Mas, como a força do reinado português ainda era grande, muitos
daqueles que também não se conformavam com aquela situação
imposta pelos seus governantes, intimidavam-se diante daqueles
faziam parte do reinado e da coroa. Existiu ainda neste período da
nossa história, relatos de que boa parte do que era obtido com a
"Derrama' não chegava até a Sua Majestade, sendo desviado pelas
próprias pessoas que representavam a coroa, e que sem qualquer
pudor e lealdade ao Rei, aproveitavam-se de cada oportunidade
surgida.
O episódio da
Inconfidência Mineira tentava eliminar a dominação portuguesa
sobre
Minas Gerais, livrando-os da corrupção e da infâmia ali
instalados, já que como todos sabem, o estado era um grande
produtor de riquezas da colônia brasileira. A história ainda nos
conta que o próprio Marques de Pombal chegou a descrever que o
método de captação de riquezas que estava sendo aplicado poderia
levar não somente o estado de Minas Gerais à total miséria e
decadência, mas também a própria colônia brasileira.
Contam ainda
alguns historiadores, que foi justamente a cobrança da
"Derrama', que captava 1/5 das riquezas produzidas, que deu
origem à expressão "o quinto dos infernos".
E assim, com
nossa aula de história quase concluída (terminarei esta crônica
contando o seu final), podemos dizer à grosso modo e
por analogia, que a cidade de Descalvado hoje
encontra-se exatamente na condição na qual o estado de Minas
Gerais vivenciava em meados do século XVIII.
Não só pelas
notícias de uma 'Derrama' nos cofres públicos, que 'vira e mexe
pipocam' nas redes socias e nas conversas de botecos,
chegando ao cúmulo de se ter a notícia de que foram gastos por volta
de um milhão de reais na festa de aniversário da cidade, mas
também pela perseguição e pressão nos bastidores da política,
que envolvendo pessoas do alto escalão da Prefeitura Municipal,
tentam a todo custo manter-se no poder e principalmente,
continuando a garantir a
sua 'boquinha'.
Todos sabem que
tal situação chegou neste ponto graças ao imbróglio que se
formou após o fatídico pleito eleitoral de 2012. Não vou me
estender nesse assunto, pois acho que ele já está mais do
que discutido e compreendido por todos. Mas há que se destacar,
de que até mesmo para aqueles que no início desta 'confusão dos
diabos' instalada na nossa pequena cidade, onde parte da farra e
do caos foram
meticulosamente planejados, hoje causa-lhes um tremendo espanto!
Este
final descontrolado, desenfreado e por que não dizer,
insuportável, certamente não fazia parte de nenhum plano.
Mesmo as mentes
mais calculistas e experientes da nossa política, não poderiam
prever que aquela manobra fundamentada em traições, e que levou
ao poder a inexperiência em pessoa, poderia prever que tal
situação se instalasse em tão pouco tempo. Aliás, muitos
daqueles que começaram como meras criaturas dos tubarões, hoje
demonstram ter aprendido o jogo rapidamente, e com as mesmas armas sujas, de forma vil voltam-se contra os seus próprios
criadores. É aquela velho ditado: "Tudo que vai, volta!"
Dito isto, nessa
última semana a coisa esquentou lá pelos lados da Câmara
Municipal. Tudo começou na sessão legislativa do dia 23 de
setembro, quando foi lida em plenário o pedido de abertura de
uma CPI contra o atual governo interino. O pedido é baseado nas
denúncias de um munícipe, que protocolou no legislativo um
documento na qual pede uma investigação a respeito de
supostas
irregularidades na contratação de Antonio Aparecido Reschini
para o cargo de Secretário de Finanças, além de um contrato que
o município mantém com o vereador Argeu Reschini, que segundo um
semanário local, seria vedado pela Constituição Federal. O
documento protocolado pelo munícipe também denuncia que pode ter
ocorrido nepotismo, já que houve algumas nomeações de parentes
em diversos cargos comissionados.
Segundo algumas
fontes, o vereador Argeu chegou a ameaçar alguns colegas
vereadores, afirmando que se o seu contrato com o município está
irregular, outros vereadores também estariam na mesma situação.
