Há que
endurecer-se, mas sem jamais promover o diálogo
Polêmica envolvendo a
recomposição salarial do funcionalismo público é sem dúvida a maior das
insensatezes dos últimos anos na política descalvadense.
Por Mário Zambelli
Nesta
segunda-feira (7), a Câmara de vereadores de Descalvado estará
apreciando o projeto de lei que tenta recompor parte das perdas
salariais dos
servidores municipais referente ao exercício de 2014, e
que deveria ser dado no ano passado. Não é preciso ficar aqui
explanando como está a situação financeira de todas as
Prefeituras do país, o que fez com que a de Descalvado não conseguisse
dar em 2015 qualquer índice de reajuste, já que o limite da sua
folha de pagamento estava estourado.
Depois de ter
cumprido o que manda a Lei de Responsabilidade Fiscal e a
Constituição Brasileira, exonerando além dos 20% de cargos
comissionados, Henrique
poderia (ainda
no ano passado) ter exonerado os cargos em estágio probatório,
que são os servidores contratados por meio de concurso público a
menos de três anos, e assim criar o fôlego necessário nas contas
públicas para então dar a tão esperada recomposição. Muitos
prefeitos se viram obrigados a tomar tal medida, mas em
Descalvado a decisão foi a de manter os empregos destes
servidores, mesmo que isso implicasse que o índice permanecesse acima do limite
de 54%, colocando assim em risco a aprovação das suas contas no
Tribunal de Contas (fato inclusive que chegou a gerar o
apontamento do TCE). Além disso, desde o
ano passado o funcionário público municipal não paga mais pela
sua cesta básica e este ano não teve reajustado o seu plano de
saúde, o que ajudou a aumentar os gastos com os benefícios
conquistados pelo funcionalismo. Um
ato de coragem que muitos administradores públicos não tiveram.
Virado o ano de 2015 para 2016, e depois de ter tomado outras
medidas que entendeu poderiam resolver o problema do limite
prudencial sem prejudicar os servidores (o que de fato aconteceu), o índice foi reenquadrado e enfim, puderam ser retomadas as negociações para
a tão aguardada recomposição.
Pela primeira vez
na história, uma administração municipal convidou os
representantes do sindicato dos servidores municipais para
participarem de uma rodada de negociações para buscar em
conjunto, um índice tido como razoável para os dois lados. De
forma aberta e transparente, secretário de finanças,
subprocuradora e o presidente e o advogado do sindicato
sentaram-se à mesa e chegaram à um acordo: um reajuste de 5%
relativo ao aumento que não pôde ser dado no ano passado,
retroativo à janeiro deste ano.
Mas a conversa
acabou prosperando, já que fluiu de forma amistosa e com o
entendimento de ambas as partes. Assim, de forma a evitar mais
polêmicas e desmotivações por parte do funcionalismo, o encontro
entre Prefeitura e Sindicato levou adiante à discussão sobre o
índice de recomposição para o ano de 2016, cuja data base é somente daqui
a dois meses.
O resultado dessa
nova discussão acabou com o acerto de um índice de 7% para este
ano, divididos em duas parcelas: 4% a partir de junho e mais 3%
em outubro. Concluídas as negociações, faltava formalizar ambas
as propostas de forma com que a Câmara de Vereadores pudesse
apenas dar
o seu aval no projeto de lei. Encaminhado por meio de ofício da
Prefeitura, eis que a
proposta do sindicato acabou voltando de
forma diferente do que havia sido acordada na reunião. Para 2016
(ou seja, o índice de 7%), a proposta do sindicato acabou vindo
com efeito cascata, que dividiu os 4% que seriam a partir de junho
em duas parcelas (2% em abril retroagido à 1º de fevereiro e
mais 2% retroagido à 1º de maio), e os 3% de outubro
retroagidos a partir de 1º de junho. Calculados de acordo com o
que foi proposto no papel pelo sindicato, a recomposição poderia
chegar a quase 10%, o que para os cofres públicos municipais não
seria suportável. Ressalta-se que o efeito cascata da forma como foi proposto
também é proibido por lei.
