“O sentimento pelo título é indescritível porque sou meio caipira do
interior e esse tipo de coisa toca muito a gente – inclusive pela
presença dos meus familiares, a gente que vem de uma família pobre
de trabalhadores, como a grande maioria dos brasileiros. Chegar a
uma universidade, a professor titular e conseguir esse
reconhecimento é muito bom, gratificante e emocionante”, disse o
homenageado, mostrando a mesma humildade ao falar da carreira.
“Sempre digo que o cientista é um pedreiro, uma profissão igual a
outra qualquer: é preciso construir, desde a base, um alicerce forte
para que a casa seja habitável e ir fazendo melhorias. Também foram
importantes meus estágios no exterior, a família que me apoiou muito
e os grandes alunos e colaboradores que sempre tive; sem eles, não
chegaria aqui.”
Boschiero preparou um
discurso de três páginas para a cerimônia, mas temeroso de que a
emoção o impedisse de fazê-lo na íntegra, preferiu ir diretamente
aos agradecimentos pelo título de Professor Emérito. “Meu maior
agradecimento vai para a Unicamp, quero deixar claro que foi uma
honra, um privilégio ter sido e continuar sendo professor desta
casa. Sempre me pergunto se durante todos esses anos me dediquei com
a intensidade necessária para devolver a essa instituição tudo
aquilo que ela me proporcionou”, declarou, sem esquecer os colegas
professores e funcionários do IB, os alunos de pós-graduação e as
agências de fomento. “E finalmente, aos meus familiares: minha
esposa Carmen e meus filhos Camila e Fernando, com menção especial
ao Felipe, que devido a uma doença importante que o consumiu durante
toda a vida, veio a falecer há um ano e meio, com apenas 37 anos de
idade.”
O reitor Tadeu Jorge
observou que estes momentos de homenagem aos que construíram a
Unicamp são de relevância histórica para a cultura interna. “São de
grande valia e valor porque a Universidade homenageia os exemplos
que merecem ser destacados e principalmente seguidos. A contribuição
do professor Boschiero à Unicamp, ao avanço do conhecimento, está
aqui reverenciada como exemplo para as novas gerações. Vivo a
Universidade há mais de 40 anos e, ainda como estudante ou professor
em início de carreira, mesmo em área distante, ouvia nomes tidos
como referências em termos de dedicação e de iniciativa que fizeram
a Unicamp ganhar a qualidade dos dias de hoje. E um desses nomes era
o seu.”
Convidado
para fazer a saudação ao homenageado, o professor Mario Saad,
diretor da Faculdade de Ciências Médicas, lembrou que estava
no primeiro ano da pós-graduação quando teve uma palestra
que marcaria sua vida. “O professor Boschiero apresentou um
conceito novo de que a secreção de insulina é estimulada
pela metabolização de glicose na ilhota, e não por um
receptor de glicose, como até então se ensinava nos
departamentos de fisiologia – foi a primeira mudança de
paradigma que vivenciei. Agradeço a ele por ter me ensinado
não só sobre a secreção de insulina, mas principalmente por
ter mostrado a mim e a uma geração da Unicamp, |
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através do seu
exemplo, coerência, ética e humildade; a honestidade e
integridade pessoais transparecem ao longo da sua
trajetória, nada compromete seu amor pela verdade científica
e humana.” |
trajetória -
Antonio Carlos Boschiero possui graduação em história natural pela
Unesp de Rio Claro (1968) e doutorado em ciências biológicas pela
Unicamp (1973). Ingressou no Departamento de Biologia Estrutural e
Funcional do IB em 1970, onde ainda atua como professor colaborador
após a aposentadoria. Fez pós-doutorado na Universidade de Bruxelas
em 1978 e, voltando à Unicamp, instalou seu laboratório de pesquisa
criando um grupo voltado ao estudo da fisiopatologia das células
produtoras e secretoras de insulina; atualmente chefia um grupo de
pâncreas endócrino e metabolismo no mesmo departamento onde se
formaram mais de 40 pesquisadores que atuam em diferentes
instituições pelo Brasil.
Vários dos estudos
iniciais de Boschiero, sobre as permeabilidades iônicas nas células
secretoras de insulina, permitiram elaborar sua tese de livre
docência defendida e aprovada em 1979. Ele é autor de mais de 200
trabalhos científicos em revistas indexadas e de larga distribuição
internacional; orientou inúmeros alunos de iniciação científica, 22
mestres, 15 doutores e supervisionou 10 pós-doutores. Foi
contemplado com o Prêmio Zeferino Vaz por duas vezes, e com o Prêmio
Governador do Estado por sua colaboração no Projeto Genoma da
Xylella fastidiosa. Foi eleito membro titular da Academia Brasileira
de Ciências em 2010 e da Academia paulista em 2012. É pesquisador 1A
do CNPq desde 1993.
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