Situação diferente da vivida pelos grandes grupos empresariais,
que desfrutaram de recursos via Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) ou por meio de outras instituições bancárias.
Postura criticada pelo presidente da Associação Paulista de
Avicultura (APA), Érico Antonio Pozzer. "De três a quatro anos
para cá, o setor passou a ser visto como de risco. Os bancos
passaram a fazer empréstimos com juros razoáveis apenas para os
grandes grupos porque viram que o governo assegurava a
sobrevivência deles", afirma.
Nesta entrevista,
Pozzer relembra as dificuldades enfrentadas pela avicultura
durante todo aquele período, indicando as principais razões para
o Estado de São Paulo ter sido o mais afetado pela crise. Fala
ainda da concorrência dos produtos avícolas do Paraná no mercado
paulista, aponta como estão as empresa hoje e o que mudou na
dinâmica produtiva no Estado. Confira.
Avicultura
Industrial - Em 2012 a avicultura viveu uma grande crise,
ocasionada principalmente pela alta elevação nos preços do milho
e soja. São Paulo foi o Estado que mais sofreu. A sua produção
de frangos de corte foi reduzida em 25%, enquanto a média
brasileira ficou em 10%. Empresas avícolas quebraram no Estado e
milhares de empregos foram perdidos. Relembrando um pouco
daquele período. Foi a pior crise vivida até aqui pela
avicultura de São Paulo?
Érico Antonio
Pozzer - Não sei se eu poderia classificá-la como a pior da
história, mas teve um impacto muito forte em todo o setor
produtivo avícola de São Paulo. As dificuldades das empresas já
vinham de 2011. Algumas já tinham quebrado e outras entrado em
recuperação judicial. Crises dependem muito da conjuntura e em
2012 o aumento no preço do milho e depois no da soja foi como
uma gota d'água em um copo cheio. Transbordou. Foi o ápice da
falta de liquidez. Uma coisa é uma empresa em dificuldade, mas
com suas necessidades de caixa mantidas. Outra, é uma empresa em
dificuldade e sem caixa. Em 2012, de uma hora para outra o milho
foi para R$ 37-38 a saca aqui no Estado; a soja pulou para R$
1500 a tonelada. E para nós, só vendiam com pagamento à vista.
De repente, toda a indústria precisava de mais capital de giro,
só que não tinha de onde tirar.
AI - O
cenário de 2011 piorou em 2012 até pelo fato de as empresas
estarem descapitalizadas?
Pozzer -
O ano de 2011 não foi fácil para o setor avícola. Sobrou muito
produto, o que foi determinante para a queda de produção em
2012. As empresas já vinham descapitalizadas de 2011 e os preços
do frango estiveram tão ruins no ano seguinte, que até os
grandes grupos começaram a ter problemas. Os preços se
mantiveram em patamares horrorosos até os meses de junho, julho
e agosto. Isto provocou uma redução na produção avícola do País.
Só que São Paulo foi mais duramente castigado exatamente por ter
um custo muito mais alto nas matérias-primas da ração. Isto em
2011 e 2012. Hoje, este panorama mudou um pouco.
AI - Por
que havia esta diferença tão grande de custo em São Paulo? O
Estado é um dos principais corredores para exportação de grãos
do País.
Pozzer -
A exportação de milho não estava tão intensa em 2011-12, como
está atualmente. Este movimento exportador acabou, de certa
forma, ajudando São Paulo porque elevou também o custo do milho
no Paraná. Hoje, a diferença de uma saca do cereal é de R$
2,00-3,00 a mais no mercado paulista em relação ao paranaense.
Naqueles dois anos chegava facilmente a valores entre R$ 5,00 e
R$ 6,00 a saca. O que aconteceu é que atualmente todos comparam
o preço do milho no porto, tanto em Santos quanto Paranaguá. Com
esta informação, o cerealista ou a cooperativa faz a conta e
avalia qual o melhor negócio: exportar ou vender no mercado
interno. Isto fez com que os preços das matérias-primas ficassem
mais pareados de um ano para cá, o que tem sido positivo para
São Paulo porque reduziu a diferença com o Paraná.
