O resultado é pior para o São Paulo, ameaçado pelo
rebaixamento à Série B e agora com 34 pontos ganhos. O
Corinthians não está em situação muito melhor, pois soma 37
e vê o objetivo de obter classificação para a Copa
Libertadores da América ficar cada vez mais distante de ser
alcançado. Os dois times voltarão a campo na noite de
quarta-feira: o tricolor contra o lanterna Náutico, outra
vez no Morumbi, e o alvinegro diante do Grêmio, em Porto
Alegre.
A igualdade
deste fim de semana ainda manteve bons retrospectos a favor
do Corinthians, que não perdeu nos seus últimos 12 clássicos
contra o São Paulo no Morumbi e ainda terminará a atual
temporada sem ter sido derrotado pelo rival de Majestoso.
Venceu três partidas e empatou outras três.
O jogo – O
clássico deste fim de semana não valia troféu. Mas, como
vencer para fugir da zona de rebaixamento parecia ser tão
importante quanto ganhar um título, as provocações começaram
cedo. O Corinthians queria levar a campo a sua taça de
campeão paulista de 1977 (chegou ao Morumbi com a peça, mas
desistiu da ação de última hora), em função do aniversário
de 36 anos do torneio. A medida aguçou a vontade de João
Paulo de Jesus Lopes, vice-presidente de futebol do São
Paulo, de trazer uma “carreta bem grande” com as principais
conquistas tricolores.
Já no gramado,
o atacante Emerson era o maior alvo das gozações. Ouviu
diversos gritos de “beija”, em referência à polêmica foto em
que dá um selinho em um amigo, e tentou responder de
qualquer maneira. Logo no primeiro minuto de jogo, deu
poucos passes com a bola nos pés após passar pelo meio-campo
e testou Rogério Ceni com um chute de muito longe. A
conclusão saiu tão torta que ele pareceu ter mirado na faixa
com a inscrição “time grande não cai”, pendurada na
arquibancada, e não no gol.
Finalizar de
longa distância poderia ser uma maneira de o Corinthians
minimizar a sua falta de criatividade – exacerbada pela
ausência do lesionado Paolo Guerrero e de Alexandre Pato,
defendendo a Seleção Brasileira. Mesmo sem uma referência
ofensiva, Tite preferiu reforçar o poder de marcação do
meio-campo com Edenílson, deixando Alessandro na lateral
direita e Douglas no banco de reserva. Pode ter sido
produtivo no treinamento secreto da véspera do clássico. Não
no primeiro tempo.
Fazendo valer o
mando de campo, o São Paulo pressionou o Corinthians desde
os primeiros minutos de jogo. O time de Muricy Ramalho –
mesmo sentindo a “grande falta de um bom pivô”, como definiu
o técnico – parecia habituado a não contat com o contundido
Luis Fabiano. Tanto é que o substituto Aloísio foi o mais
festejado pelos torcedores antes de a bola rolar. Aos sete
minutos, ele viu de perto a primeira chance de gol do seu
time, quando Jadson recebeu a bola na entrada da área e
bateu no canto. Para fora.
A oportunidade
foi um indício do que estava por vir. Aproveitando-se
algumas vezes de uma confusa linha de impedimento corintiana
e muitas da lentidão dos laterais Alessandro e Fábio Santos,
o São Paulo tomou o controle da partida. Chegou a computar
79% de posse de bola. Na defesa, parar a ligação direta que
o Corinthians fazia para Emerson e Romarinho também não
aparentava ser missão das mais complicadas. O Sheik preferia
até pedalar descoordenadamente ou se jogar dentro da área ao
ir de encontro com a marcação.
Criticado
justamente por tentar cavar pênaltis nos últimos jogos,
Romarinho fez o contrário aos 28 minutos, na melhor chance
corintiana do primeiro tempo. O atacante carregou a bola em
velocidade pela ponta esquerda, superou os defensores do São
Paulo e foi individualista ao não passar a bola para
Emerson. Ainda assim, o chute dele deu trabalho para Rogério
Ceni.
Aquela rara investida do Corinthians deixou o São Paulo mais
agressivo. Logo na jogada seguinte, Maicon ficou livre de
marcação na pequena área e desperdiçou uma grande chance com
a cabeçada para fora. Alguns torcedores ameaçaram gritar
gol. O mesmo ocorreu um minuto mais tarde, aos 30: Jadson
fez assistência com maestria para Ademilson, que passou por
Alessandro dentro da área e bateu firme. Cássio salvou o
Corinthians com uma bela defesa.
Aos 44 minutos,
o São Paulo ainda assustou o Corinthians pela última vez na
primeira etapa. Jadson, sempre ele, optou pela cobrança de
falta ensaiada e só rolou a bola para Aloísio. O atacante
estufou o peito para concluiu no gol, porém acabou travado
por Fábio Santos. “Isso mostra o bom primeiro tempo que
fizemos. Está faltando o gol”, analisou Maicon, satisfeito
ao descer para o vestiário. Alessandro, ao contrário,
transparecia preocupação: “Temos que melhorar”.
Com mais
disposição, o Corinthians até evoluiu no começo do segundo
tempo (pouco depois de torcedores organizados tricolores
entrarem em conflito com policiais militares) – o que abriu
ainda mais espaços para o São Paulo atacar. Não foi o
suficiente para convencer Tite, que sacou o sonolento Danilo
para a entrada de Diego Macedo aos 12 minutos. O seu time
passava a contar com três laterais destros no gramado. E
também a ser mais presente no setor ofensivo.
Sem se
intimidar com o clássico, o recém-chegado Diego Macedo pedia
a bola com frequência e encarregava-se de armar o
Corinthians. Aos 15, saiu dos pés dele o lançamento que
Rodrigo Caio não conseguiu cortar. Emerson recebeu, invadiu
a área e parou na boa saída de gol de Rogério Ceni. Tite
aplaudiu a iniciativa, enquanto Muricy Ramalho gesticulou
freneticamente para a sua equipe retomar a pressão em busca
do gol de desempate.
O São Paulo até
obedeceu a ordem de seu comandante, principalmente através
do jogo aéreo e dos lances de bola parada, porém o
Corinthians se mostrava mais perigoso àquela altura. Aos 27
minutos, por exemplo, Diego Macedo fez um novo grande
lançamento para Emerson, que ficou sem marcação diante de
Rogério Ceni e chutou para fora. A torcida tricolor
comemorou como se fosse um gol. Muricy Ramalho agiu: trocou
Aloísio, o substituto de Luis Fabiano, por Wellington.
Mesmo com a
mudança (mais tarde, Ademilson deu lugar a Lucas
Evangelista), o São Paulo não conseguia mais ser aquele time
envolvente do primeiro tempo. O Corinthians, já com o
contestado Ibson na vaga de Romarinho, voltou a incomodar
com um desvio venenoso de Paulo André após cobrança de
falta, bem defendida por Rogério Ceni. Poucos minutos
depois, o goleiro são-paulino centralizaria ainda mais as
atenções no Morumbi.
Aos 44 minutos,
Diego Macedo quase comprometeu a sua boa atuação ao se
chocar com Reinaldo, que caiu na área. Para o árbitro Wilson
Luiz Seneme, pênalti. Ceni deu ouvidos aos gritos eufóricos
da torcida do São Paulo, apresentou-se para a cobrança e fez
uma expressão séria – que se transformou em tristeza ao ver
Cássio saltar no canto, defender a cobrança e virar o herói
corintiano do clássico.
*Fonte: Ggazeta
Press / Foto:
Djalma Vassão
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