16/05/2015 (16h01)

Relatório final sobre a Reforma Política deve ser votado na próxima terça-feira

Deputado Marcelo Castro (PMDB-PI) definiu nesta sexta-feira (15) os últimos pontos do seu relatório. Semana decisiva terminou com muito bate boca e definição do fim da reeleição e mandatos de cinco anos.

Mário Zambelli

Depois de tentar colocar em votação na última quinta-feira (14) o relatório final que trata da reforma política, a Comissão Especial da Câmara marcou para a próxima terça-feira (19) a leitura e a votação do texto elaborado pelo relator e Deputado Marcelo Castro (PMDB/PI). Se aprovado, o texto segue para apreciação no Congresso Nacional.

Desde a terça-feira (12), o relatório sobre alterações na política brasileira sofreu diversas mudanças, e mesmo com os adiamentos, ainda não se chegou a um consenso por parte de políticos e partidos. Sofrendo pressão por todos os lados (principalmente por parte do líder do próprio partido,

o Vice-Presidente da República Michel Temer), Castro não foi capaz de manter o seu texto original e acabou cedendo em alguns pontos.

O processo no qual vem sendo tratada a reforma política não é novo. O conjunto de propostas que visa alterar e melhorar o sistema eleitoral do Brasil vem sendo discutido ha mais de 20 anos. Com cobranças mais incisivas por parte da população brasileira - que desde 2013 tem saído às ruas e exigindo mudanças na política do país -, a Comissão que analisa o assunto retomou os trabalhos no início deste ano, e liderada pelo PMDB avançou na elaboração de um relatório que finalmente será apresentado.

Der acordo com o Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), mesmo que o relatório da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) não passe pela Comissão, o texto deverá ser encaminhado para o Plenário da Câmara para ser votado em dois turnos. Cunha diz que deve lutar para que a primeira votação aconteça ainda no mês de maio.

Para ser aprovada, serão necessários pelo menos 308 votos (3/5 dos deputados) em cada uma das votações. Depois, a PEC segue para o Senado onde será discutida na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, em seguida, passará por mais duas votações no plenário. Se o Senado aprovar o texto da Câmara, a emenda é promulgada pelas duas Casas. Se o texto sofrer mudança, volta para a Câmara.
 
PROPOSTAS - Entre as principais propostas discutidas no relatório estão o fim da reeleição para os cargos do Executivo (prefeitos, governadores e presidente da república), estabelecendo para isso um mandato único de 5 anos para todos os eleitos, inclusive vereadores, deputados e senadores. Prevendo alterações na proposta de um mandato de 5 anos para o cargo de Senador, Castro chegou a alterar este tempo para 10 anos, mas voltou atrás na sexta-feira e manteve a proposta única de 5 anos para todos os cargos.

Duas propostas que geraram muita polêmica se deram em torno da unificação das eleições e do voto "distritão", na qual propõe que serão eleitos os candidatos mais votados em estados e municípios, independentemente do partido de filiação.


Relatório do Deputado Marcelo Castro propõe mandato de
seis anos para o próximo prefeito e acaba com a reeleição

Para a unificação das eleições e dos mandatos, foram analisadas três propostas: a primeira delas prorrogaria o atual mandato dos prefeitos e vereadores por mais 2 anos, coincidindo assim com eleição de Governador, Deputados e Presidente da República em 2018. Mesmo com a pressão de prefeitos de todo o Brasil, a proposta não ganhou força e adesão de deputados e senadores, que alegaram terem pouco tempo para discuti-la.

A segunda proposta foi a de um mandato tampão, de apenas 2 anos, para prefeitos e vereadores. O eleitor iria às urnas em 2016 para escolher seus candidatos que ficariam no cargo até o final de 2018, quando então ocorresse uma nova eleição junto com os demais cargos eletivos. Apesar de alguns partidos (principalmente aqueles de menor representação) defenderem a idéia, a proposta acabou descartada por ser considerada econômica e politicamente inviável.

Assim, o relatório que será apresentado na próxima terça-feira altera para 6 anos o próximo mandato de prefeitos e vereadores, permitindo que em 2016 os candidatos tenham pela última vez a chance de disputarem uma reeleição. A proposta agradou uma boa parcela de prefeitos e jogou para 2022 a nova regra que prevê os mandatos de 5 anos sem possibilidade de reeleição.

A proposta também mantêm a eleição em 2018 para os cargos de Governador, Deputados (estadual e federal), Senador e Presidente, que terão mais um mandato de 4 anos, unificados a partir de 2022 com o pleito eleitoral para prefeitos e vereadores.

ENFRAQUECIMENTO DO PARTIDO DOS TRABALHADORES - Com a proposta de unificação das eleições a partir de 2022 (sem a possibilidade de reeleição), o PMDB pode estar montando uma estratégia de desarticular e enfraquecer o Partido dos Trabalhadores, da Presidente Dilma Rousseff e do ex Presidente Lula.

Se a intenção realmente é esta ainda é cedo para saber, mas como o PT virou o grande alvo das críticas e do repúdio da população brasileira em relação à política - principalmente por conta dos escândalos de corrupção envolvendo membros do partido -, ao manter a eleição dos prefeitos para 2016, praticamente todos os candidatos do Partido dos Trabalhadores deverão enfrentar uma grande dificuldade em reconquistar a simpatia dos eleitores e se elegerem.

Com demonstrações claras de que pretende cada vez mais se desvencilhar do PT, o PMDB pode estar preparando o 'bote' já a partir das eleições do próximo ano. Com menos prefeitos, o partido de Lula perde ainda mais sua força e sua representatividade, e abre caminho para o partido de Michel Temer (e seus aliados), que ao que tudo indica, já estão bem organizados.

A segunda parte do plano (se é que ele existe), pode ser exatamente o de manter o próximo mandato de Presidente da República por somente 4 anos (ao invés dos mesmos 6 que terão os próximos prefeitos), já que ao que parece, o ex presidente Lula tem dado mostras de que teria intenções de voltar a ocupar a cadeira que já foi dele no Palácio do Planalto.

Como essa possibilidade ainda é uma incógnita e ninguém é capaz de prever quais as chances de Lula em voltar a vestir a faixa presidencial, o PMDB pode estar jogando com essa hipótese, e mantendo o próximo mandato de Presidente por apenas 4 anos, sem possibilidade de reeleição em 2022. Vai que...
 

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