24/09/2012 (09h28)

Mano Menezes não é mais o técnico da Seleção Brasileira

Rejeitado pela torcida, e símbolo de uma cadeia de corrupção, queda do técnico significa restauração do orgulho da torcida pela seleção

Reportagem: André Alfieri

A CBF decidiu ontem (23) demitir o treinador da Seleção Brasileira de Futebol. Após 2 anos no cargo, Mano Menezes está fora. Ainda não há um nome para substituir, apesar da torcida já especular e torcer pelos seus preferidos. Felipão, Muricy Ramalho e Tite são os favoritos pra suceder Mano.

Contratado para renovar a seleção após a Copa do Mundo de 2010, e montar um time competitivo para a Copa de 2014, que será disputada aqui no Brasil e deve ser o principal evento da seleção nas últimas e nas próximas décadas, Mano Menezes foi sinal de desconfiança para a torcida. A seleção já não tinha mais simpatia com os torcedores e o time competitivo estava longe de estar pronto. O técnico acumulou fracassos, como a não conquista da medalha olímpica e a pífia participação na Copa América de 2011, na Argentina. Nos amistosos, Mano Menezes perdeu para as equipes grandes e só venceu as equipes desconhecidas. Jogadores que a torcida pedia, como Fred, Hernanes e Kaká, por exemplo, eram ignorados pelo técnico. A imagem de Mano Menezes perante os brasileiros era tão negativa, que chegavam a comparar a CBF com uma rede de corrupção. Mano Menezes, Andres Sanchez, o diretor de seleção e Ricardo Teixeira, que já estava a mais de 20 anos no poder, eram vistos como corruptos, que fazia da seleção uma espécie de negócio. Até os jogadores convocados, vindos de clubes desconhecidos, eram chamados para satisfazer empresários amigos do ex-presidente da CBF. Ricardo Teixeira caiu, após pressão da FIFA que não gostava de sua imagem ligada à corrupção. Mano cai hoje. Andres fica.

NÚMEROS DE MANO MENEZES

Foram ao todo 33 partidas de Mano Menezes pela seleção brasileira. São 21 vitórias, 6 empates e 6 derrotas. Ao todo, o técnico convocou 102 jogadores nos pouco mais de 2 anos como treinador da seleção.

No Ranking da FIFA de Seleções, o Brasil nunca esteve tão abaixo na história. Com Mano Menezes, a seleção brasileira chegou até a 14ª posição. Hoje está em 13º. Algo inacreditável para quem é penta campeão e sede da próxima Copa.

Mano Menezes disputou 4 títulos e venceu 2. Os dois Superclássico da América, campeonato de duas seleções, Brasil e Argentina, com jogadores apenas que jogam nesses dois países. Nas Olimpíadas de 2012, Mano ficou em segundo e na Copa América de 2011 foi eliminado nas quartas-de-final.

Contra seleções mais fortes, o resultado de Mano foi muito ruim. Abaixo a relação de jogos contra as principais seleções do mundo.

2010 = Brasil 0 x 1 Argentina;

2011 = Brasil 0 x 1 França, Brasil 0 x 0 Holanda, Brasil 2 x 3 Alemanha, Brasil 0 x 0 Argentina e Brasil 2 x 0 Argentina;

2012 = Brasil 3 x 4 Argentina, Brasil 2 x 1 Argentina e Brasil 1 x 2 Argentina.

DUNGA, O ANTECESSOR

45 minutos valem mais que 4 anos?

Dunga, um dos melhores técnico da história da seleção brasileira. Seus números são surpreendentes. De 2006 a 2010, Dunga comandou a seleção em 60 partidas. Venceu 42 e perdeu apenas 6. Apenas 10% de derrota. Das 6 derrotas, apenas 4 em jogos oficiais, 2 em amistosos. Dos 4 títulos que Dunga disputou, venceu 3. Eliminatórias da Copa, Copa America 2007 e Copa das Confederações 2009. Contra a seleção da Argentina, o Brasil de Dunga enfrentou 4 vezes, venceu 3 e empatou 1. Venceu por 3x0 em um amistoso, depois por 3x0 novamente na final da Copa America. Depois empatou em 0x0 nas eliminatórias da Copa e venceu a Argentina por 3x1 em Rosário, na casa do adversário, pela volta das eliminatórias.

Antes de perder pra Holanda, nas quartas da Copa, o Brasil estava 10 jogos invicto. Em 4 vezes, a seleção fez 5 gols ou mais em uma mesma partida. Números incontestáveis, aonde a seleção não só tinha um padrão de jogo como também impunha medo no adversário. O Brasil era respeitado. Depois de 59 partidas, com 5 derrotas, e um curriculo invejavel frente a seleção, Dunga entraria pela última vez num campo como técnico do Brasil. Era dia 2 de julho de 2010.