AI -
Retornando a 2012, quais os impactos diretos causados pela crise
naquele ano?
Pozzer -
Toda a conjuntura de 2012 levou a avicultura paulista a sofrer
muito. Diversas empresas quebraram ou entraram em recuperação
judicial, levando a uma redução de 25% na produção de frango de
corte no final daquele ano. Em relação a 2012, estaremos
fechando 2013 com uma produção 15% menor ainda. O Estado alojava
entre 70-72 milhões de frangos por mês. Hoje, aloja pouco mais
de 50 milhões/mês. O lado bom disto é que as empresas que
sobreviveram estão mais sólidas. Mesmo as que estão em
recuperação judicial vão bem. Não se teve mais notícias de
empresas com problemas ou obrigadas a reduzir ainda mais a sua
produção. Pelo contrário, as que restaram estão retornando aos
patamares de abate que tinham anteriormente.
AI - Há
um número de quantos empregos foram perdidos ou de empresas que
enfrentaram problemas na época?
Pozzer -
Precisaria juntar os anos de 2008 a 2012, que foram extremamente
difíceis. Neste período, fechou o frigorífico Frango Forte, que
abatia 200 mil frangos por dia e tinha três mil empregados. A
Cooperativa de Descalvado também enfrentou problemas, deixando
de abater 150 mil aves/dia com 1500 empregos perdidos. Neste
caso, depois o abatedouro voltou a funcionar por meio da Rigor
Alimentos, mas com uma redução no total de abates. Mais
recentemente o frigorífico Primor assumiu a Paulista Alimentos e
ambos pararam de funcionar. Isto representou o fim de uns dois
mil empregos e do abate diário de umas 180 mil aves. O Frangos
Mara também fechou as portas; ele que abatia algo em torno de
25-30 mil frangos/dia. A própria Rigor depois entrou em processo
de recuperação judicial e reduziu seu abate diário de 500 mil
para 300 mil aves. Nesta crise toda, de 2008 para cá, acredito
que uns seis mil empregos diretos foram perdidos e o abate no
Estado foi reduzido em aproximadamente um milhão de aves por
dia.
AI - Um
milhão é um número bem expressivo.
Pozzer -
É uma redução bem expressiva, realmente. No entanto, as empresas
que ficaram no mercado estão firmes. Na APA, restaram 18
associadas. E posso dizer que hoje elas estão bem, citando aqui
as mais conhecidas: Cooperativa Holambra, Ad'oro, Zanchetta,
Flamboiã, Frango Rico, Rigor, Frangoeste, Nutribem, Frango da
Villa, Lajinha. Este aperto acabou servindo para que todos
colocassem os "pés no chão" e consolidassem o seu negócio. É
cedo para falar em crescimento, mas podemos afirmar que as
empresas estão se consolidando.
AI -
Estávamos falando de empregos; a avicultura paulista é
responsável por gerar quantos empregos?
Pozzer -
São 50 mil empregos diretos entre avicultura de corte, de ovos
comerciais, de matrizes e avós no Estado. Sem contar os
integrados e todos os agregados que temos na atividade. O
pessoal da apanha do frango, do transporte de ave viva, da
ração, da carne e produtos. Praticamente se multiplica por dois
as pessoas que estão diariamente ligadas ao setor. Se formos
incluir os indiretos então, a multiplicação é por oito. Envolve
toda a cadeia produtiva, desde a produção do milho até as vendas
no varejo, passando por empresas de medicamentos, nutrição, etc.
"Nesta crise
toda, de 2008 para cá, acredito que uns seis mil empregos
diretos foram perdidos e o abate no Estado foi reduzido em
aproximadamente um milhão de aves por dia"
AI - Como
o setor avícola conseguiu superar o período mais agudo da crise?
