Segundo o delegado, ainda não é possível afirmar há quanto tempo o suposto
esquema era praticado e nem a quantia total de dinheiro desviada. “Existe um
dinheiro de fonte desconhecida utilizada nos últimos dez anos, ou para
movimentação bancária ou para aquisição de imóveis, de quantia não atualizada
que supera R$ 1 milhão, é o único dado concreto, fazer qualquer estimativa de
quanto isso pode chegar não é responsável no momento”, afirmou.
Além do vereador,
foram presos pela operação da PF e do Ministério Público
Estadual o ex-coordenador de Desenvolvimento Urbano, Ademir
Palhares, o ex-assessor da Secretaria de Agricultura, Cristiano
Rumaqueli, o assessor da pasta, Hélio Aparecido Azevedo, a
assessora parlamentar Maria Helana Scuoppo Massi. Todos os
envolvidos foram encaminhados para o Anexo de Detenção
Provisória da Penitenciária de Araraquara. A única mulher
envolvida foi levada para a Cadeia de Santa Ernestina. Todos
eles estão em celas especiais porque cumprem prisão temporária.
A PF informou que os suspeitos devem ficar presos pelo menos até
sábado (10), para não prejudicarem o restante das investigações.
Os advogados dos envolvidos não foram encontrados para comentar
as prisões.
Por determinação
da Justiça Eleitoral, todos os servidores, incluindo o vereador
foram afastados de seus cargos por 90 dias e devem manter uma
distância de 100 metros de prédios públicos no período. A
Prefeitura e a Câmara Municipal acataram o pedido. Além dos
envolvidos, os titulares das Pastas de Agricultura e de Ciência
e Tecnologia pediram o afastamento de suas funções. O
coordenador Célio Dória e o secretário José Roberto Cardozo
comunicaram o afastamento ao prefeito Marcelo Barbieri no final
da manhã. O secretário de Governo, Antônio Martins, assumirá as
duas pastas.
Investigação -
A operação teve início no mês de dezembro de 2012 depois que investigações
apontaram que o vereador ostentaria patrimônio maior que o declarado ao Juízo
eleitoral. “Há uma ligação muito forte entre os esquemas de corrupção que
detectamos e o que foi apresentado para a Justiça Eleitoral”, disse o delegado.
Segundo a PF, as investigações constataram que vários imóveis eram suprimidos
das declarações ou apontados valores de aquisição muito inferiores ao de
mercado.Segundo o promotor Herivelto Almeida, que também esteve presente na coletiva de
imprensa na sede da Polícia Federal, as investigações compararam também as
declarações feitas pelo parlamentar em outras eleições das quais participou.
Napeloso foi eleito vereador cinco vezes e chegou a ser presidente da Câmara e
atualmente ocupava o cargo de vice-presidente, até ser afastado. Ele foi
secretário de Agricultura no primeiro mandato de Marcelo Barbieri por um ano e
seis meses e chegou a assumir a prefeitura em algumas ocasiões, enquanto
presidente da Câmara.
Práticas ilegais
-
A PF informou que na Secretaria de Ciência, Tecnologia, Turismo e
Desenvolvimento Sustentável os indícios apontam para a cobrança de valores como
condição para a concessão de áreas públicas a empresários para fins de
instalação de plantas industriais e, em alguns casos, como condição para
concessão de autorização para funcionamento de estabelecimentos comerciais.
Na Secretaria de
Agricultura, foram encontrados fortes indícios de fraude em
programa do Governo Federal destinado ao estímulo da produção
familiar, com utilização de Declarações de Aptidão ao Pronaf (DAPs)
compradas ou cedidas por terceiros, as quais são utilizadas por
um pequeno grupo de produtores ou comerciantes que acabam
fornecendo com exclusividade para a Prefeitura Municipal, em
detrimento de outros agricultores familiares.
O problema,
segundo a PF, é que o governo federal estabeleceu um limite para
a compra direta de alimentos por Unidade Familiar (atualmente,
R$ 5,5 mil por ano) de modo a beneficiar o maior número possível
de agricultores familiares.
Parte das DAPs
apresentadas na Secretaria de Agricultura se referem a falsos
fornecedores, sendo que, na realidade, um único fornecedor acaba
por receber valores muito superiores ao limite estabelecido pelo
programa do Governo Federal.
Prefeitura
-
Também em coletiva de imprensa nesta tarde, o prefeito Marcelo Barbieri afirmou
que não sabia do esquema e nem das investigações da PF e do Ministério Público.
“Eu não tinha nenhum conhecimento dos fatos apresentados a mim pela Polícia
Federal nesta manhã. Até então havia sigilo absoluto dos fatos e viemos a saber
hoje”, disse. Barbieri
também afirmou que no período em que Napeloso foi
secretário de Agricultura não recebeu nenhum denúncia de
irregularidade na administração. “Nunca chegou nenhuma
denúncia, nem da parte de Agricultura, nem da parte de
Desenvolvimento”, afirmou. |
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Marcelo Barbieri durante coletiva de imprensa após
prisão de ex-secretário (Foto: Felipe Turioni/G1) |
Sobre a relação
pessoal que mantém com o vereador, de quem é aliado político, o
prefeito disse que ficou triste e surpreso. “Tudo isso é
lamentável, ele tem sido meu aliado, mas com a investigação eu
não tenho nenhuma responsabilidade e torço, como amigo, para que
ele prove sua inocência. Mas é muito chato e triste o que
ocorreu”.
*Fonte:
G1/São Carlos
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