19/02/2014 (07h23)

Presidente da APA, em entrevista, relembra fechamento da Cooperativa e empregos perdidos

Produção avícola de corte de São Paulo foi uma das mais atingidas pela crise gerada pela alta nos custos de produção em 2012. Érico Antonio Pozzer, presidente da APA, lembra como foi atravessar o período de dificuldades

Os altos custos de produção tiveram um efeito devastador para a avicultura no ano de 2012. A alta nos preços do milho e soja pegou todo o setor descapitalizado. Em 2011 a excessiva produção depreciou o preço do frango, levando as indústrias a registrarem margens apertadas e até prejuízos. O Estado de São Paulo foi o mais atingido. A sua produção caiu 25% naquele ano. Empresas quebraram e empregos foram perdidos. O ano de 2012 foi o ápice de uma crise na verdade iniciada em 2008.

Tendo pequenas e médias empresas formando sua base, a avicultura de corte paulista encontrou extrema dificuldade em obter empréstimos a juros compatíveis à atividade.


Situação diferente da vivida pelos grandes grupos empresariais, que desfrutaram de recursos via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou por meio de outras instituições bancárias. Postura criticada pelo presidente da Associação Paulista de Avicultura (APA), Érico Antonio Pozzer. "De três a quatro anos para cá, o setor passou a ser visto como de risco. Os bancos passaram a fazer empréstimos com juros razoáveis apenas para os grandes grupos porque viram que o governo assegurava a sobrevivência deles", afirma.

Nesta entrevista, Pozzer relembra as dificuldades enfrentadas pela avicultura durante todo aquele período, indicando as principais razões para o Estado de São Paulo ter sido o mais afetado pela crise. Fala ainda da concorrência dos produtos avícolas do Paraná no mercado paulista, aponta como estão as empresa hoje e o que mudou na dinâmica produtiva no Estado. Confira.

Avicultura Industrial - Em 2012 a avicultura viveu uma grande crise, ocasionada principalmente pela alta elevação nos preços do milho e soja. São Paulo foi o Estado que mais sofreu. A sua produção de frangos de corte foi reduzida em 25%, enquanto a média brasileira ficou em 10%. Empresas avícolas quebraram no Estado e milhares de empregos foram perdidos. Relembrando um pouco daquele período. Foi a pior crise vivida até aqui pela avicultura de São Paulo?

Érico Antonio Pozzer - Não sei se eu poderia classificá-la como a pior da história, mas teve um impacto muito forte em todo o setor produtivo avícola de São Paulo. As dificuldades das empresas já vinham de 2011. Algumas já tinham quebrado e outras entrado em recuperação judicial. Crises dependem muito da conjuntura e em 2012 o aumento no preço do milho e depois no da soja foi como uma gota d'água em um copo cheio. Transbordou. Foi o ápice da falta de liquidez. Uma coisa é uma empresa em dificuldade, mas com suas necessidades de caixa mantidas. Outra, é uma empresa em dificuldade e sem caixa. Em 2012, de uma hora para outra o milho foi para R$ 37-38 a saca aqui no Estado; a soja pulou para R$ 1500 a tonelada. E para nós, só vendiam com pagamento à vista. De repente, toda a indústria precisava de mais capital de giro, só que não tinha de onde tirar.

AI - O cenário de 2011 piorou em 2012 até pelo fato de as empresas estarem descapitalizadas?

Pozzer - O ano de 2011 não foi fácil para o setor avícola. Sobrou muito produto, o que foi determinante para a queda de produção em 2012. As empresas já vinham descapitalizadas de 2011 e os preços do frango estiveram tão ruins no ano seguinte, que até os grandes grupos começaram a ter problemas. Os preços se mantiveram em patamares horrorosos até os meses de junho, julho e agosto. Isto provocou uma redução na produção avícola do País. Só que São Paulo foi mais duramente castigado exatamente por ter um custo muito mais alto nas matérias-primas da ração. Isto em 2011 e 2012. Hoje, este panorama mudou um pouco.

AI - Por que havia esta diferença tão grande de custo em São Paulo? O Estado é um dos principais corredores para exportação de grãos do País.