Pozzer -
Duas coisas foram fundamentais. A primeira delas. No momento em
que a crise estava feia mesmo, com o risco de mais empresas
quebrarem, o governo estadual se sensibilizou com a nossa
situação. Ele percebeu que realmente enfrentamos uma
concorrência predatória, principalmente em relação ao Paraná, e
decretou a concessão de um crédito outorgado de ICMS [Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] para o setor. Isto
ajudou muito as empresas. O segundo ponto importante. Até aquele
momento, a soja era produto de exportação. O milho, não. Com o
aumento nos embarques do cereal, houve uma elevação do custo do
produto no Paraná. Como expliquei, o pessoal faz a conta. Pega o
preço do milho no porto menos o frete e decide se exporta ou
vende internamente. Hoje, estamos pagando R$ 25-26,00 a saca em
São Paulo. No Paraná está R$ 22-23,00. A diferença não é mais de
20%, é de 10%. Isto fez com que a avicultura paulista ganhasse
maior competitividade.
AI - O
milho produzido no Centro-Oeste é escoado principalmente por
Santos; este fluxo não reduz o preço para os avicultores em São
Paulo?
Pozzer -
Isto na verdade acaba apenas determinando um preço maior do
milho no Estado produtor. Foi o que aconteceu no Paraná e em
Goiás. Há dois anos, nós comprávamos milho de Goiás no segundo
semestre. Hoje, ele se tornou praticamente inviável. Primeiro,
por esta questão do aumento da exportação e segundo devido a BRF.
A empresa está instalada lá e compra toda a produção. No caso do
Paraná, ele tem a própria concorrência do porto, o que tem
levado a esta equiparação de preço com São Paulo, como comentei.
AI - A
avicultura paranaense coloca muito produto em São Paulo? Como
funciona esta dinâmica?
Pozzer -
O Paraná é o principal produtor avícola nacional, com 27% da
produção. São Paulo detém 11% do total. Como a avicultura
paranaense é a maior produtora nacional, ela tem as exportações
e o mercado do seu Estado. Só que ele não se compara com o
mercado paulista, que possui o maior consumo per capita de
frango do País. Enquanto a média nacional é 45 kg, em São Paulo
ela é de 60-63 kg. São 44 milhões de habitantes. Fatalmente, o
grande destino do produto paranaense é o nosso Estado. Como o
Paraná possui uma vantagem competitiva por causa do menor custo
produtivo, eles organizam as vendas internas no Estado e as suas
exportações e o que sobra manda para São Paulo. Só que nem
sempre na melhor condição; vem como desova, criando um círculo
vicioso.
AI - Como
assim?
Pozzer -
O mercado paulista sempre é o primeiro a reagir nos preços.
Quando entra um produto de fora com valor de desova, deprecia o
preço pago a todos os produtores de São Paulo. Só que isto
retorna para o Paraná. Por exemplo, o frango está sendo
comercializado a R$ 4,00 no mercado paulista. Há uma sobra de
produto no Paraná e eles colocam aqui ao valor de R$ 3,50. Uma
semana depois, cai de R$ 4,00 para R$ 3,50; e 15 dias depois,
esta queda de preço também chega ao mercado paranaense. É um
circulo vicioso que infelizmente existe e é pernicioso para toda
a atividade avícola. É uma coisa que não conseguimos equalizar
muito bem ainda. A nossa competitividade está melhorando
justamente porque temos hoje um custo produtivo relativamente
menor se comparado há anos anteriores. Fato motivado por este
movimento de exportação do milho e porque estamos próximos do
maior centro consumidor do País. Enquanto o Paraná gasta R$ 0,30
para colocar um quilo de frango nos pontos de venda de São
Paulo, nós gastamos no máximo R$ 0,13.
AI - Qual
o perfil das agroindústrias paulistas?
Pozzer -
São pequenas e médias empresas de origem familiar. Dos grandes
grupos apenas a Seara, comprada pela JBS, tem algumas unidades
no Estado. Das cooperativas, sobrou apenas a de Holambra. A
maioria realmente é familiar e com um abate diário entre 30 mil
e 250 mil aves.
AI - O
senhor acredita que este perfil contribuiu para que as empresas
paulistas fossem mais afetadas por esta última crise vivida pelo
setor?
Pozzer -
Sem dúvida nenhuma. Nós enfrentamos uma concorrência desleal.
Enquanto o governo derramou bilhões para dois ou três grandes
grupos do setor, nós não recebemos um centavo sequer. Eles foram
beneficiados diretamente por recursos do BNDES ou indiretamente
por meio da Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil ou outros
bancos estatais. Receberam dinheiro à vontade. Quero ver agora.