Aos 10 minutos Robinho abre o placar num jogo em que o Brasil dominava a Holanda. Eis que vem o intervalo de jogo... e depois disso, os próximos 45 minutos, toma conta de todo o resto que foi contado acima. Os 45 minutos, de apagão, que fez 59 belíssimas partidas, 4 anos, ser jogado fora...

E O SUCESSOR, QUEM SERÁ ?

Agora começa a especulação para o cargo mais difícil do Brasil: o técnico da seleção brasileira. Muitos nomes começam a ser sondados. Andres Sanches disse haver 7 nomes em cima da mesa para ser analisados. Os preferidos são Felipão, Muricy e Tite. Correm por fora Luxemburgo, Abel Braga e Ney Franco. Há quem faça palpites mais surpreendentes como Ronaldo ou o espanhol Pep Guardiola.

MURICY RAMALHO

Muricy Ramalho tem grande simpatia por parte da cúpula da CBF. O técnico do Santos tem característica de motivador, mas nunca treinou uma seleção. Oportunidade já houve. Em 2010, antes de chamar Mano Menezes, o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira conversou com Muricy, que na época era o treinador do Fluminense, e foi campeão Brasileiro daquele ano, o quarto título em cinco anos. Mas Muricy rejeitou a oferta, por respeito ao contrato com seu clube na época. A diretoria do Fluminense não gostou do convite da CBF e um clima ruim se formou. Por isso a CBF deve evitar técnicos que tem multa de contrato, pelo menos pode ser uma dificuldade. No Santos, Muricy renovou contrato recentemente. Na época da renovação, quando Mano Menezes já balançava no cargo da seleção, o presidente do Santos disse que “ser chamado pra seleção é como ser convocado pro exército” e que não haveria ressentimentos caso o treinador saísse do clube para treinar o Brasil. Resta saber se será assim agora que as chances de saída são grande.

FELIPÃO

O nome mais forte pra substituir Mano é de Luiz Felipe Scolari. Campeão Mundial em 2002, o último título do Brasil em Copas, Felipão traz a simpatia com a seleção. Esse pode ser seu ponto forte. A CBF quer resgatar o apoio da torcida brasileira que estava distante da seleção. Um técnico “do povo” pode ser fundamental pra reconquistar o orgulho do povo. Felipão não só é o preferido da torcida mas também do presidente da CBF José Maria Marín. Outro fator favorável ao técnico é o fato dele estar desempregado após demissão do Palmeiras. Pouco antes de sair do clube paulista, Felipão conquistou o título da Copa do Brasil. Ele é conhecido por conquistar títulos do formato “mata-mata”, que é o caso da fase final da Copa do Mundo. Foi assim que ele levou a seleção de Portugal às semifinais em 2006. Felipão disse que seu sonho é treinar uma seleção pra Copa de 2014, aonde aposentaria.

TITE

Outro nome citado hoje foi o do técnico do Corinthians Tite. A CBF anunciou que o substituto de Mano só será anunciado em janeiro de 2013. Muita gente relaciona esse fato com a disputa do Corinthians no Mundial de Clubes em dezembro. Há um pouco de verdade nisso. Tite é o nome mais forte de Andres Sanchez. Em fevereiro de 2011, Tite foi malhado pela torcida do Corinthians após ser eliminado, com Ronaldo, Roberto Carlos e companhia, pelo Tolima na pré-Libertadores. Andres manteve o técnico. Em dezembro, o Corinthians de Tite comemorava o quinto título do Campeonato Brasileiro e em julho de 2012 o título inédito da Libertadores da América. Agora, em dezembro, Tite irá disputar o Mundial. Andres Sanchez quer muito Tite. Resta saber se Andres ainda tem poder dentro da CBF, já que ele não queria a demissão de Mano e não foi ouvido.

ROMÁRIO COMEMORA

A figura pública mais famosa que comemorou a demissão de Mano sem dúvidas é Romário. O ex-jogador e tetracampeão com a seleção em 94 fez duras críticas ao vivo na TV que trabalhava após as Olimpíadas de 2012 para o ex-treinador. Romário disse que Mano Menezes era “Imbecil, incapaz de treinar a seleção, frouxo, e que não serve pro cargo”.

Hoje, após a confirmação da demissão, Romário comemorou e disse que é motivo pros brasileiros fazer festa. Além disso, Romário faz coro com a torcida e pede Felipão. Justo ele, que deixou o baixinho de fora da Copa de 2002. Passamos 10 anos, Romário já disse ter perdoado Felipão pela sua não convocação. Leia abaixo o texto que Romário publicou sobre a demissão de Mano Menezes:

“Galera,
Hoje é um dia histórico em que o Brasil tem que soltar fogos, fazer festa...
Até que enfim esses incompetentes da diretoria da CBF fizeram alguma coisa boa pelo futebol brasileiro.
Isso eu tinha certeza que iria acontecer, infelizmente demorou, mas saiu!
Em relação ao Mano, já vai tarde...
Na minha opinião, o treinador tem que ser o Felipão e o diretor de Seleções, se o Andrés Sanches sair, pra mim, o ideal seria o Raí.
Valeu!”