Se isso de fato ocorreu não foi possível confirmar, mas
aparentando muito nervosismo, naquela mesma noite, Argeu e sua
família também vieram tirar satisfação com este jornalista a
respeito de uma matéria que estamos produzindo, e que apura
denúncias sobre a condenação de três vereadores em um processo
de devolução de dinheiro aos cofres públicos. Em tom quase
ameaçador, o vereador tentou insinuar de que não queríamos
publicar a nossa reportagem, uma vez que o DESCALVADO NEWS,
segundo as suas palavras, já havia indagado os
envolvidos sobre o processo e nada foi publicado ainda.
Confesso que fui
pego de surpresa com a reação do nobre edil, o que me causou num
primeiro instante um certo espanto. Mas, em poucos minutos de
conversa, ficou claro pra mim que aquela reação retratava pura e
simplesmente o nervosismo e o descontrole do legislador, o que
reforçou a informação recebida sobre o que teria acontecido
momentos antes na Sala de Comissões da Câmara Municipal. Ao
menos, houve tempo de dizer ao vereador e aos seus familiares,
de que ainda estamos no meio da nossa investigação e de que o
nosso trabalho, assim como foi feito com a reportagem que trouxe
as denuncias sobre a suposta irregularidade na nomeação do seu irmão
para o cargo de Secretário de Finanças, preza sempre pela verdade e pela
imparcialidade. Só não deu tempo de perguntar ao vereador o por
que ele e o irmão não pediram ao veículo de comunicação do
grande parceiro e atual Secretário de Administração, para publicarem
as mesmas denuncias que estamos investigando, já que eles têm
tanta certeza daquilo que afirmam.
Este pequeno
episódio dá à você leitor, a noção exata de como está o clima no
legislativo. É pressão até em cima de quem não vota! Mas
aproveitando o gancho, eu gostaria de enviar uma mensagem à um
dos nossos representantes do legislativo: já estou sabendo de
algumas ameaças que você está sofrendo para votar favoravelmente
aos interesses de algumas pessoas. Mas uma mudança de
posicionamento nesta altura do campeonato será um estrago
gigantesco em sua recente carreira política, além é claro, de
ser injustificável para aqueles que lhe confiaram o voto. Todos
que conhecem a sua história, o seu trabalho e a sua idoneidade,
sabem que você jamais concordaria em participar de qualquer 'maracutaia',
e se pessoas próximas venceram uma licitação honestamente por
ter oferecido o melhor preço, isso jamais poderá manchar o seu
nome e a sua carreira, motivo este pelo qual estão lhe
ameaçando. Essa mudança, mesmo que imposta sob forte pressão,
poderá dar margens à dúvidas e especulações, e que eu sei que
não condizem com a realidade. Como você sabe, esse é um jogo
muito perigoso, onde uma das principais armas é a honestidade e
a convicção, e onde nesses quesitos, você já deixa lá pra trás
aqueles hoje te ameaçam. As pessoas que sempre estiveram
ao seu lado vão saber distinguir o que é armação e difamação, e
a verdade será sempre a principal bandeira do DESCALVADO NEWS.
Pense nisso!
Mensagem
enviada, voltemos à nossa panela de pressão chamada de 'Casa da
Democracia'. Ainda na mesma sessão do dia 23, aquele projeto de
lei derrubado na sessão extraordinária do dia 6 de setembro, que
autorizava a abertura de crédito adicional suplementar de
quase quatro milhões de reais (cerca de 5% do orçamento anual em
uma única 'paulada'), voltou à pauta legislativa, mas desta vez dividido em
doze projetos. Os
projetos foram protocolados no dia 19 de setembro, e não houve
tempo hábil para uma análise das comissões.
Mais uma vez, o
vereador Helton Venâncio, que ainda crê que a vaga de
vice-prefeito junto com Sposito pode ser sua, novamente
solicitou
regime de urgência para todos os doze projetos, mesmo sabendo
que em nenhum deles havia os pareceres. O pedido é claro (e "AI"
dos vereadores se não tivessem feito isso), foi rejeitado.
