apaixonados por cavalos
e muares,que se organizam e participam de cavalgadas na região. “Um
amor que nos torna uma família”, diz a filha de Zé Mineiro, Mônica
Lico.
Atualmente
a Comitiva agrupa outras duas formações, a “Comitiva GB “ e
a Comitiva Nossa Senhora das Graças, totalizando
aproximadamente 20 integrantes. Faz parte da nossa comitiva
como citado acima, muares e equinos.
E o objetivo da
comitiva? “O entrosamento entre o homem e a montaria, a
alegria de estar com quem gostamos e fazer o que nos faz
bem”, simples assim, segundo Mônica.
Pelas redes
sociais tem sido possível acompanhar que a Comitiva
descalvadense tem se feito presente em diversos eventos da
região e, a cada dia os convites aumentam. Recentemente |
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estiveram
participando de uma cavalgada na cidade de Santa Cruz das
Palmeiras, em comemoração aos 138 anos daquele município. |
Apesar de toda a
revolução do mundo moderno, os integrantes da Comitiva optam por uma
vida simples, singela, de extrema alegria e amizade. É um povo de
paz, um povo de bem, que leva a sua alegria por onde passa.
Questionada o por que da Comitiva existir, se por amor, tradição ou
para a manutenção do nome do Zé Mineiro, Mônica é bastante clara na
sua resposta: “por todos os motivos! A paixão vem do berço, o amor
pelo nome, vem do coração, e a paixão pelos animais vem da criação
que recebemos”.
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HISTÓRIA
DAS COMITIVAS
- As comitivas eram formadas por grupos de peões de
boiadeiro e suas montarias, geralmente mulas ou burros,
embora também fossem usados cavalos, que faziam o transporte
das boiadas pelas estradas de terra, chamadas de
“estradões”, de uma fazenda à outra ou da invernada para o
matadouro, percorrendo grandes distâncias, durante dias a
fio, que eles chamavam de “marchas”, antes do advento dos
caminhões-gaiola e das estradas pavimentadas.
Esse fenômeno
socioeconômico e cultural ocorreu na região compreendida
pelo norte do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e
Goiás, praticamente extinguindo-se no Estado de São Paulo na
década de oitenta do século vinte, |
valendo notar
que a última boiada conduzida para abate na cidade de
Barretos foi no ano de 1.986, pelo comissário Wilson
Pimentel. |
O comissário era o
dono da comitiva. O ponteiro era um peão experiente e conhecedor das
estradas, que ia à frente tocando o berrante, nos momentos
apropriados, para atrair, estimular a marcha ou acalmar o gado e dar
sinais para os demais peões. Os rebatedores eram os peões que
cercavam o gado, impedindo que se espalhassem. Os peões da culatra
iam na retaguarda da boiada. Os peões da “culatra manca” ficavam
para trás tocando os bois que tinham problemas para acompanhar a
marcha da boiada, por cansaço, ferimento ou doença. O cozinheiro
saía mais cedo que os demais integrantes da comitiva, conduzindo os
burros cargueiros com suas bruacas, nas quais levava os mantimentos
e tralhas de cozinha, até encontrar um rio em cuja margem pudesse
preparar a refeição, ou seja, “queimar o alho”. Conforme destacado
acima, a terminologia podia variar de região para região.
A comida era
constituída, basicamente, de arroz de carreteiro, feijão gordo,
paçoca de carne feita no pilão, e carne assada no “folhão” (chapa),
podendo variar, conforme as circunstâncias, de região para região ou
de comitiva para comitiva, de modo que não havia um cardápio único
para todas.
O berrante é uma
buzina feita de chifres de boi unidos entre si por anéis de couro,
metal ou chifre mesmo, e era usado pelos ponteiros para atrair,
estimular ou acalmar o gado e dar sinais aos demais peões da
comitiva. Ele emite sons, que podem ser graves ou agudos, dependendo
do toque, a partir das vibrações do ar feitas pelos lábios do
berranteiro em contato com o bocal mais estreito do instrumento.
Esse bocal varia de acordo com a forma dos lábios, podendo ser mais
raso ou mais fundo.
O peão de boiadeiro,
integrando a sua comitiva, percorria léguas e mais léguas pelo
sertão, durante dias e até meses, tangendo o gado no lombo de mulas,
vivendo toda a sorte de aventuras no estradão, ora enfrentando
situações de perigo, como quando a boiada estourava ou tinha que
cruzar um rio caudaloso, ora vivendo romances com as mocinhas nas
vilas por onde passava, ora se divertindo com os companheiros à
noite nos pontos de pouso, onde tocavam viola e dançavam o catira.
O peão de boiadeiro
por onde passava despertava a paixão das moças, a admiração dos
jovens que queriam tornar-se um deles e o respeito dos demais
homens, tal como os cavaleiros andantes da Idade Média. Garbosos em
seus trajes típicos, com chapéu de aba larga, lenço no pescoço,
guaiaca, bombachas, botas de cano alto e chilenas tinindo a cada
passo. Suas mulas eram arreadas com esmero, a tralha cheia de
argolas de metal reluzente (alpaca). Na garupa, além da capa “Ideal”
no porta-capa de vaqueta, cheio de franjas e “margaridas”, pendia da
anca direita o “cipó” (laço) de couro de veado mateiro.
Pena que o progresso
tenha decretado o fim do chamado “transporte elegante das boiadas”,
restando dos peões de boiadeiro apenas as lembranças, as saudades e
o esforço para manter, nos dias de hoje, uma paixão e um estilo de
vida.
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