O
que já era previsto por muitos moradores da região do Parque Linear
"Brasilina Ravazi Reschini" - próximo à antiga estação da
Fepasa -,
acabou acontecendo na noite desta quarta para quinta-feira. Desde o final do mês
de janeiro, pelo menos dois quiosques pertencentes à Prefeitura
Municipal de Descalvado - e que deveriam estar locados para serem
utilizados como estabelecimentos do tipo lanchonete, doceria ou
sorveteria, por exemplo -, foram invadidos por moradores de rua, que
transformaram o local em moradia, e que agora acabou incendiado.
Moradores e comerciantes
próximos do local já haviam reclamado - inclusive pelas redes sociais -
sobre o problema, além de demonstrarem preocupação de que os quisoques poderiam
servir como ponto de venda e consumo de drogas.
Segundo informações
colhidas no Parque Linear na manhã desta quinta-feira (9), entre as
23h00 de ontem e 1h00 de hoje, um dos quiosques invadidos acabou
incendiado, sendo totalmente consumido pelo fogo. Não há informações de
vítimas, mas um dos moradores que invadiu o local aceitou conversar com
a equipe de reportagem do
DESCALVADO NEWS
e relatou como o local foi invadido, e a inércia da Prefeitura
para resolver o problema.
Com medo, o rapaz de 28
anos pediu para não ser identificado. Natural de Descalvado, o morador
do quiosque incendiado contou
que não sabe como o fogo teve início. "Eu saí daqui umas onze horas
da noite pra andar com a minha cachorra, e a hora que eu voltei, era
mais de meia noite e já tava tudo incendiado. Aqui estava morando eu, o
Valentim e a Jéssica, que acabou voltando para a casa do pai dela. A
gente deixou outras duas pessoas aqui sabe, então, eu nao posso falar
quem foi, porque eu não vi nada, não posso acusar ninguém. Um é
confiavel, agora o outro eu não posso confiar porque ele bebe demais",
disse ele.
"A gente tava aqui numa
boa, tomando uma cerveja, aí eu saí pra poder passear com a minha
cachorra e o Valentim saiu pro outro lado. A hora que eu voltei aqui, já
tava tudo incendiado!" contou o morador que também disse não saber como
o fogo foi apagado. "Eu não vi, porque a hora que eu cheguei aqui, tava
tudo incendiado e não tinha mais ninguém! Se eu estivese aqui, isso não
tinha acontecido!, afirmou.
Perguntado se dentro do
quiosque havia algum material ou produto inflamável, P. disse que não
havia nada. "Nada, não havia nada. Nenhum equipamento elétrico ligado, só
uma luz mesmo. Aí dentro eu tinha roupa, tinha R$ 60 em dinheiro que eu
perdi, que eu ia comprar umas cartelas [de semtentes] pra poder plantar,
tinha mais de meio saco de ração da minha cachorra... Queimou tudo! Eu
só 'tô' com a roupa do corpo!", relatou. Na pilha de escombros que
restou do incendio, também era possível ver alguns alimentos que foram
perdidos.
Sobre a invasão do
quisque, o morador de rua disse que está no local ha cerca de um mês e
meio. "Faz quase um mês e meio que estou aqui. Antes disso eu estava na
rua. A gente não invadu nada, já estava tudo aberto, então a gente
resolveu ficar aqui, porque na rua tá perigoso! Na calada da noite, pode
acontecer de tudo né? Então, quando a gente tranca a porta pra dormir,
ficamos protegidos né?".
Perguntado se alguém da
Prefeitura teria ido até o local para tentar a desocupação do quiosque,
o morador de rua negou. "Não, comigo ninguem veio falar nada. A maior
parte do tempo eu que fico aqui, porque eu to ajeitando o lugar. Eu
comecei essa horta aqui, pra plantar e me dar uma renda com uma
verdurinha, um legume, entendeu?", explicou ele. Sobre o outro quisoque
invadido, P. disse que não poderia falar muito sobre o assunto, mas
confirmou que chegou no local primeiro. "Ali eu não posso falar nada,
porque cada faz a sua vontade entendeu? Ali eles estão em três pessoas,
mas eu cheguei aqui primeiro!"
O morador do quiosque
incendiado encerrou a entrevista contando o que espera a partir de
agora. "Eu queria uma moradia pra gente! Se a Prefeitura deixar a gente
ficar morando aqui, e ajudar a gente, entendeu, é o que a gente pede. Se
eles derem esse lugar aqui pra gente morar, deixar cultivar o que a
gente precisar e sobreviver do nosso lucro, da nossa plantação aqui, é o
que a gente pede. O nosso sustento e uma moradia, é só o que a gente
quer!", concluiu.
PREFEITURA
- Procurada, a Secretaria de Administração da Prefeitura Municipal
informou que nesta quarta-feira (9), já havia protocolado um ofício
endereçado à Procuradoria Geral do Município, solicitando providências
sobre a desocupação do local. A Secretaria informou ainda que a PGM
deverá solicitar na justiça a reintegração de posse dos dois quiosques
invadidos.
Sobre o incêndio, a
Secretaria de Adminisração informou desconhecer o fato, mas diante da
informação recebida, iria descolcar um funcionário até o local e
providenciar a elaboração de um Boletim de Ocorrência e a respectiva
abertura de um processo de sindicância, para apurar as responsabilidades
do ocorrido.
"MEU
QUIOSQUE MINHA VIDA"
-
A última edição da
coluna 'Politicando', publicada no dia 25 de fevereiro,
já havia trazido a tona a invasão dos quiosques do Parque Linear da
Fepasa. Infelizmente, a inércia da administração municipal acabou
causando um grande prejuízo ao patrimônio público, uma vez que o local
agora terá que ser totalmente reformado em razão do incêndio.
Mesmo com as reclamações
de moradores e comerciantes próximos do local, o Poder Público parece
ter fechado os olhos para o problema e agora amarga o prejuízo que mais
uma vez será pago com o dinheiro dos contribuintes.
A ironia neste caso fica
por conta de que o local foi considerado a grande obra da administração
Panone e Becão, e que agora parece estar se transformando por eles
mesmos em um novo e inédito programa habiticional, apelidado por alguns
de "Meu Quiosque Minha Vida".
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