É notório que o clima na Câmara Municipal, em especial nas
últimas duas sessões legislativas, anda bastante tranquilo. À
exceção do vereador Edevaldo Guilherme (PMDB), que em seus
pronunciamentos na tribuna traz (e cobra explicações) toda
semana a respeito de novas denúncias e irregularidades na atual
administração interina, os demais vereadores andam meio que
"pisando em ovo", o que tem causando estranheza em muita gente.
Estamos nos
aproximando dos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, e em
breve o juiz dessa partida irá mandar subir a placa informando o
tempo exato da prorrogação, que na verdade serão os trinta dias
de uma nova campanha eleitoral, onde finalmente se encerrará
essa disputa eleitoral iniciada a quase um ano. Pois é, você não
leu errado: daqui a vinte dias, completaremos um ano de uma
disputa eleitoral que em tese, deveria durar apenas três meses,
mas que na prática, após decorrido um ano, mostrou-se um grande
fiasco. Além de não sairmos do lugar, a sensação é na verdade a
de que andamos para traz!
Desde o dia 6 de
julho do ano passado, quando teve início oficialmente a campanha
eleitoral, a população de Descalvado presenciou a maior baixaria
eleitoral de toda a sua história. Convenhamos que ao analisarmos
o histórico e o currículo de boa parte dos envolvidos nas
confusões que presenciamos, não era pra menos não é verdade?
Passados quase 365 dias de muita mentira, de muita armação e de
muita conversa fiada, até agora não conseguimos escolher quem é
que vai comandar este nosso barco, que infelizmente, há tempos,
dá sinais de que está afundando!
E diante de
tantas "maracutaias" e incertezas, é claro que o clima na Câmara
não poderia ser outro. Se alguns dizem que na vida a melhor
defesa é o ataque, na política um enorme sorriso ou um forte
abraço pode ser a premissa de que "chumbo grosso" vem por aí.
Com cinco vereadores estreantes no cargo, dois remanescentes da
última legislatura e outros quatro que mesmo chegando agora, já
possuem grande experiência na vereança, a mescla de ideologias e
partidarismos garantem vaga para as incertezas e as
desconfianças nos bastidores do legislativo. Sabidamente (e
mesmo com a negativa de alguns deles), ainda há resquícios bem
claros dos dois grupos adversários nas eleições de outubro. Com
pelo menos duas trocas de posição nesse tabuleiro, o grupo que
apoiou José Carlos Calza (PSDB) ainda leva uma ligeira vantagem numérica no número
de cadeiras que compõe a Casa da Democracia. E nesse
"troca-troca" e nesse "diz que me diz ", dois coringas também
são alvos de grande especulação, o que deixa os outros nove
sempre com um pé atrás.
As cartas dessa
jogatina política só não estão à mesa pela simples razão de que
em ambos os grupos, há divergências muito grande de opiniões. Se
de um lado, a briga é pra saber quem será o candidato à vice, do
outro a briga é para saber quem é o candidato majoritário. Muito
se especulou (inclusive por este comentarista político que lhes
escreve), de que haveria a possibilidade de termos quatro
candidatos à prefeito nesta nova eleição suplementar. Ao
analisar o comportamento dos gurus da política local, que
permaneceram longe de todas as polêmicas e escândalos desde o
final da campanha de 2012, fica claro que eles já sabiam todo o
desenrolar dessa situação de indefinição. No final, a disputa
principal ainda será entre a turma do azul e amarelo (PSDB), e
que agora mesmo a contra-gosto de alguns, terá que ceder espaço
à turma do vermelho e preto (PMDB), contra a turma do vermelho e
amarelo (MD).