Mais do que
depressa, o prefeito enviou à Câmara o pedido de convocação de
uma sessão extraordinária, para tentar aprovar os projetos ainda
durante a semana, o que foi acatado pela Presidente Paula
Peripato. Não sei se é por puro despreparo ou por pressão direta
e descabida, a mensagem contida no ofício recebido pela Câmara
foi enviada pelo prefeito de forma 'desafiadora', e segundo
alguns vereadores, em um tom claro de desrespeito à casa de
leis. Segundo um dos vereadores, o ofício tratou os edis
de forma grotesca e quase imputando-lhes a obrigatoriedade de
aprovação dos projetos de lei, o que deve ter deixado até o
experiente 'Zé Dias' de cabelo em pé. Aqui eu faço questão de
abrir um parênteses, e reforçando o que eu falei a poucos dias
na última edição da Coluna "Politicando", parece que em nosso
município tudo pode acontecer. Descalvado é hoje a única cidade
do país onde o 'rabo é que abana o cachorro', e não o contrário!
O clima
esquentou na noite de quinta-feira, dia em que a extraordinária
foi marcada, e alguns vereadores, dentre
eles Vick Francisco (PPS) e Dr. Rubens (PSDB) cobraram da
Presidente um postura mais firme com o poder executivo, já que
dentre os doze projetos de lei, haviam alguns claramente sem
necessidade de urgência de aprovação. Dr. Rubens chegou a
comentar a maneira com que as coisas estão acontecendo e disse
que em todos esses anos de Câmara Municipal, nunca presenciou
tal situação de descontrole e desrespeito com os vereadores.
Já o vereador
Vick cobrou de forma mais dura da Presidente da Casa a
desnecessária urgência em alguns dos projetos, e no mesmo tom, ouviu
a resposta de que era necessário atender ao pedido do prefeito.
O clima pesou de novo e demonstrou mais uma vez o desgaste
político causado por toda essa situação de indefinição.
Por fim, o
projeto que previa o repasse de mais um milhão e meio de reais à
Associação da Santa Casa, que em 6 de setembro foi dito
verbalmente pelo então secretário de finanças que era para o
pagamento de salários, agora retornou sem esta justificativa,
apenas com um ofício do secretário de saúde. O projeto acabou
sendo aprovado, porém com a ressalva de que será preciso a
prestação de contas a cada 15 dias, o que eu particularmente
duvido que aconteça, já que um projeto parecido foi aprovado no
começo do ano com a mesma ressalva e até agora nenhuma prestação
de contas foi enviada. Ou seja, os vereadores de novo,
acreditaram no 'conto da carochinha'.
A justificativa
desta aprovação porém, segundo comentários, foi em razão de que um vereador (que é defensor da atual
administração e tem ligações 'estreitas e familiares' com
servidores da pasta de finanças e da própria Associação da Santa
Casa), estaria afirmando pra todo mundo de que o salário do mês
poderia não sair, pois os vereadores de oposição à Sposito
estariam segurando os projetos na Câmara. Pura manobra política,
que inflama o funcionalismo contra os trabalhos da Câmara, que
com a pressão, acabam votando em projetos de lei sem a devida
análise, o que é perigoso, já que com quase quatro milhões de
reais pulverizados em doze projetos, sobram brechas para tudo
quanto é lado!
Infelizmente, a
tática de usar o funcionalismo para colocar pressão na Câmara,
mais uma vez deixa a turma do 'quem quer dinheiro' com a faca e
o queijo na mão. Até quando?
Ah, e concluindo a
história de Tiradentes, para quem não sabe ou não se recorda,
quando ele foi enforcado, seu corpo também foi esquartejado e os
pedaços espalhados ao longo de algumas vilas, no estado
de Rio Janeiro. Sua cabeça, foi pendurada bem alto em um poste,
para que servisse de exemplo para toda a população. Espero que
aqui não cheguemos à esse ponto, apesar de que eu já até imagino
em
qual poste
a cabeça poderia ficar exposta!
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