Acuadas pela falta
de tempo para uma nova rodada de negociações, as equipes de finanças e da procuradoria informaram o
novo impasse ao prefeito, que não titubeou e mandou que o
projeto referente à recomposição apenas do ano passado, fosse
encaminhado imediatamente para a apreciação da Câmara Municipal,
determinando ainda que o Departamento Pessoal segurasse o
fechamento da folha de pagamentos do início deste mês,
aguardando assim a aprovação do projeto na sessão do dia 29 de
fevereiro, para já poder pagar em março os salários com o pequeno
(mas
bem vindo para muitos) reajuste retroativo a janeiro de 2016.
Eis então que a
insensatez do Poder Legislativo novamente veio à tona, e de
forma a confundir o funcionalismo (uma vez que muitos já sabiam
que a proposta de 12% estava bastante adiantada até então)
alguns passaram a 'berrar' literalmente que o prefeito havia
voltado atrás na proposta de reajuste. Infelizmente, por
interesses políticos ou partidaristas, muitos acabaram comprando
a idéia. Para piorar a situação, ainda existem vereadores que
passaram a insuflar de forma irresponsável, uma greve para
atacar diretamente o prefeito municipal.
Com o caos criado e
o palanque eleitoral montado, não demorou
muito para que os oportunistas mostrassem mais uma vez a que
vieram, e de forma descabida, ludibriaram a razão de parte do
funcionalismo, que compraram a idéia de que se pressionarem os
vereadores a votarem contra o reajuste de 5% referente apenas ao
ano passado, o prefeito será obrigado a enviar o projeto com os
12%. Pura mentira, para não dizer pura maldade!
O que vai acontecer
na verdade é que a Prefeitura poderá ficar impossibilitada de
mandar um novo projeto de lei para recompor o salário do ano passado,
e acabar tendo que mandar somente o deste ano, já que um projeto
que tem o mesmo propósito não pode ser enviado duas vezes no
mesmo ano para a Câmara Municipal. E aí, no máximo, a Prefeitura poderá
enviar um projeto de lei para a recomposição de 2016 com o
índice máximo de cerca de 10,7%, que foi a inflação apurada no
último período.
Algum dos vereadores oposicionistas explicaram isso para os
funcionários?
Enfim, para os mais
atentos e familiarizados com a atual situação política de
Descalvado, o que está por trás de tudo isso na verdade é um
novo pedido de cassação do Prefeito Municipal. Simples assim, e
só não vê quem não quer. Se rejeitado o projeto de 5% apenas
para o ano passado, é provável que uma greve se instale. E se
aprovado, também! Não conseguiu entender? Então vejamos: com o
apoio de parte do funcionalismo que promete acompanhar a votação
do projeto nesta segunda-feira, a 'pressão' é para que o projeto
seja derrubado. Se isso acontecer, imediatamente uma greve
deverá ser insuflada, e aí, a idéia é de que a população
descalvadense passe a sofrer com a precariedade ou a falta dos
serviços públicos. O alvo principal é os serviços ligados à
saúde, não tenham dúvidas! Imagine, por exemplo, aquele paciente
que precisa do transporte diário para outras cidades, para
tratamentos de radio ou quimioterapia, passar a ficar sem o
serviço? É um prato cheio para o paciente - e é claro para todos os
seus familiares - ficarem indignados com a Prefeitura, criando
assim um novo desgaste político-administrativo para a
administração municipal. Esse é só um exemplo (talvez um dos
mais sérios) que querem que ocorra. Ah, mas o interesse de adversários
e opositores políticos não é sempre esse?
Há também a questão
envolvendo uma suposta denúncia na Vara do Trabalho contra o
prefeito, por não ter dado a recomposição em 2015. Se o projeto
for aprovado, a denúncia acaba perdendo o sentido e aí, seus
autores perdem uma nova e importante arma de ataque, que de
novo, poderia ser usada para um pedido de impeachment.
