Muitas pessoas se submetem a longas jornadas de trabalho, expostas a altas
temperaturas e gases provenientes da queima da cana-de-açúcar durante a
colheita, equipamentos de proteção individual que dificultam os movimentos e
prejuízos à saúde por causa dos esforços repetitivos e desgastantes.
"Passamos por
um momento em que as condições de trabalho estão se deteriorando
e as pessoas trabalhando cada vez mais. A situação no setor
canavieiro é, no meu ponto de vista, o mais dramático porque há
pessoas que estão morrendo por causa da intensificação do
trabalho", avalia.
A expansão
do agronegócio e a mecanização do setor contribuíram para a
concentração de terras nos domínios de grandes grupos
econômicos, que resultaram na expulsão de trabalhadores que se
dedicavam à agricultura familiar e à produção de pequeno porte.
O aumento da demanda pelo álcool combustível também possibilitou
aumento nos ganhos das usinas que atuam no plantio, colheita e
moagem da cana-de-açúcar. Apesar do crescimento, o setor ainda
mantém regimes de trabalho que prejudicam a saúde e o bem-estar
do trabalhador.
"O que
chama atenção é o fato do setor canavieiro ser rentável, que
sempre ganhou muito dinheiro, mas explora os trabalhadores. Uma
melhor distribuição da renda e investimentos em melhores
condições de trabalho não prejudicaria a lucratividade das
empresas", acredita o docente.
Como
explica o professor Alves, a remuneração proporcional à
quantidade de cana-de-açúcar colhida é prejudicial, pois
responsabiliza o trabalhador pela longa jornada de trabalho,
necessária para uma melhor remuneração.
"Para ser
rentável, grande parte dos produtos exportados são produzidos
com alto grau de exploração de mão de obra. A hora paga por
trabalho no Brasil é uma das mais baixas do mundo. Trabalho por
produção no setor canavieiro é perverso, pois o trabalhador só
sabe quanto vai receber depois que o trabalho foi feito. Além
disso, algumas usinas fazem o pagamento relacionando à tonelada
e à área de cana-de-açúcar colhida que resulta em uma redução de
30% a 40% por parte dos ganhos dos trabalhadores", salienta o
docente.
Diante do
quadro de exploração da mão de obra canavieira, a intensificação
da mecanização na agricultura e a necessidade de políticas de
preservação de reservas florestais e de água doce, o professor
Alves defende a reforma agrária e o incentivo à agricultura
familiar como alternativas que possibilitem maior inserção
social e econômica dos trabalhadores.
"Para
criar alternativas de trabalho e renda na proporção requerida,
considerando a proporção de pessoas que trabalham na colheita da
cana-de-açúcar, é necessário atuar na geração de empregos. O
incentivo à agricultura familiar para a geração de alimentos e a
produção de reservas florestais, importante para a manutenção
das reservas de água no Pais, são opções que geram emprego com
pouco gasto por parte do Estado", avalia.
No artigo
"Por que morrem os cortadores de cana?", publicado na revista
Saúde e Sociedade da Faculdade de Saúde Pública da Universidade
de São Paulo, o professor Alves apresenta dados que demonstram
que a morte dos trabalhadores assalariados rurais, cortadores de
cana, advém do pagamento por produção.
No final
do ano passado, os estudos desenvolvidos pelo professor da
UFSCar embasaram a decisão do juiz do trabalho Renato da Fonseca
Janon, que acatou ação civil pública movida pelo procurador
Rafael de Araújo Gomes, do Ministério Público do Trabalho,
contra o pagamento por produção. "Essa notícia é muito
importante pois é muito bom saber que meu trabalho contribuiu
para a melhoria da situação dos cortadores de cana-de-açúcar da
região", afirma o docente.
*Fonte: São
Carlos Dia e Noite |