Passados poucos minutos depois da meia noite de sábado, dia 10 de
dezembro, a população de Descalvado foi tomada por um sentimento de
profunda tristeza ao saber da notícia do falecimento do Prefeito
Henrique Fernando do Nascimento, o 'Henrique da Caixa', como era
carinhosamente chamado por todos. Depois de receber a pouco tempo o
diagnóstico de ser portador de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) -
doença que ganhou notoriedade em todo o mundo recentemente por conta do
'desafio do balde de gelo', que buscou chamar a atenção para a
necessidade de se impulsionar as pesquisas que buscam a origem e o
tratamento da doença -, Henrique nos deixou do jeito que ele sempre será
lembrado por todos os descalvadenses: de uma forma simples, discreta, e
principalmente, sem permitir que o status do cargo de mais alta
importância da nossa cidade se sobrepusesse à sua humildade e
simplicidade, marca registrada dele. Henrique se despediu de nós assim
como acontece com qualquer outro cidadão de Descalvado. Assim era ele, e
assim sempre deverá ser lembrado!
Normalmente, o mandato de
Prefeito Municipal é exercido por exatos 4 anos, tempo suficiente para
que o Chefe do poder Executivo possa (em tese), montar sua equipe,
habituar-se com as responsabilidades do cargo e identificar e sanar os
problemas que surgem diariamente em todos os serviços públicos prestados
por uma Prefeitura. Mas com Henrique, isso não aconteceu! Se
retrocedermos há exatos quatro anos da data de sua morte, Henrique foi o
terceiro de uma linha sucessória de quatro Prefeitos, três deles eleitos
pelo eleitor para esta função.
Ocorre que no dia 10 de
dezembro de 2012, o então Prefeito Panone iniciava seus últimos 20 dias
de governo, sem sequer saber ao certo a quem passaria esta
responsabilidade. Naquele mesmo dia, Henrique ainda comemorava sua volta
à Câmara Municipal de Descalvado, eleito novamente vereador com o maior
número de votos em uma eleição municipal. Vinte e dois dias depois, a
cidade descobria que seria governada interinamente pelo então Presidente
da Câmara, Anderson Sposito, escolha que se deu pelo seu próprio voto e
de mais cinco vereadores, inclusive o de Henrique.
Onze meses depois, no
dia 1º de dezembro de 2013, Henrique concorreu pela segunda vez em uma
eleição para Prefeito (a primeira foi em 2008 quando ficou em 2º lugar),
e com 7.009 votos, acabou sendo eleito para governar Descalvado para um
mandato atípico de apenas três anos. Assumiu em 1º de janeiro de 2014,
sem ter tido a chance (que lhe foi negada) de realizar um governo de
transição. Desde então, Henrique foi o principal alvo de uma política
que se instalou em Descalvado naquela fatídica manobra do dia 1º de
janeiro de 2013, e que mergulhou o município de Descalvado em um fosso
de intrigas, maldades, crise financeira e ataques pessoais nunca visto
antes na política descalvadense. O alvo dos ataques não era apenas
Henrique, mas sim todo o seu grupo. Mas, assim como no xadrez, para
vencer o jogo é preciso derrubar o Rei, que neste caso, era ninguém
menos do que o próprio Prefeito Municipal.
Todo mundo acompanhou as
diversas polêmicas que foram criadas para atacar de forma covarde a
pessoa do Prefeito Municipal. Quando é que se teve notícia que em
Descalvado um grupo de vereadores teriam contratado carro de som,
colocando-o na rua para instigar a população a comparecer a uma sessão
legislativa dizendo que haveria o impeachment do Prefeito, justamente na
época em que o país clamava pela derrubada da então Presidente da
República? Pura maldade e oportunismo, ou não?
O Brasil vive hoje a
urgente necessidade de se passar a política a limpo! Operação lava jato,
delações premiadas, lista de empreiteiras, enfim, tudo aquilo de
corrupção que vinha sendo praticado há anos, agora parece estar vindo a
tona, ruindo com os corruptos e com as mazelas de uma política que foi a
grande responsável pelo atual situação de crise e descrédito que o país
se encontra.
Mas o que isso tem haver
com a morte de Henrique da Caixa? Para muita gente, absolutamente nada!
Para os que realmente conheciam o prefeito e sabiam dos seus desejos,
absolutamente tudo! Em um momento em que todos os brasileiros clamam
acima de tudo pela honestidade da classe política, eis que aqui em
Descalvado, inegavelmente, Henrique sempre se manteve íntegro e fiel à
suas convicções de homem público e honesto, sempre repudiando qualquer
ato de corrupção.
Infelizmente, em razão
de ações isoladas e de responsabilidade única e exclusiva de terceiros,
Henrique teve seu nome e sua carreira atrelados à atos que ele sempre
repudiou. Sofreu muito e guardou para ele próprio todo este sofrimento.
Ao saber do resultado das eleições deste ano, Henrique (já bastante
debilitado por conta de sua enfermidade), reuniu-se com sua equipe e
determinou que fosse dada toda a atenção ao amigo Becão (quarto e
último prefeito desta linha sucessória do qual citamos neste editorial),
proporcionando ao seu sucessor uma transição pacífica, amistosa, e em
benefício único e exclusivo da cidade; justamente o contrário do que foi
feito com ele antes da sua posse.
Assim foi o governo
Henrique. Massacrado pela oposição, por parte da opinião pública
(acostumada com ações de governos populistas), por grupos ou pessoas que
acabaram não tendo vez em sua administração municipal (e que aliás se
encerra como a que teve menos cargos comissionados nomeados ao longo dos
últimos 16 anos), e por parte do funcionalismo público que acabou
ludibriado por meia dúzia de pessoas que tinham apenas um único objetivo:
a derrubada do Prefeito e por consequência do seu grupo político.
Henrique cumpriu sua
missão com dignidade, já que pegou uma Prefeitura endividada em meio à
pior crise econômica que o país já viu. Mesmo assim, manteve os salários
e benefícios em dia (inclusive com a regularização do plano de saúde dos
servidores), aumentou o cartão alimentação e deixou de cobrar a cesta
básica do funcionário, investiu como ninguém na educação do município
com reformas e melhorias em pelo menos 14 escolas municipais, trouxe uma
ETEC, construiu duas novas creches, construiu duas novas unidades de
saúde, retomou áreas doadas a muito tempo à empresários que não geraram
nenhum emprego sequer, e as doou para investidores que já estão gerando
empregos, como por exemplo a Xamã e em breve a Luopet. Enfim, mesmo com
tão pouco tempo, Henrique fez sim muita coisa.
E mesmo diante da grave
doença que o levou neste último final de semana, Henrique trabalhou
todos os dias do seu mandato, sem se afastar ou tirar um único dia
sequer de férias. Se para alguns o Henrique da Caixa não conseguiu
terminar o seu sonho (ou o seu mandato), para outras tantas pessoas ele
se eternizou e será lembrado para sempre como uma das figuras mais
carismáticas, bondosas e acima de tudo, honestas que a nossa política já
teve! E com o seu falecimento, será sempre lembrado por nós como o
Prefeito Henrique, e jamais como ex prefeito Henrique!
Vai com Deus meu amigo!
Temos a certeza de que lá você terá toda a paz que você merece! Até
breve!
Mário Zambelli
Diretor Geral de Jornalismo / Descalvado News
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