segundo ela, teria
sido acobertado pela universidade. Até o início da manha deste
domingo (14), a postagem da estudante havia sido compartilhada
por quase 10 mil pessoas e recebido cerca de 13 mil curtidas.
“Raspei meus
cabelos porque eu fui, duas vezes, agarrada e beijada por meu
professor e (ex) orientador sem o meu consentimento (…) Raspei
meus cabelos porque, depois de ser agarrada pelo professor e
recusar, ele progressivamente me tirou dos projetos do núcleo de
estudos que ele coordena”, afirma a jovem em seu depoimento.
O professor
teria afirmado ainda, de acordo com Thais, que ela seria “uma
franga sem doutorado que precisa colocar o rabo entre as pernas,
parar de enfrentar professor doutor e aprender a jogar o jogo da
academia, caso queira mesmo continuar nela”.
A
doutoranda contou que chegou a procurar a ajuda da universidade
e que outros alunos se mobilizaram , mas que todos foram
ameaçados e intimidados.
Procurada, a
Ufscar não se manifestou ainda sobre o relato publicado pela
estudante. Confira a íntegra do texto:
"Raspei minha cabeça como forma de protesto.
Raspei meus cabelos porque eu fui, duas vezes, agarrada e beijada por meu
professor e (ex) orientador sem o meu consentimento.
Raspei a cabeça porque, como quase toda vítima de assédio, passei dois anos
amedrontada e coagida pelas relações de poder que perpassam as consequências de
denunciar o ocorrido. Senti-me responsável não apenas pela minha carreira
profissional, mas pela do professor em questão e pelas consequências negativas
que recairiam no Programa de Pós Graduação e nos colegas do núcleo de
estudos.Calei-me, acovardada.
Raspei meus cabelos porque, depois de ser agarrada pelo professor e recusar, ele
progressivamente me tirou dos projetos do núcleo de estudos que ele coordena,
dizendo em uma ocasião que sou “uma franga sem doutorado, que precisa colocar o
rabo entre as pernas, parar de enfrentar professor doutor e aprender a jogar o
jogo da academia, caso eu queira mesmo continuar nela”. Além de em nada orientar
minha pesquisa.
Raspei minha cabeça porque a coordenação elaborou um survey para as/os
estudantes avaliarem o Programa. Tal survey foi apresentado como anônimo e vi
nele a única oportunidade segura de relatar os assédios que sofri e também
aqueles que testemunhei. No entanto, a coordenação do programa divulgou as
respostas abertas do survey para todas/os estudantes.
Raspei meus cabelos porque um grupo de estudantes leu os relatos de assédios e
se mobilizou, escrevendo uma carta para as/os docentes (CPG), reivindicando uma
posição delas/es, principalmente, porque elas/es haviam ignorado por completo os
relatos. Boa parte dos/as docentes ficou muito irritada e começou coagir seus
orientandos com intuito de desmobilizar o processo de reivindicação em curso.
Raspei minha cabeça porque a coordenadora do Programa postou no seu facebook que
os estudantes estavam “criminalizando a expressão sensual”.
Raspei meus cabelos porque, ontem, houve uma reunião marcada pelas/os docentes
com as/os estudantes. Sem qualquer escrúpulo, a professora, que falava em nome
do corpo docente, pronunciou os nomes dos relatados, que até então eram
anônimos, e afirmou – baseada em argumentos que apelam para tradição – que meus
relatos são mentirosos, pois conhece o professor há 20 anos e, segundo ela,
trata-se de um homem comprometido e galante (!!).
Raspei minha cabeça porque as/os docentes exigiram a retirada da carta elaborada
pelas/os estudantes, senão processariam judicialmente os representantes
discentes. Instauraram um clima de terror e chantagem, que desmobilizou todas/os
estudantes presentes.
Raspei meus cabelos porque as/os docentes compararam as/os estudantes aos
nazistas, além de insinuar que os professores relatados estavam sendo vítimas de
racismo e homofobia, já que se trata de um professor negro e outro gay. Houve
uma estratégia sórdida de inverter o cenário, colocando-me como agressora, assim
como todas/os estudantes.
Raspei minha cabeça porque cansei de ser assediada, coagida e chantageada.
Raspei meus cabelos porque eu fui publicamente humilhada, ofendida e
desrespeitada por docentes que afirmaram que meus relatos de assédios são
mentirosos sem nem ao menos me ouvirem pessoal e detalhadamente.
Raspei minha cabeça porque sofri um linchamento moral de um Programa de Pós
Graduação que tentei até aqui preservar, tanto seus docentes, quanto discentes.
Raspei meus cabelos porque eu poderia me calar por mais 7 dias e defender meu
doutorado sem mais constrangimentos e coações, mas eu me recuso fazer parte
dessa lógica opressora que o corpo docente instaurou no Programa. Eu, mesmo com
medo de mais retaliações, não me calo mais.
Raspei minha cabeça.
Raspei meus cabelos.
Mas permaneço em pé."
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