“As máquinas hoje são feitas para grandes áreas. Pequeno
produtor, aquele que depender de plantar cana em lugar de
morro ou áreas muito pequenas, tem que procurar outra
atividade porque vai ficar inviável”, falou o presidente do
Sindicato Rural de Araraquara, Nicolau Freitas.
A medida faz
parte de um protocolo ambiental assinado em 2007entre o
setor canavieiro e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente
para eliminar a queima em áreas onde a colheita pode ser
mecanizada.
MÃO DE OBRA
- A mecanização também deve mudar o perfil da mão de
obra no campo. Cada máquina corta cerca de 600
toneladas de cana por dia e faz o serviço de 100
pessoas, fato que contribuiu para a queda dos postos
de trabalho. Os trabalhadores deveriam ter se
adaptado a outros postos, o que não ocorreu, segundo
o presidente da Feraesp, Élio Neves.
“O
processo de mecanização não foi e não está sendo ao
mesmo tempo acompanhado por um processo de
erradicação do analfabetismo, elevação de
escolaridade, requalificação profissional e aí o que
você tem? Uma grande massa de trabalhadores e
famílias que, ou migraram para fora da região ou
estão nas suas cidades perecendo”, analisou Neves. |
Nos últimos 10 anos,
quase 23 mil
trabalhadores perderam o emprego |
Na região de
Araraquara, 2 mil propriedades têm que se adaptar ao
protocolo. Segundo os dados do governo paulista, desde que o
acordo foi assinado, mais de 5,5 milhões de hectares de cana
deixaram de ser queimados.
TECNOLOGIA
- Em uma usina de Nova Europa, a colheita já é toda
mecanizada. A empresa investe em tecnologia há três anos. O
serviço no campo começa bem longe das lavouras, em um centro
de controle onde trabalham profissionais de informática que
conhecem todo o processo de produção. Nos computadores, eles
programam a área de plantio e da colheita e estudam as
curvas de nível.
Com o
investimento na agricultura de precisão, diminuíram as
manobras das máquinas na roça. “O operador fica livre para
observar a qualidade da operação enquanto a própria máquina
se direciona no campo”, falou o coordenador de plantio,
Mateus Lopes.
Um
equipamento com placas solares fornece energia para um
transmissor que emite para as máquinas a localização exata
da área onde elas vão trabalhar. “Eu aciono o piloto do GPS
e só faço as manobras para abastecimento. O trator vai
sozinho”, explicou a operadora de máquina Telma Abonízio.
São seis
tratores com implementos agrícolas que fazem todas as etapas
do plantio. Cada um substituiu 110 trabalhadores. Com as
máquinas, a usina resolveu também outro problema, a falta de
mão de obra. Segundo o gerente agrícola João Giro Filho, a
redução dos custos foi de até 20% com a mecanização.
“Nós estamos
plantando hoje em torno de 10 mil hectares por ano, isso
equivale a plantar 100 campos de futebol por dia. Agora se a
gente tivesse dependendo de um plantio manual, a demanda de
mão de obra seria muito grande e a gente não teria isso
disponível”, afirmou Giro Filho.
Nem todos os
trabalhadores rurais da usina foram embora. Sidnei da Silva
é um dos que ficaram. Ele trabalhou durante dez anos no
corte da cana e continua na colheita, mas agora vai para a
lavoura no conforto de uma cabine com ar condicionado.
“É
totalmente diferente porque com o facão tem que trabalhar o
dia todo e com esse sol não é fácil, não”, falou o operador
de máquina. “Tenho que aproveitar essa oportunidade, não
tenho nenhum pouco de saudade da época do facão”, brincou.
*Com informações do G1/São Carlos / Fotos:
Marlon Tavoni