Há um ano e meio, Vera usa o carro da família como quarto
improvisado para dormir (Foto: Antonio Marquez) |
“O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.” Este é o trecho do
salmo 30 que conforta, diariamente, a dona de casa Vera Lúcia Dinois, 54,
moradora de Santa Lúcia. À espera de uma cirurgia no ombro, que já foi adiada
três vezes pela Santa Casa de Araraquara — na última, foi retirada da sala de
operação após um equívoco — ela utiliza, há um ano e meio, seu modesto e pouco
espaçoso carro como um quarto improvisado para dormir todas as noites.
“É o único lugar onde ela consegue se acomodar e reclamar menos das dores que
sente. Suas noites são longas. Do quarto, eu a ouço gemer. Quando o sofrimento
aumenta, ela aperta a buzina. E aí eu me levanto para ajudá-la”, revela o
aposentado Élio Dinois, 60, que alimenta a esperança de sua mulher com
constantes leituras da Bíblia. |
Comovido com a situação de sua vizinha, Benedito dos Santos Filho, 50, ao lado
de sua mulher, faz, constantemente, massagens em Vera, a fim de que suas dores
sejam amenizadas. “Dá para ouvir os gritos dela lá de casa. É uma covardia muito
grande o que fazem com ela”, diz o vizinho.
Luta - O
drama de Vera começou em dezembro de 2011. Ao visitar seus
familiares em Américo Brasiliense, caiu e fraturou o ombro
esquerdo. Após passar pelo atendimento de emergência, recebeu a
notícia do plantonista de que seu caso só poderia ser resolvido
por meio de uma cirurgia.
“Levaram-me para
a Santa Casa. Lá, após colocarem uma tala em meu braço, pediram
para eu procurar um ortopedista em minha cidade. Avisei que aqui
em minha cidade não havia um, mas não adiantou”, conta Vera.
Um ano
depois, e após diversos pedidos de ajuda à Prefeitura de
Santa Lúcia, Vera recebeu a notícia de que teria,
finalmente, seu ombro operado pela Santa Casa de
Araraquara. “Fiquei em jejum, mas, quando cheguei ao
hospital, disseram-me que o médico havia sofrido um
acidente”, relembra emocionada.
No último dia 23 de maio, no entanto, sua esperança
voltou.
“Mais uma
vez, minha cirurgia estava marcada. Acordei feliz
naquele dia, mas ligaram-me desmarcando. Chorei muito”,
recorda-se. Anteontem, a história repetiu-se. Com um
detalhe: ela só foi avisada de que não seria mais
operada quando já estava dentro do centro cirúrgico. |
À espera do que ela chama de um ‘verdadeiro milagre’,
Vera passa o dia lendo a Bíblia (Foto: Antonio Marquez) |
“Fui internada
na quarta à noite. No final da manhã, fui encaminhada para a
sala de cirurgia. Quando o médico entrou, disse: “Não, gente!
Não é ela a paciente a ser operada.” Ele veio até mim, pediu
desculpas e falou que o material para a operação do meu ombro
ainda não havia chegado. Eu comecei a chorar, minha pressão foi
a 22 por 12”, conta Vera.
Na busca por amenizar o incômodo causado pelas feridas
espalhadas pelo corpo de Vera, seu marido, em uma atitude de
desespero, chegou a comprar e a aplicar uma pomada utilizada em
equinos.“Foi o desespero, né? Não sabia mais o que fazer”,
revela o aposentado.
Com 142 quilos, Vera vive à base de 20 remédios, perdeu as
contas de quantas injeções para conter suas dores já tomou — mas
tem certeza de que foram mais de cem — e continua aguardando o
que ela mesmo chama de “um verdadeiro milagre”.
Santa Casa não se pronuncia sobre o caso
- A reportagem do jornal araraquarense ‘Tribuna Impressa’ tentou
um contato com a assessoria de imprensa da Santa Casa de
Araraquara através do envio de e-mails e por meio de
telefonemas, mas nenhuma nota de esclarecimento foi encaminhada
ao jornal.
*Fonte: Araraquara.com |