Acompanhe a
entrevista exclusiva com a chefe do setor, Suzy Boarini, que
fala do fato, do descarte de alimentos e do futuro do serviço de
alimentação escolar
Uma semana depois do polêmico aparecimento de ratos no SMAE
(Serviço Municipal de Alimentação Escolar), a equipe do
Descalvado News procurou uma das responsáveis pelo setor, Suzy
Rosane Cerantola Boarini, a fim de colher informações e
esclarecimentos sobre como tudo aconteceu. Suzy, que responde
pela parte administrativa do serviço municipal, apresentou as
instalações da cozinha e relatou a maneira com que os
funcionários tentaram impedir a invasão do roedor.
Os equipamentos do SMAE são todos ligados diretamente ao esgoto
e existem grelhas para impedir que ratos e outros insetos
invadam o local. Quando a cozinha começou a funcionar, as quatro
horas da manhã do dia 24 de julho, terça-feira, uma funcionária
foi retirar uma das grelhas para que os trabalhos pudessem
começar.
O rato estava encurralado nessa grade e devido ao movimento
feito pela cozinheira, ele pulou. Foi então que, imediatamente,
com auxílio de vassouras, as funcionárias começaram a jogar a
água quente que saia das caldeiras com baldes e o rato
desapareceu. Suzy acredita que ele deva ter
entrado em uma das canaletas dos equipamentos. Às sete da manhã,
ao ligarem outro equipamento, o rato se deslocou e por outra
vez, ao acuarem o roedor, ele conseguiu subir em uma das
caldeiras através do encanamento de água fria. “Como a caldeira,
que é de inox, estava muito quente, ele não teve outra saída e
se jogou na panela onde cozinhávamos”, apontou. A chefe do SMAE
disse que o preparo de 200 quilos de coxas e sobrecoxas de
frango era para atender a merenda das escolas do dia seguinte,
ou seja, quarta-feira.
O que se percebe é que o problema da infestação de ratos na
região da Vaca Mecânica é bastante antigo. Empresários e
populares da região reclamam dessas condições há muito tempo, e
que pode estar nas ligações das águas pluviais com a rede de
esgoto nas ruas. Suzy fala das medidas tomadas para conter a
infestação. “Ninguém está dizendo que aqui não existem ratos,
eles estão aqui como em qualquer outro lugar que lida com
alimentos. Ter ratos e ser vítima de uma infestação é algo muito
diferente. Infestação é quando os ratos aparecem durante o dia
no ambiente, quando na verdade os hábitos deles são noturnos. Ao
abrirmos o SMAE, às 3h30, eles estão em plena atividade.
Enfrentamos isso há quase 16 anos e por isso temos o controle de
pragas junto dos vizinhos”, afirmou.
A chefe disse que em 2009 foi feita uma nebulização completa em
três etapas e no período de férias escolares acontece sempre
dedetizações. Suzy ainda enfatiza que existe uma comissão de
inspeção e extermínio de pragas e roedores. “Temos um grupo de
pessoas que faz o controle de pragas e que nos acompanham
diariamente aqui na merenda. Estamos ligados à equipe de
Controle de Vetores da Vigilância Sanitária que nos presta
orientações e distribuem as iscas para pegarmos os ratos. O
combate sistemático, os ratos estão em todas as partes,
principalmente quando se trata de alimentos”, disse.
Denúncias e especulações
Sobre matéria veiculada em um semanário local, dizendo que três
ratos foram vistos pelos funcionários, Boarini foi enfática ao
afirmar que apenas um rato foi encontrado. “Eu estou dizendo a
verdade. Apenas um rato foi encontrado aqui”.
Esse mesmo semanário incita que há funcionários descontentes com
a administração do SMAE e que, por este motivo, vem mostrando
denúncias sobre supostas irregularidades. Sobre essa afirmação,
Suzy responde: “Somos quase 40 funcionários divididos em
diversos turnos e temos sim funcionários descontentes devido à
reestruturação administrativa, feita pelo Governo Municipal,
igualando a carga horária em mais duas horas diárias, acabando
assim com as horas extras. A partir daí, convivemos com muitos
problemas com funcionários”, apontou.