Ainda existe a
hipótese de mais dois coadjuvantes participarem desta disputa,
mas ao analisarmos friamente o atual cenário, é improvável que
isso venha a acontecer. A primeira delas, seria uma possível
candidatura, inclusive já anunciada, da atual Presidenta da
Câmara, a vereadora Paula Peripato (PT). No início, houve a
impressão de que a candidatura da Paula poderia até deslanchar,
mas com o passar do tempo e verificando a dificuldade do PT em
conseguir outros aliados para compor uma chapa, fica claro que a
pré-candidatura do PT vêm perdendo forças, com especulações
inclusive, de que o partido estaria estudando um convite para
disputar com um cargo de vice-prefeito. A segunda hipótese de
uma candidatura coadjuvante você vai descobrir um pouco mais
adiante neste texto.
Voltando a falar
das duas principais candidaturas que deverão acontecer nesta
eleição suplementar, as disputas internas de cada grupo fica por
conta das divergências pessoais de cada um dos seus membros. Na
defesa de interesses particulares ou na queda de braço para
medir forças, ambos os grupos não estão totalmente unidos em
volta de um único nome, seja para prefeito ou para seu vice.
De um lado, Luiz
Carlos Vianna (MD) é unanimidade na condição de candidato à
prefeito dentro de seu grupo, mas que tem na escolha do nome do
seu vice uma verdadeira incógnita. Com fortes indícios em torno
do nome de Flávio Luiz Ancetti (MD) para compor com Luiz Carlos
uma dobradinha na nova eleição, ainda há dentro daquele grupo,
divergências com relação à escolha do
vice. O que é fato neste grupo, mas para quem está de fora
parece não ter muita importância, é que eles têm ao seu lado o
novato Guto Cavalcante (PTB), segundo vereador mais votado em
2012 e quase uma unanimidade entre todos os possíveis candidatos
à prefeito, que de forma direta ou indireta, já o assediaram
para ocupar o cargo de candidato à vice-prefeito nesta nova
eleição. Pelo visto, o vereador não goza do mesmo prestígio no
seu próprio quintal. Lembrando que um dos comentários que mais
se houve na cidade é justamente a respeito da importância na
escolha do vice-prefeito, já que ao invés de somar votos, os
candidatos poderão perdê-los com uma escolha mal feita.
Já o atual
vereador Henrique do Nascimento (PMDB), também dispara na
preferência dos membros que compõe a sua base aliada. Porém
Henrique ainda traz consigo a sombra e as lembranças de ter sido
duramente atacado e criticado durante a campanha do ano passado,
pelas mesmas pessoas que agora tentarão defendê-lo. Henrique
hoje se vê cheio de afagos pelas mesmas mãos que o apedrejaram a
pouco tempo atrás. Quem não se lembra da montagem lançada em
todos os colégios eleitorais no dia da eleição, em que os
membros do seu próprio grupo mandaram confeccionar e distribuir,
sem o seu conhecimento, um panfleto onde Pinho lhe dava um
beijo, com os seguintes dizeres logo abaixo: "As vezes
fazemos escolhas erradas que nos marcam para toda a vida, por
isso eu digo e reafirmo, Sou + Calza e Pinho" ? Recordo que
naquele dia conversei com Henrique na frente do ginásio escola e
ao perguntar à ele sobre o panfleto, com "sangue nos olhos" ele
me respondeu que o responsável pela "brincadeira de mau gosto"
iria pagar caro por aquilo. Aproveitei então e o questionei
sobre os autores da "armação", e mais calmo, ele acabou
confirmando as minhas suspeitas.
E foi recordando
esta história que escolhi o título desta crônica: "Na política
não há amigos, apenas conspiradores que se unem". A frase é do
jornalista e escritor norte-americano Victor Lasky, autor de
diversos best-sellers que narram a trajetória de alguns
políticos dos Estados Unidos, inclusive a do ex-presidente John
F. Kennedy, durante o exercício de seus mandatos.
Mas voltando à
nossa pequena Descalvado, mesmo tendo a preferência dos "calzistas"
em torno do seu nome, Henrique ainda têm uma pequena pedra em
seu sapato, já que alguns membros dentro da sua base,
principalmente aqueles que estão se beneficiando (e muito) com o
descontrole da atual situação, sinalizam ter a preferência
pelo novato Anderson Sposito (DEM), que ainda demonstra inexperiência no
comando da administração municipal, mas em determinados momentos
já demonstra ter pego o "jeito do negócio". E é dele a segunda
hipótese de uma possível candidatura coadjuvante que podemos ter
nestas novas eleições, já que batendo o pé e contrariando assim
os interesses de gente graúda, o atual prefeito diz que será
candidato com ou sem o apoio do grupo.