Pozzer - A exportação de milho não estava tão intensa em 2011-12, como está atualmente. Este movimento exportador acabou, de certa forma, ajudando São Paulo porque elevou também o custo do milho no Paraná. Hoje, a diferença de uma saca do cereal é de R$ 2,00-3,00 a mais no mercado paulista em relação ao paranaense. Naqueles dois anos chegava facilmente a valores entre R$ 5,00 e R$ 6,00 a saca. O que aconteceu é que atualmente todos comparam o preço do milho no porto, tanto em Santos quanto Paranaguá. Com esta informação, o cerealista ou a cooperativa faz a conta e avalia qual o melhor negócio: exportar ou vender no mercado interno. Isto fez com que os preços das matérias-primas ficassem mais pareados de um ano para cá, o que tem sido positivo para São Paulo porque reduziu a diferença com o Paraná.

AI - Retornando a 2012, quais os impactos diretos causados pela crise naquele ano?

Pozzer - Toda a conjuntura de 2012 levou a avicultura paulista a sofrer muito. Diversas empresas quebraram ou entraram em recuperação judicial, levando a uma redução de 25% na produção de frango de corte no final daquele ano. Em relação a 2012, estaremos fechando 2013 com uma produção 15% menor ainda. O Estado alojava entre 70-72 milhões de frangos por mês. Hoje, aloja pouco mais de 50 milhões/mês. O lado bom disto é que as empresas que sobreviveram estão mais sólidas. Mesmo as que estão em recuperação judicial vão bem. Não se teve mais notícias de empresas com problemas ou obrigadas a reduzir ainda mais a sua produção. Pelo contrário, as que restaram estão retornando aos patamares de abate que tinham anteriormente.

AI - Há um número de quantos empregos foram perdidos ou de empresas que enfrentaram problemas na época?

Pozzer - Precisaria juntar os anos de 2008 a 2012, que foram extremamente difíceis. Neste período, fechou o frigorífico Frango Forte, que abatia 200 mil frangos por dia e tinha três mil empregados. A Cooperativa de Descalvado também enfrentou problemas, deixando de abater 150 mil aves/dia com 1500 empregos perdidos. Neste caso, depois o abatedouro voltou a funcionar por meio da Rigor Alimentos, mas com uma redução no total de abates. Mais recentemente o frigorífico Primor assumiu a Paulista Alimentos e ambos pararam de funcionar. Isto representou o fim de uns dois mil empregos e do abate diário de umas 180 mil aves. O Frangos Mara também fechou as portas; ele que abatia algo em torno de 25-30 mil frangos/dia. A própria Rigor depois entrou em processo de recuperação judicial e reduziu seu abate diário de 500 mil para 300 mil aves. Nesta crise toda, de 2008 para cá, acredito que uns seis mil empregos diretos foram perdidos e o abate no Estado foi reduzido em aproximadamente um milhão de aves por dia.

AI - Um milhão é um número bem expressivo.

Pozzer - É uma redução bem expressiva, realmente. No entanto, as empresas que ficaram no mercado estão firmes. Na APA, restaram 18 associadas. E posso dizer que hoje elas estão bem, citando aqui as mais conhecidas: Cooperativa Holambra, Ad'oro, Zanchetta, Flamboiã, Frango Rico, Rigor, Frangoeste, Nutribem, Frango da Villa, Lajinha. Este aperto acabou servindo para que todos colocassem os "pés no chão" e consolidassem o seu negócio. É cedo para falar em crescimento, mas podemos afirmar que as empresas estão se consolidando.

AI - Estávamos falando de empregos; a avicultura paulista é responsável por gerar quantos empregos?

Pozzer - São 50 mil empregos diretos entre avicultura de corte, de ovos comerciais, de matrizes e avós no Estado. Sem contar os integrados e todos os agregados que temos na atividade. O pessoal da apanha do frango, do transporte de ave viva, da ração, da carne e produtos. Praticamente se multiplica por dois as pessoas que estão diariamente ligadas ao setor. Se formos incluir os indiretos então, a multiplicação é por oito. Envolve toda a cadeia produtiva, desde a produção do milho até as vendas no varejo, passando por empresas de medicamentos, nutrição, etc.