Descarte de alimentos
O Descalvado News ainda questionou a responsável pelo SMAE sobre
o descarte de resto de comidas, amplamente noticiado pelos
veículos de imprensa descalvadenses, fruto também de denúncias.
“Após as denúncias, fizemos um intenso trabalho de levantamento
de dados para um relatório sobre a pesagem de sobras, tudo de
acordo com as leis do PNAE (Programa Nacional de Alimentação
Escolar). Em junho de 2009 uma nova lei tratou da aquisição de
produtos vindos dos assentamentos, dando oportunidade para o
agricultor familiar, entre outros, e que determina também a
aceitação do cardápio a quantidade de resíduos, etc. O que as
pessoas têm que ver é que descartamos apenas 30 quilos da mais
de 1,2 tonelada de alimentos produzidos diariamente. Se fizermos
as contas temos apenas 2,5% de sobras, considerando cascas de
frutas e verduras. Ou seja, nossa aceitação é maravilhosa. O
programa Hora Certa está dando muito certo, exemplo de educação
alimentar e segurança nutricional. Temos um trabalho intenso de
temperatura, entre outros, para atender bem cada uma das escolas
de nossa cidade, de acordo com o pedido dos diretores de cada
unidade. As sobras limpas são pesadas, lavrado documento pela
nutricionista, e levado para adubo. Adoraríamos poder doar as
sobras de nossa merenda, porém não existe lei que ampare o
doador. Nossa nutricionista não pode se responsabilizar
tecnicamente por prejuízos na saúde de quem consumiu essa sobra,
pois não temos como controlar como esse alimento será
conservado, são vários fatores e condições que precisam ser
considerados para poder doar esses alimentos”, explicou.
Segundo Suzy, até mesmo os pãezinhos distribuídos a servidores
municipais são produzidos com dotações orçamentárias das
próprias secretarias, tendo em vista, a não utilização dos
recursos da merenda, obrigatoriamente destinados à alimentação
escolar.
Investimentos na Alimentação Escolar e Futuro do SMAE
Suzy também falou da sua experiência no setor, onde dedicou 16
dos 22 anos prestados na Administração Municipal. “Na minha
opinião a merenda de Descalvado é uma das melhores que conheço.
Os professores que vêm de fora e as visitas que recebemos,
sempre elogiam nossa comida. Crescemos muito nesse período e
hoje temos uma nutricionista, que é responsável por tudo o que
produzimos aqui, sabemos que têm crianças que se alimentam só
nas escolas, isso é uma realidade. Pensando nisso, precisamos
trabalhar com amor, com o carinho que elas merecem. Temos um
olhar futurista sim. Implantamos o Programa de Alimentação
Saudável, hoje uma exigência do Estado, tiramos do cardápio as
merendas doces que agora são servidas como sobremesas; temos o
Programa Hora Certa com refeições servidas no horário certo, ao
chegarem à escola nossos alunos recebem pão com manteiga e leite
de soja, na metade do período são servidos frutas, bolinhos,
barra de cereais, suco natural ou vitaminas, e ao voltarem para
casa têm almoço ou jantar. Com este programa, nossas sobras
passaram a ser menores, pois a criança come aquilo que precisa
na hora que tem vontade. Para nós, é um orgulho também
recebermos os agricultores familiares, ensinamos eles a
numerarem suas notas, a participarem das chamadas públicas, hoje
eles estão orientados e fornecendo alimentos pra gente”, disse.
Suzy ainda apontou que os caminhos da Alimentação Escolar em
grandes centros e em cidades em desenvolvimento está na adoção
de cozinhas piloto, que distribuem os ingredientes para que as
merendeiras das próprias escolas preparem as refeições dos
alunos com base no número de estudantes presentes no dia de
aula. Ou ainda a construção de um prédio maior, com maior
capacidade para recepção e preparo dos alimentos. “As
instalações do SMAE estão pequenas, nosso prédio tem 30 anos, e,
até agora, foram feitas apenas adaptações”, disse. |