Tudo indica que será difícil o governo receber este dinheiro de
volta. Não tenho nada contra os grandes grupos. Eles são muito
competentes em relação à gestão financeira, mas para as pequenas
e médias empresas não foi fácil. Nós temos muita dificuldade em
conseguir empréstimos com taxas de juros compatíveis com a
atividade. De três a quatro anos para cá, o setor passou a ser
visto como de risco. Os bancos passaram a fazer empréstimos com
juros razoáveis apenas para os grandes grupos porque viram que o
governo assegurava a sobrevivência deles.
"Nós enfrentamos
uma concorrência desleal. Enquanto o governo derramou bilhões
para dois ou três grandes grupos do setor, nós não recebemos um
centavo sequer. Não tenho nada contra os grandes grupos, mas
para as pequenas e médias empresas não foi fácil. Nós temos
muita dificuldade em conseguir empréstimos com taxas de juros
compatíveis com a atividade"
AI - A
postura adotada pelo governo e pelos bancos foi desigual durante
o período da crise, então?
Pozzer -
Foi uma disputa completamente desigual. Os grandes grupos
tiveram acesso fácil e à vontade ao dinheiro. Os pequenos e
médios, não. Hoje, acredito que conseguimos demonstrar ao
governo que ele estava errado. O próprio governo já teve uma
bela resposta a esta decisão de apoiar os grandes grupos com
aquela fiasqueira toda do Eike Batista [empresário brasileiro,
cujos negócios ruíram no último ano]. Quem irá devolver o
dinheiro para o BNDES? Estão dizendo aí: "o BNDES não vai perder
porque possui ações das empresas dele, tem o patrimônio". Que
patrimônio? Isto está perdido. Quem vai pagar é o contribuinte.
Somos todos nós. Não sou contra o governo apoiar grandes grupos,
seja na área que for. Mas, que apóie também os pequenos e
médios. São eles os que mais produzem e mais empregam. O retorno
das ações feitas em um pequeno ou médio grupo é muito maior do
que em um grande grupo. Isso está provado. Alertar e brigar por
isto é uma das nossas funções como associação do setor avícola.
AI - Os
grandes grupos praticamente dominam a avicultura brasileira.
Pozzer -
Hoje, 75% da avicultura brasileira é resultado da soma da BRF,
JBS e das grandes cooperativas do Paraná. Os outros 25%, formado
por mais de uma centena de abatedouros, sofreu demais neste
período de restrição de empréstimos para capital de giro e
investimento. Isto porque o setor produtivo passou a ser visto
como um problema. Por culpa do próprio setor, que produziu
demais. Não podemos crescer nas mesmas taxas de antes. O mundo
continua em crise. Não há espaço para ampliarmos as exportações.
Os embarques não vão crescer mais 8%, 10%, 15% como era
antigamente. Esquece. Há dois anos nossas exportações crescem 2%
apenas. E isto vai longe. A China continua uma eterna promessa.
Não sei mais quem: eterna promessa. Não é assim, as coisas andam
devagar. Esta crise toda fez com que todo o setor repensasse sua
taxa de crescimento. Sabe por quê?
AI - Por
quê?
Pozzer -
Porque as pequenas e médias empresas sofrem, mas os grandes
grupos também. Quando a totalidade de produtores produz demais,
o primeiro problema é a queda de preço no mercado interno. O
segundo é que também cai o valor da carne exportada. Se está
sobrando internamente, é preciso exportar. Ninguém é mais bobo
hoje. O mundo sabe quais os patamares da produção brasileira,
qual a expectativa e como será o seu comportamento. Ou seja, os
mercados interno e externo estão intimamente ligados em relação
ao equilíbrio de preço. Toda a crise que vivemos fez com que o
setor repensasse o seu crescimento; justamente para não
trabalhar com prejuízo. As pequenas e médias empresas acabam
diminuindo os volumes de produção, cortam suas despesas e deixam
de investir. O que é ruim para toda a atividade. Os grandes
grupos fazem o quê? Um pouco disto também, só que eles têm um
acionista cobrando resultados.