"Nesta crise toda, de 2008 para cá, acredito que uns seis mil empregos diretos foram perdidos e o abate no Estado foi reduzido em aproximadamente um milhão de aves por dia"

AI - Como o setor avícola conseguiu superar o período mais agudo da crise?

Pozzer - Duas coisas foram fundamentais. A primeira delas. No momento em que a crise estava feia mesmo, com o risco de mais empresas quebrarem, o governo estadual se sensibilizou com a nossa situação. Ele percebeu que realmente enfrentamos uma concorrência predatória, principalmente em relação ao Paraná, e decretou a concessão de um crédito outorgado de ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] para o setor. Isto ajudou muito as empresas. O segundo ponto importante. Até aquele momento, a soja era produto de exportação. O milho, não. Com o aumento nos embarques do cereal, houve uma elevação do custo do produto no Paraná. Como expliquei, o pessoal faz a conta. Pega o preço do milho no porto menos o frete e decide se exporta ou vende internamente. Hoje, estamos pagando R$ 25-26,00 a saca em São Paulo. No Paraná está R$ 22-23,00. A diferença não é mais de 20%, é de 10%. Isto fez com que a avicultura paulista ganhasse maior competitividade.

AI - O milho produzido no Centro-Oeste é escoado principalmente por Santos; este fluxo não reduz o preço para os avicultores em São Paulo?

Pozzer - Isto na verdade acaba apenas determinando um preço maior do milho no Estado produtor. Foi o que aconteceu no Paraná e em Goiás. Há dois anos, nós comprávamos milho de Goiás no segundo semestre. Hoje, ele se tornou praticamente inviável. Primeiro, por esta questão do aumento da exportação e segundo devido a BRF. A empresa está instalada lá e compra toda a produção. No caso do Paraná, ele tem a própria concorrência do porto, o que tem levado a esta equiparação de preço com São Paulo, como comentei.

AI - A avicultura paranaense coloca muito produto em São Paulo? Como funciona esta dinâmica?

Pozzer - O Paraná é o principal produtor avícola nacional, com 27% da produção. São Paulo detém 11% do total. Como a avicultura paranaense é a maior produtora nacional, ela tem as exportações e o mercado do seu Estado. Só que ele não se compara com o mercado paulista, que possui o maior consumo per capita de frango do País. Enquanto a média nacional é 45 kg, em São Paulo ela é de 60-63 kg. São 44 milhões de habitantes. Fatalmente, o grande destino do produto paranaense é o nosso Estado. Como o Paraná possui uma vantagem competitiva por causa do menor custo produtivo, eles organizam as vendas internas no Estado e as suas exportações e o que sobra manda para São Paulo. Só que nem sempre na melhor condição; vem como desova, criando um círculo vicioso.

AI - Como assim?

Pozzer - O mercado paulista sempre é o primeiro a reagir nos preços. Quando entra um produto de fora com valor de desova, deprecia o preço pago a todos os produtores de São Paulo. Só que isto retorna para o Paraná. Por exemplo, o frango está sendo comercializado a R$ 4,00 no mercado paulista. Há uma sobra de produto no Paraná e eles colocam aqui ao valor de R$ 3,50. Uma semana depois, cai de R$ 4,00 para R$ 3,50; e 15 dias depois, esta queda de preço também chega ao mercado paranaense. É um circulo vicioso que infelizmente existe e é pernicioso para toda a atividade avícola. É uma coisa que não conseguimos equalizar muito bem ainda. A nossa competitividade está melhorando justamente porque temos hoje um custo produtivo relativamente menor se comparado há anos anteriores. Fato motivado por este movimento de exportação do milho e porque estamos próximos do maior centro consumidor do País. Enquanto o Paraná gasta R$ 0,30 para colocar um quilo de frango nos pontos de venda de São Paulo, nós gastamos no máximo R$ 0,13.

AI - Qual o perfil das agroindústrias paulistas?

Pozzer - São pequenas e médias empresas de origem familiar. Dos grandes grupos apenas a Seara, comprada pela JBS, tem algumas unidades no Estado. Das cooperativas, sobrou apenas a de Holambra. A maioria realmente é familiar e com um abate diário entre 30 mil e 250 mil aves.

