreira: 110 casos, com 1 morte;

- Santa Rita do Passa Quatro: 39 casos com 2 mortes;

- Descalvado: 36 casos, com 2 mortes;

- Luiz Antônio: 22 casos com 1 morte;

- Analândia: 8 casos, nenhuma morte.

PLANO SÃO PAULO
 

Desde o dia 1º de junho, o governo do estado implantou o Plano São Paulo, que prevê a retomada gradual das atividades econômicas consideradas não essenciais. O plano foi elaborado por autoridades estaduais em sintonia com especialistas do Centro de Contingência do coronavírus e do Comitê Econômico Extraordinário, e que atuam voluntariamente em apoio ao Estado. Os eixos principais das cinco fases de reabertura também foram discutidos com prefeitos e representantes de diversas associações comerciais e empresariais.
 

As normas do Estado autorizam prefeitos de cidades a conduzir e fiscalizar a flexibilização de setores segundo as características dos cenários locais. Os pré-requisitos para a retomada são adesão aos protocolos estaduais de testagem e apresentação de fundamentação científica para liberação das atividades autorizadas no Plano São Paulo.

As cinco fases do programa vão do nível máximo de restrição de atividades não essenciais (vermelho) a etapas identificadas como controle (laranja), flexibilização (amarelo), abertura parcial (verde) e normal controlado (azul). O objetivo da classificação é assegurar atendimento de saúde à população e garantir que a disseminação do coronavírus em níveis seguros para modular as ações de isolamento.

De início, o município de Descalvado – que pertence a região de abrangência da Diretoria Regional de Saúde (DRS-III) de Araraquara – foi classificado na ‘Fase Amarela’ do plano, o que permitiu, por exemplo, a reabertura com restrições, de bares, restaurantes e salões de beleza.

Porém, 10 dias após o anúncio da flexibilização, o governo do estado voltou atrás e reclassificou todas as cidades paulistas que estavam na fase Amarela para a Laranja, o que forçou as Prefeituras a decretarem novamente o fechamento destes estabelecimentos. A medida foi justificada em razão do aumento do número de casos e da taxa de ocupação de leitos de enfermaria e de UTI nas cidades atingidas pela medida mais restritiva.
 

ACHATAMENTO DA CURVA
 

Diante do atual cenário, é possível concluir que no início da quarentena, as medidas de restrição contribuíram para um efeito direto no controle da doença na região metropolitana de São Paulo, mas não evitou que a onda de contaminação pelo coronavírus chegasse às cidades do interior pouco tempo depois.

A preocupação das autoridades locais agora é com o atual cenário. Apesar do achatamento da curva nos 90 dias iniciais de enfrentamento da doença, esse é um momento muito delicado, pois além de dois óbitos registrados nos últimos 30 dias, o número de casos confirmados em Descalvado mais do que dobrou em um curto período de tempo.
 

RETOMADA DA ECONOMIA LOCAL
 

A saúde e a economia devem andar de forma conjunta. Por isso, é importante destacar o cenário econômico dos últimos quatro meses. O balanço do 1º quadrimestre do ano é positivo para o mercado de trabalho de Descalvado, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério da Economia. De acordo com o levantamento, foram criados 348 postos de trabalho em 2020, sendo 147 somente no mês de abril.

Nas maiores cidades da região, o padrão registrado foi diferente. Após dois meses (janeiro e fevereiro) de contratações, São Carlos, Araraquara e Rio Claro registraram período de demissões (principalmente em abril), resultando em um saldo negativo no número de empregos no primeiro quadrimestre do ano. Das 42 cidades da região, 22 fecharam o quadrimestre no vermelho.

Na contramão deste cenário, o Caged apontou que apesar de Descalvado iniciar o ano com saldo negativo (19 vagas a menos em janeiro), passou a registrar a criação de novas vagas nos meses seguintes (+139 em fevereiro, +81 em março e +147 em abril), acumulando um saldo positivo de 348 postos de trabalho nos 4 primeiros meses de 2020. Os números de maio ainda não foram divulgados pelo Caged.

Diante deste cenário de incertezas, não há dúvidas de que a continuidade da retomada econômica, de forma consciente, torna-se fundamental, e o principal desafio para este quarto mês de quarentena em Descalvado. Este quadro de “abre e fecha”, como apontam especialistas para o “novo normal”, pode prejudicar o já enfraquecido ritmo econômico. A equação a ser encontrada é como retomar sem perder o foco nas questões sanitárias.