“Tanto que o imperador aceitou os acontecimentos de
forma passiva e resignada”, afirmou o jornalista e
historiador Laurentino Gomes, autor dos livros
“1808” e “1822”, que está preparando o terceiro e
último volume da série, abordando justamente a
Proclamação da República.
Durante
mais de 67 anos, o Brasil permaneceu como a única
monarquia das Américas. Enquanto todos os demais já
haviam se tornado independentes, nós ainda estávamos
cortejando o monarca. Naquela altura, porém, as
demandas do país eram outras. O regime já estava
esgotado, sem ter sido capaz de fazer frente às
reformas necessárias.
Foi,
garantem os historiadores, um ato improvisado, sem
que tenha havido qualquer reação do próprio D. Pedro
II. “O povo assistiu a tudo bestializado”, escreveu
o jornalista Aristides Lobo ao descrever os
acontecimentos daquele 15 de novembro no Rio de
Janeiro. Mas, mesmo sem entender bem o que estava
acontecendo, o povo aclamou Deodoro nas ruas do Rio
de Janeiro.
Os
próprios articuladores da República não tinham uma
noção exata a respeito do que fazer com o país dali
por diante. Em linhas gerais, pode-se dizer que a
abolição da escravatura, no ano anterior, havia
tirado a base de apoio da monarquia junto aos
grandes proprietários rurais. Também havia um imenso
descontentamento nos quartéis, com oficiais e
soldados se sentindo injustiçados pelo governo do
império. Com a monarquia já em estado terminal, os
republicanos encontraram nos militares o apoio que
estava faltando.
D. Pedro
II permaneceu em Petrópolis até a tarde do dia 15 de
novembro e quando chegou ao Rio de Janeiro ainda
acreditava que tudo ainda voltaria ao normal.
“Conheço os brasileiros, isso não vai dar em nada”,
disse naquele dia. Só de madrugada, com o governo
provisório republicano já anunciado, D. Pedro II
aceitou a derrota. Ele ainda reuniu seus
conselheiros na tentativa de organizar um novo
ministério, mas não havia mais o que fazer. Não
demorou muito para o imperador deposto se dirigir ao
exílio na Europa. Começa, então, uma outra etapa na
história do país.
Novos
símbolos para um novo tempo
Os
republicanos logo se preocuparam em estabelecer
novos símbolos que representassem a transformação
política ocorrida no país. Dois meses depois do
golpe, o governo provisório do Marechal Deodoro da
Fonseca lançou um concurso para oficializar um novo
hino para o Brasil. Quem venceu a disputa foi José
Joaquim de Campos da Costa de Medeiros e Albuquerque
(letra) e Leopoldo Miguez (música).
O Hino da
Proclamação da República é, com certeza, um dos mais
bonitos que temos. Embora seja bastante desconhecido
dos brasileiros e pouco utilizado em solenidades
oficiais, esse hino precisaria ser resgatado como um
dos mais significativos símbolos de nosso regime
político.
Em 1989,
a escola de samba Imperatriz Leopoldinense comemorou
o centenário da República e seu samba enredo
utilizou uma parte do refrão, que diz o seguinte:
“Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!” |