AI - O senhor acredita que este perfil contribuiu para que as empresas paulistas fossem mais afetadas por esta última crise vivida pelo setor?

Pozzer - Sem dúvida nenhuma. Nós enfrentamos uma concorrência desleal. Enquanto o governo derramou bilhões para dois ou três grandes grupos do setor, nós não recebemos um centavo sequer. Eles foram beneficiados diretamente por recursos do BNDES ou indiretamente por meio da Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil ou outros bancos estatais. Receberam dinheiro à vontade. Quero ver agora. Tudo indica que será difícil o governo receber este dinheiro de volta. Não tenho nada contra os grandes grupos. Eles são muito competentes em relação à gestão financeira, mas para as pequenas e médias empresas não foi fácil. Nós temos muita dificuldade em conseguir empréstimos com taxas de juros compatíveis com a atividade. De três a quatro anos para cá, o setor passou a ser visto como de risco. Os bancos passaram a fazer empréstimos com juros razoáveis apenas para os grandes grupos porque viram que o governo assegurava a sobrevivência deles.

"Nós enfrentamos uma concorrência desleal. Enquanto o governo derramou bilhões para dois ou três grandes grupos do setor, nós não recebemos um centavo sequer. Não tenho nada contra os grandes grupos, mas para as pequenas e médias empresas não foi fácil. Nós temos muita dificuldade em conseguir empréstimos com taxas de juros compatíveis com a atividade"

AI - A postura adotada pelo governo e pelos bancos foi desigual durante o período da crise, então?

Pozzer - Foi uma disputa completamente desigual. Os grandes grupos tiveram acesso fácil e à vontade ao dinheiro. Os pequenos e médios, não. Hoje, acredito que conseguimos demonstrar ao governo que ele estava errado. O próprio governo já teve uma bela resposta a esta decisão de apoiar os grandes grupos com aquela fiasqueira toda do Eike Batista [empresário brasileiro, cujos negócios ruíram no último ano]. Quem irá devolver o dinheiro para o BNDES? Estão dizendo aí: "o BNDES não vai perder porque possui ações das empresas dele, tem o patrimônio". Que patrimônio? Isto está perdido. Quem vai pagar é o contribuinte. Somos todos nós. Não sou contra o governo apoiar grandes grupos, seja na área que for. Mas, que apóie também os pequenos e médios. São eles os que mais produzem e mais empregam. O retorno das ações feitas em um pequeno ou médio grupo é muito maior do que em um grande grupo. Isso está provado. Alertar e brigar por isto é uma das nossas funções como associação do setor avícola.

AI - Os grandes grupos praticamente dominam a avicultura brasileira.

Pozzer - Hoje, 75% da avicultura brasileira é resultado da soma da BRF, JBS e das grandes cooperativas do Paraná. Os outros 25%, formado por mais de uma centena de abatedouros, sofreu demais neste período de restrição de empréstimos para capital de giro e investimento. Isto porque o setor produtivo passou a ser visto como um problema. Por culpa do próprio setor, que produziu demais. Não podemos crescer nas mesmas taxas de antes. O mundo continua em crise. Não há espaço para ampliarmos as exportações. Os embarques não vão crescer mais 8%, 10%, 15% como era antigamente. Esquece. Há dois anos nossas exportações crescem 2% apenas. E isto vai longe. A China continua uma eterna promessa. Não sei mais quem: eterna promessa. Não é assim, as coisas andam devagar. Esta crise toda fez com que todo o setor repensasse sua taxa de crescimento. Sabe por quê?

AI - Por quê?

Pozzer - Porque as pequenas e médias empresas sofrem, mas os grandes grupos também. Quando a totalidade de produtores produz demais, o primeiro problema é a queda de preço no mercado interno. O segundo é que também cai o valor da carne exportada. Se está sobrando internamente, é preciso exportar. Ninguém é mais bobo hoje. O mundo sabe quais os patamares da produção brasileira, qual a expectativa e como será o seu comportamento. Ou seja, os mercados interno e externo estão intimamente ligados em relação ao equilíbrio de preço. Toda a crise que vivemos fez com que o setor repensasse o seu crescimento; justamente para não trabalhar com prejuízo. As pequenas e médias empresas acabam diminuindo os volumes de produção, cortam suas despesas e deixam de investir. O que é ruim para toda a atividade. Os grandes grupos fazem o quê? Um pouco disto também, só que eles têm um acionista cobrando resultados.