AI - O
que acaba exercendo uma pressão interna nos grandes grupos.
Pozzer -
Até pouco tempo, os grandes grupos pensavam basicamente em share.
Para ampliar sua participação no mercado nacional e nas
exportações, eles aumentavam a produção. Hoje, esta visão já
está mudando. Os grandes grupos estão nas mãos de acionistas e
acionista quer resultado. Ele quer o retorno do investimento
dele. O que acho benéfico porque de certa forma contribuiu para
que tendêssemos a um crescimento mais comedido da produção.
Exatamente por conta de o mercado interno estar menos elástico.
Não adianta querer que as pessoas comam carne de frango três
vezes por dia. O consumo per capita já está em 45 kg. Em São
Paulo ele é de mais de 60 kg. Não há muito mais espaço para
crescer. No caso da exportação, a mesma coisa. Enquanto não
passar de vez esta crise para que o mundo volte a girar como
girava até 2008, nossas vendas externas não irão crescer muito.
Esquece. É isso que temos de ter na cabeça.
AI - São
Paulo é o quarto produtor e exportador de carne de frango,
embora com uma diferença grande em relação aos três primeiros,
que são os Estado da região Sul. Há alguma iniciativa ou
perspectiva de se ampliar esta participação nas exportações?
Pozzer -
É muito difícil as empresas paulistas terem uma plataforma
voltada à exportação devido as suas características e até pelo
próprio tamanho. Os grandes grupos normalmente possuem plantas
industriais direcionadas a processar produtos para exportação,
com outras específicas para o mercado interno. Isto porque o
fluxo é diferente, o peso do frango vivo é outro, muitas vezes a
ração tem de ser diferenciada devido a alguma exigência
específica do país comprador. Com um único abatedouro é muito
difícil atender as especificidades do mercado interno e externo.
As empresas de São Paulo nunca irão deixar de exportar, mas
continuarão embarcando produtos de menor preço no mercado
doméstico, como asa, meio da asa, CMS [Carne Mecanicamente
Separada], pés, moela, etc. São todos produtos melhor
remunerados no mercado internacional. A indústria paulista
manterá sempre uns 10-15% da sua produção para exportar, mas
sempre focada em produtos de menor valor agregado. O mercado
interno é bom e estamos muito próximos do principal polo
consumidor. A tendência é manter esta mesma dinâmica.
AI - Em
termos de perfil, o senhor acredita que as agroindústrias de São
Paulo se manterão em tamanhos pequenos e médios? Não há alguma
perspectiva de expansão?
Pozzer -
Esta característica vai permanecer. Temos empresas muito bem
estruturadas, com plantas industriais de excelente qualidade,
mas que continuarão sendo de médio porte. A não ser que um
grande grupo compre três ou quatro empresas e as junte. Já houve
tentativas disto. Não aconteceu porque eles querem de graça.
Quem assumiu a FrangoSul, pegou de graça. A JBS adquiriu duas
empresas em Santa Catarina também de graça. Ninguém colocar
dinheiro. Como os empresários daqui não cederam, o negócio não
aconteceu.
AI - Esta
última crise alterou de alguma forma a dinâmica da avicultura de
corte no Estado?
Pozzer -
A primeira coisa foi que as empresas ficaram mais sólidas.
Quando se passa por uma grande dificuldade, a tendência é se
precaver para suportar um eventual segundo round. Outra mudança
é que as vendas no Estado se concentraram ainda mais. Antes, 30%
da produção paulista seguia para o Rio de Janeiro, o próprio
Paraná, sul de Minas Gerais... Como todos se protegeram, as
empresas de São Paulo estão comercializando seus produtos
praticamente só no próprio Estado. Algo que já está consolidado.
Todos estão se protegendo. Minas Gerais protegeu a sua
avicultura com o sistema de substituição tributária. Hoje, para
mandar produtos para o mercado mineiro tem de pagar imposto na
fronteira. Rio Grande do Sul protegeu da mesma forma.
AI - Na
produção, houve mudanças?
