"A energia vem sendo o principal vilão do custo de produção", disse o
presidente da Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul, Henrique Dornelles.
Os gaúchos produziram na safra passada 8,6 milhões de toneladas de arroz, ou
cerca de 70 por cento do total produzido no país.
"Para a safra que foi colhida no primeiro semestre, dependendo da região,
aumentaram em mais de 100 por cento os custos", disse ele, lembrando que toda as
lavouras de arroz do Estado são irrigadas, fazendo uso intensivo de bombas
hidráulicas.
Segundo Dornelles, o aumento de custos, somado a preços ruins na venda do
produto e incertezas sobre o clima, poderá levar a uma redução de pelo menos 5
por cento na área plantada com o cereal no Estado em 2015/16, que acontece nos
últimos meses do ano.
Após dois anos de intensa seca no Brasil, que prejudicou a geração nas
hidrelétricas e obrigou o acionamento de todas as usinas térmicas, que têm custo
de produção mais elevado, a Agência Nacional de Energia Elétrica aprovou um
reajuste médio de 23,4 por cento para as tarifas de eletricidade a partir de
março.
A alta somou-se, ainda, aos reajustes anuais das tarifas de cada distribuidora,
o que fez o Banco Central estimar elevação de 41 por cento nos preços da energia
elétrica no país em 2015.
FEIJÃO
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Os custos de produção, além de condições de comercialização, também estão
contribuindo para uma redução na estimativa da área de plantio da terceira safra
de feijão do Brasil, que é cultivada durante o seco inverno do
Centro-Oeste/Sudeste e depende amplamente de irrigação.
O plantio da terceira safra ficou concentrado nos meses de abril e maio - já sob
os efeitos da energia mais cara -, com colheita prevista para agosto e setembro.
Em 2015, a área deverá cair 11,1 por cento e a produção 8,2 por cento, segundo a
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
"No feijão, deveremos ter uma entressafra mais longa... Pode haver um vazio de
oferta entre outubro e dezembro", disse Carlos Cogo, que dirige uma empresa de
consultoria agroeconômica.
O aperto nos custos de operação das lavouras também foi sentido pela Valmont,
principal empresa de pivôs centrais de irrigação no país.
"Temos relatos de clientes que usam nossos produtos e sofreram aumento de 50 a
60 por cento no custo. O usuário de pivô central já é um usuário comedido. Ele é
um sujeito que faz conta", disse o direto-presidente da companhia, João Rebequi.
LARANJA
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No cinturão citrícola de São Paulo, 25 por cento dos pomares contam com
irrigação, principalmente com a tecnologia de gotejamento, que é acionado em
momentos de estresse hídrico.
"A energia elétrica no campo aumentou 100 por cento em um ano. A gente reza para
chover. Se a gente irrigar a metade do que irrigou o ano passado, vai custar a
mesma coisa", contou o produtor de laranjas Roberto Jank, que cultiva 600
hectares no município de Descalvado.
Segundo ele, a atual safra da fazenda - cuja colheita começou em junho e
terminará em dezembro - poderá ter uma quebra de até 10 por cento na produção,
já que na maioria dos momentos o custo de ligar as bombas de irrigação não
compensa o ganho de produtividade.
*Fonte: Agrolink
(Reuters)
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