AI - O que acaba exercendo uma pressão interna nos grandes grupos.

Pozzer - Até pouco tempo, os grandes grupos pensavam basicamente em share. Para ampliar sua participação no mercado nacional e nas exportações, eles aumentavam a produção. Hoje, esta visão já está mudando. Os grandes grupos estão nas mãos de acionistas e acionista quer resultado. Ele quer o retorno do investimento dele. O que acho benéfico porque de certa forma contribuiu para que tendêssemos a um crescimento mais comedido da produção. Exatamente por conta de o mercado interno estar menos elástico. Não adianta querer que as pessoas comam carne de frango três vezes por dia. O consumo per capita já está em 45 kg. Em São Paulo ele é de mais de 60 kg. Não há muito mais espaço para crescer. No caso da exportação, a mesma coisa. Enquanto não passar de vez esta crise para que o mundo volte a girar como girava até 2008, nossas vendas externas não irão crescer muito. Esquece. É isso que temos de ter na cabeça.

AI - São Paulo é o quarto produtor e exportador de carne de frango, embora com uma diferença grande em relação aos três primeiros, que são os Estado da região Sul. Há alguma iniciativa ou perspectiva de se ampliar esta participação nas exportações?

Pozzer - É muito difícil as empresas paulistas terem uma plataforma voltada à exportação devido as suas características e até pelo próprio tamanho. Os grandes grupos normalmente possuem plantas industriais direcionadas a processar produtos para exportação, com outras específicas para o mercado interno. Isto porque o fluxo é diferente, o peso do frango vivo é outro, muitas vezes a ração tem de ser diferenciada devido a alguma exigência específica do país comprador. Com um único abatedouro é muito difícil atender as especificidades do mercado interno e externo. As empresas de São Paulo nunca irão deixar de exportar, mas continuarão embarcando produtos de menor preço no mercado doméstico, como asa, meio da asa, CMS [Carne Mecanicamente Separada], pés, moela, etc. São todos produtos melhor remunerados no mercado internacional. A indústria paulista manterá sempre uns 10-15% da sua produção para exportar, mas sempre focada em produtos de menor valor agregado. O mercado interno é bom e estamos muito próximos do principal polo consumidor. A tendência é manter esta mesma dinâmica.

AI - Em termos de perfil, o senhor acredita que as agroindústrias de São Paulo se manterão em tamanhos pequenos e médios? Não há alguma perspectiva de expansão?

Pozzer - Esta característica vai permanecer. Temos empresas muito bem estruturadas, com plantas industriais de excelente qualidade, mas que continuarão sendo de médio porte. A não ser que um grande grupo compre três ou quatro empresas e as junte. Já houve tentativas disto. Não aconteceu porque eles querem de graça. Quem assumiu a FrangoSul, pegou de graça. A JBS adquiriu duas empresas em Santa Catarina também de graça. Ninguém colocar dinheiro. Como os empresários daqui não cederam, o negócio não aconteceu.

AI - Esta última crise alterou de alguma forma a dinâmica da avicultura de corte no Estado?

Pozzer - A primeira coisa foi que as empresas ficaram mais sólidas. Quando se passa por uma grande dificuldade, a tendência é se precaver para suportar um eventual segundo round. Outra mudança é que as vendas no Estado se concentraram ainda mais. Antes, 30% da produção paulista seguia para o Rio de Janeiro, o próprio Paraná, sul de Minas Gerais... Como todos se protegeram, as empresas de São Paulo estão comercializando seus produtos praticamente só no próprio Estado. Algo que já está consolidado. Todos estão se protegendo. Minas Gerais protegeu a sua avicultura com o sistema de substituição tributária. Hoje, para mandar produtos para o mercado mineiro tem de pagar imposto na fronteira. Rio Grande do Sul protegeu da mesma forma.