CBF

A decisão da CBF de demitir Mano Menezes é puramente política. Não tem muito a ver com o resultado em campo da seleção. Isso porque Mano já teve momentos piores, em que balançou no cargo e foi duramente crucificado pela opinião popular, mas foi mantido. E também pelo resultado em campo ter tido uma nítida melhora.

Primeiramente, o que acontece é que o novo presidente da CBF Marín tem seu orgulho e quer decidir por si só. Mano era treinador de Ricardo Teixeira e, politicamente, uma possível glória da seleção na próxima Copa não iria respingar nele. Marín quer um técnico seu para a Copa.

O que segurou Mano até agora foi Andres Sanchez. Ele não pode perder esse aliado. Andres Sanchez é muito político. Tem influência. Transformou o Corinthians no que é hoje, trouxe um estádio pro clube, algo que nenhum presidente em 100 anos conseguiu. Andres é afiliado ao PT. Já recebeu inúmeros convites pra se candidatar à prefeitura de São Paulo. O PT acha que ele ganharia fácil, pela imagem positiva com os torcedores corinthianos, maioria absoluta na cidade. Se ele conseguiu fazer um estádio pro Corinthians, o que é impossível pra fazer por São Paulo? Andres é amigo fiel de Lula. E Lula trouxe a Copa pro Brasil. Marín sabe disso. Sabe que precisa do apoio de Lula, e não quer desapontar Andres. Segurou Mano por isso. Mas Andres está cada vez mais longe da seleção. Andres se cansou e sabe que não será presidente da CBF, como sempre sonhou. Está cada vez mais perto da política. Por isso seu futuro também seguia indefinido. Mas Marín sabe do poder de Andres. Terá que o engolir. Sendo assim, ele fica. Resta saber até aonde Andres Sanches tem força. Antes da seleção, Andres reformulou completamente o quadro político do futebol nacional. Ele sozinho demoliu o Clube dos 13 e fez com que todos os clubes renegociasse as cotas televisivas diretamente com as televisões. Andres é líder entre os presidentes dos clubes e pra CBF é importante mantê-lo por perto. Ela não quer que seja criada uma liga independente, perdendo o Campeonato Brasileiro e correndo o perigo de ser extinta.

Marín aprendeu também a lidar com os clubes. Em 2010, a CBF procurou Muricy Ramalho. Ele estava no Flu, não quis sair, tinha um contrato. Só se o Flu liberasse, o que não aconteceu. O Fluminense achou um absurdo, não deveriam procurar um técnico empregado. A relação entre Fluminense e CBF azedou. Como Andres, amigo de Ricardo Teixeira, e com cargo na seleção, era do Corinthians, foi fácil trazer Mano. Por isso a escolha do técnico que só tem um título de Copa do Brasil (2003 - Grêmio) e um de Série B (2008 - Corinthians) no currículo. Pra não azedar novamente, não cometer o mesmo erro, Marin já deve ter nome definido pra substituir Mano: Felipão. Não tem vínculo com nenhum clube. E nem vai ter tão cedo. Felipão sabe da oportunidade de ouro que tem agora. Encerrar a carreira treinando o Brasil na Copa do Brasil seria a chave de ouro. E com chances de ser campeão em casa. Entraria pro hall dos melhores técnicos do mundo.

O que é fato é que Marin quer cada vez mais desvincular de Ricardo Teixeira. Mas quem está com o poder mesmo é o vice-presidente da CBF Marco Pólo Del Nero. Ele é o presidente da Federação Paulista de Futebol.  E a reunião que selou a saída de Mano foi em São Paulo. Na sede da FPF. Isso só mostra o poder que Del Nero tem, muito maior que o de Marin, na própria CBF.

COPA DE 2014

Agora, o novo treinador terá 1 ano e meio para montar o time pra Copa de 2014. É basicamente o que houve em 2000, após a demissão de Luxemburgo e a chegada de Felipão. A diferença é que naquela época Felipão tinha que jogar as Eliminatórias pra ir pra Copa, agora o Brasil já está na Copa por ser o país sede.

Antes disso, ainda em 2013, o Brasil sediará a Copa das Confederações. É um importante campeonato pra se preparar pro Mundial. Seja qual for o técnico, não restará tempo pra montar uma seleção que ainda não existe. Se Mano Menezes estava ou não no caminho certo ninguém mais saberá.