Mas o conflito
gerado em torno do projeto de lei dos 5% pode, mesmo que ele
seja aprovado, também resultar em uma greve. Contraditório? Não
se pensarmos que a armadilha
política tal qual foi preparada deixou parte do funcionalismo
perdido e confuso. Muitos acreditaram que os tais 5% referem-se
aos dois anos (2015 e 2016). Se a Mesa da Câmara tiver o mínimo
de bom senso e realmente se preocupar em agir com verdade e
clareza, fará a leitura da mensagem do projeto de lei. Este
simples ato certamente esclarecerá para todos os presentes na
sessão o que de fato o projeto de lei trata. Mas eu
sou capaz de apostar um 'dedinho' da mão (sem referências ao ex
presidente, por favor!) que isso não será feito, já que a
mentira de alguns poderia ser desmontada ali mesmo.
Além disso, se a
dúvida é a de que a Prefeitura irá enviar ou não um novo projeto
de lei para tratar da recomposição deste ano, é uma
discussão que tem prazo de validade, uma vez que a data base é
somente em maio. Se até lá não houver uma nova definição, aí sim o sindicato (que segundo ventila-se nos
corredores da própria Câmara representa menos de 10% da
categoria e ainda pode estar irregular com a sua documentação e
prestação de contas), poderá então se mobilizar para uma
cobrança de forma mais efetiva, questionando a recomposição que é
sim um direito do funcionalismo.
Toda essa confusão
reforça o que muita gente já sabe, e o que remete ao título
deste editorial. É sabido que para muitos da política local, a
ordem dos fatores altera sim o resultado. Se dois projetos de
lei (um de 5 e um de 7%) podem totalizar 12%, para alguns essa
conta puramente matemática não basta, OU NÃO SERVE! Já que não houve
participação da vereança nas negociações com o sindicato e a
Prefeitura, então por que não 'melar' o esquema e pegar carona
numa greve e de quebra derrubar o Prefeito? Parafraseando Che Guevara, na Câmara o slogan parece
ser "Há que endurecer-se, mas sem jamais promover o diálogo".
Finalmente,
gostaria de aproveitar este espaço para trazer de forma
inédita, a primeira entrevista que este jornalista fez na sua carreira. É incrível com algumas coisas
acontecem. Desde que decidi escrever este editorial, fui
anotando alguns tópicos para então me sentar a frente do teclado
e redigir meu singelo texto. Eis que durante a madrugada
despertei do sono com a impressão de que precisava ouvir de alguém
mais experiente, a inspiração que eu tanto buscava.
Lembrei-me então onde estava a resposta que eu queria:
guardada em meus arquivos pessoais, lá estava uma
entrevista com aquela no qual eu sempre tive grande
admiração e respeito! Uma amiga e um exemplo
fantástico
para Descalvado, e que infelizmente nos deixou a muito
pouco tempo. A professora Cacilda Gallo me concedeu esta entrevista
no dia 31 de agosto de 2012 (desculpem o meu despreparo,
mas como eu disse acima, aquela foi a minha primeira
reportagem), onde tive a honra e o prazer de ouvir e
aprender com quem sabia E MUITO das coisas! A
entrevista fez parte da
6ª edição do Jornal Descalvado News, onde foi exibido apenas
alguns trechos.
Como um relâmpago,
a lembrança daquela entrevista me veio a tona e de imediato, ao
assisti-la na íntegra, tive a nítida impressão de que era
preciso compartilhá-la com todos vocês, sem edição
(veja o vídeo
acima). Apenas no
trecho final houve um corte, uma vez que a gravação da
entrevista foi feita em duas partes (dois arquivos). Não me
restou nenhuma dúvida de que não existiria um momento mais
propício como este para exibi-la.
Termino o
meu texto com a frase na qual ela encerra a sua entrevista "O
que a gente vê por aí é o pessoal que pratica uma política
partidária, e isso se for assim, muito radical, é bem
prejudicial. (Cacilda Gallo)".
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