Porém, para que
essa terceira opção para o eleitor venha de fato ocorrer,
Sposito precisa de um nome forte e experiente para compor ao seu
lado uma possível candidatura, já que pelos comentários da
última semana, o vereador Helton Venâncio (PSDB), com quem
Sposito dava por certo uma dobradinha, teria acertado a sua
candidatura com Henrique, o que teria causado inclusive, segundo
a "rádio corredor" do Palácio do Povo, uma grande discussão
entre Pinho da Cabana (DEM) e Calza, já que desde o início desde
governo transitório, Sposito e Pinho estariam agindo de acordo
com os interesses do grupo de Calza, e que agora os abandonam.
Quem acompanhou
uma cena a cerca de vinte dias atrás, durante uma sessão
legislativa, onde um secretário de Sposito recebeu uma ligação
no seu celular e levou o telefone até o vereador Edevaldo, algoz
declarado do prefeito interino, entendeu perfeitamente o teor da
conversa e quem estava do outro lado da linha, deixando clara a
situação em que se encontra o atual prefeito.
Usado como peça
chave numa manobra política que passou a perna no experiente
Ricci, que já sentia a "textura da caneta" em seus dedos,
Sposito teve a chance da sua vida ao conseguir assumir o cargo
de prefeito municipal, sem ao menos ter se candidatado para
isso. Mas, sem nenhuma tarimba política e sem se dar conta do
ninho de cobras em que se enfiou, o atual prefeito não percebeu
que foi usado todo esse tempo para cumprir (e pagar) todas as
promessas que não eram suas. O fardo acabou se tornando pesado
demais e talvez, ao acordar do sonho (tarde demais!), Sposito
agora perceba que dificilmente terá o apoio que lhe prometeram
lá atrás.
Lembro-me de uma
conversa que tive com ele a cerca de dois meses e meio atrás,
comentando a respeito da sua possível candidatura à nova
eleição. Muito animado, ele me disse acreditar ter boas chances
de vitória e que o pior já havia passado. Perguntei à ele ainda,
como ficariam o apoio dos cargos de confiança que ele e o Pinho
haviam escolhido para compor seu governo temporário, e em
especial de um ou dois de seus secretários. Aparentando-me ter
absoluta certeza do que falava, Sposito garantiu ter o apoio de
todos eles. Não sei se ao ouvir essa afirmação do prefeito, que
por sinal foi umas das últimas conversas particulares que
tivemos, ele tenha percebido a minha expressão de espanto ao
ouvir dele tal afirmação.
Devido à sua
inexperiência política, Sposito não se deu conta de que a "dança
da cadeira" na qual ele brincava junto ao grupo aliado do
ex-prefeito Calza só tinha uma vaga, e agora que o maestro que
comanda a banda decidiu que está na hora da brincadeira acabar,
já foi feita a escolha de quem irá se sentar quando a música
parar de tocar. E infelizmente para ele, o pior ainda poderá
estar por vir, já que com os rumores de uma suposta CPI a ser
aberta na Câmara, poderá fazer com que ele pague esta conta
sozinho, o que não seria justo, pois as cobras que ele alimentou
durante esses meses, já estão lhe dando adeus!
Certa vez, o ex-presidente
americano Ronald Reagan disse uma frase que ficou conhecida no mundo todo: "Política é como o show business: você tem uma estreia
fantástica, desliza por algum tempo e acaba num inferno." |