Pozzer -
No campo está em curso um processo de modernização da
avicultura. Com a redução de 25% na produção, houve uma seleção
natural. As granjas com piores resultados fecharam as portas.
Hoje, muitas granjas de São Paulo já atualizaram suas
instalações, obtendo um melhor desempenho. Galpões novos também
foram construídos, já sob os atuais conceitos de tecnificação. O
produtor até não tem culpa, mas infelizmente quando acontece uma
redução deste tamanho, as empresas optam por ficar com as
propriedades de melhor resultado. O lado bom é que os
avicultores que permaneceram na atividade estão muito mais
competitivos.
AI - Onde
estão localizadas as principais produções avícolas de corte no
Estado?
Pozzer -
Há várias regiões de importância. A de Sorocaba é a que reúne o
maior número de empresas. O Céu Azul possui duas unidades
instaladas nesta região, que tem ainda o Frangoeste em Tietê, o
Flamboiã em Cabreúva e outros. A região de Mogi Mirim também é
relevante; por ali temos instalado o Pena Branca; o Frango da
Villa, que fica em Itobi. No noroeste do Estado temos o Frango
Rico em Votuporanga, o Nutribem, o Itabom. Há uma certa
distribuição por todo o Estado.
AI -
Hoje, quais são os principais desafios da avicultura paulista?
Pozzer -
O custo continua sendo o principal deles. Somos obrigados a
otimizar tudo porque houve um aumento de custo muito grande na
mão-de-obra dos abatedouros. Com a NR 36 [norma regulamentadora
que trata da segurança e saúde no trabalho em empresas de abate
e processamento de carnes e derivados] perdemos praticamente 8%
da força de trabalho dentro dos frigoríficos em função das
pausas que os trabalhadores terão de fazer. É uma determinação
que já começamos a aplicar e que será concretizada ao longo
deste ano. Mas, teremos de otimizar esta mão-de-obra porque ela
está ficando cara e escassa no setor avícola. A rotatividade
aumentou muito e as empresas terão de investir ainda mais em
automatização. O custo da produção do frango vivo também
continua a ser um desafio. Isto melhorou um pouco. O preço da
saca de milho registrou uma melhora em relação ao Paraná e a
associação conseguiu trazer alguns leilões do cereal para o
Estado, o que também ajudou bastante. O grande desafio da
avicultura paulista continua sendo otimizar os seus custos.
AI - Em
relação a esta dificuldade com mão-de-obra, ela só será
resolvida com investimentos em tecnologia?
Pozzer -
Sim. Investimento em tecnologia e equipamentos. Algo que custa
muito dinheiro. Sempre haverá muitas pessoas trabalhando no
abatedouro, mas teremos de reduzir o volume de mão-de-obra
utilizado. Antigamente sobrava gente, hoje falta. Os jovens que
estão no mercado de trabalho não insistem muito. Qualquer
dificuldade, pedem demissão. Não existe mais aquele funcionário
que fica 15 anos na empresa. E isto não acontece só na
avicultura.
AI -
Quais as perspectivas para a avicultura paulista em 2014 e o que
se pode projetar para o futuro dela?
Pozzer -
Em 2013 nós recuperamos um pouco da participação que tínhamos
dentro da produção nacional de frango, após esta crise de
2008-2012. Não é possível afirmar que retornaremos aos volumes
que produzíamos anteriormente, mas em 2014 acredito que podemos
recuperar uns 5% em relação a nossa produção no ano passado.
Continuaremos a ser competitivos, justamente por esta paridade
no preço dos grãos e porque estamos no grande centro consumidor
do País. Nos próximos anos São Paulo gradativamente deve
recuperar seus volumes tradicionais de produção. Isto, claro,
dentro da realidade de crescimento da avicultura nacional e de
cada Estado. Hoje, por exemplo, Goiás aloja muito mais do que
Minas Gerais. Houve uma enorme migração para o Centro-Oeste em
função dos grandes grupos instalados lá. São Paulo sempre foi
responsável por algo entre 13% e 15% da produção nacional.
Fechamos o ano passado com 11%. Acredito que até 2020 voltaremos
aos nossos patamares históricos.
Fonte: Redação
Avicultura Industrial
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