AI - Na produção, houve mudanças?

Pozzer - No campo está em curso um processo de modernização da avicultura. Com a redução de 25% na produção, houve uma seleção natural. As granjas com piores resultados fecharam as portas. Hoje, muitas granjas de São Paulo já atualizaram suas instalações, obtendo um melhor desempenho. Galpões novos também foram construídos, já sob os atuais conceitos de tecnificação. O produtor até não tem culpa, mas infelizmente quando acontece uma redução deste tamanho, as empresas optam por ficar com as propriedades de melhor resultado. O lado bom é que os avicultores que permaneceram na atividade estão muito mais competitivos.

AI - Onde estão localizadas as principais produções avícolas de corte no Estado?

Pozzer - Há várias regiões de importância. A de Sorocaba é a que reúne o maior número de empresas. O Céu Azul possui duas unidades instaladas nesta região, que tem ainda o Frangoeste em Tietê, o Flamboiã em Cabreúva e outros. A região de Mogi Mirim também é relevante; por ali temos instalado o Pena Branca; o Frango da Villa, que fica em Itobi. No noroeste do Estado temos o Frango Rico em Votuporanga, o Nutribem, o Itabom. Há uma certa distribuição por todo o Estado.

AI - Hoje, quais são os principais desafios da avicultura paulista?

Pozzer - O custo continua sendo o principal deles. Somos obrigados a otimizar tudo porque houve um aumento de custo muito grande na mão-de-obra dos abatedouros. Com a NR 36 [norma regulamentadora que trata da segurança e saúde no trabalho em empresas de abate e processamento de carnes e derivados] perdemos praticamente 8% da força de trabalho dentro dos frigoríficos em função das pausas que os trabalhadores terão de fazer. É uma determinação que já começamos a aplicar e que será concretizada ao longo deste ano. Mas, teremos de otimizar esta mão-de-obra porque ela está ficando cara e escassa no setor avícola. A rotatividade aumentou muito e as empresas terão de investir ainda mais em automatização. O custo da produção do frango vivo também continua a ser um desafio. Isto melhorou um pouco. O preço da saca de milho registrou uma melhora em relação ao Paraná e a associação conseguiu trazer alguns leilões do cereal para o Estado, o que também ajudou bastante. O grande desafio da avicultura paulista continua sendo otimizar os seus custos.

AI - Em relação a esta dificuldade com mão-de-obra, ela só será resolvida com investimentos em tecnologia?

Pozzer - Sim. Investimento em tecnologia e equipamentos. Algo que custa muito dinheiro. Sempre haverá muitas pessoas trabalhando no abatedouro, mas teremos de reduzir o volume de mão-de-obra utilizado. Antigamente sobrava gente, hoje falta. Os jovens que estão no mercado de trabalho não insistem muito. Qualquer dificuldade, pedem demissão. Não existe mais aquele funcionário que fica 15 anos na empresa. E isto não acontece só na avicultura.

AI - Quais as perspectivas para a avicultura paulista em 2014 e o que se pode projetar para o futuro dela?

Pozzer - Em 2013 nós recuperamos um pouco da participação que tínhamos dentro da produção nacional de frango, após esta crise de 2008-2012. Não é possível afirmar que retornaremos aos volumes que produzíamos anteriormente, mas em 2014 acredito que podemos recuperar uns 5% em relação a nossa produção no ano passado. Continuaremos a ser competitivos, justamente por esta paridade no preço dos grãos e porque estamos no grande centro consumidor do País. Nos próximos anos São Paulo gradativamente deve recuperar seus volumes tradicionais de produção. Isto, claro, dentro da realidade de crescimento da avicultura nacional e de cada Estado. Hoje, por exemplo, Goiás aloja muito mais do que Minas Gerais. Houve uma enorme migração para o Centro-Oeste em função dos grandes grupos instalados lá. São Paulo sempre foi responsável por algo entre 13% e 15% da produção nacional. Fechamos o ano passado com 11%. Acredito que até 2020 voltaremos aos nossos patamares históricos.

Fonte:  Redação Avicultura Industrial
 

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