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Fazer parte de uma
rede social nunca esteve nos planos do padre Angelo Francisco
Rossi, de 62 anos, que se considerava velho até mesmo para
aprender a usar um computador. O conceito agora lembrado em bom
humor pelo religioso de Descalvado mudou há sete meses, quando
decidiu experimentar o recurso para se aproximar de católicos na
região de Campinas após perder a audição. Com 4 mil amigos, ele
diz que até "encaminha" confissões.
"Em 2010, fui
acometido por uma meningite e a perda de audição foi total. Hoje
consigo ouvir graças ao implante coclear, mas por conta da minha
limitação deixei a Paróquia de Americana e retornei para onde
moro atualmente", conta o padre. |
Quando pondera sobre as diferenças para se relacionar com as
pessoas, 30 anos após ser ordenado, ele avalia que o contato
através do Facebook é 'mais frio', porém, as pessoas ficam mais
à vontade para desabafar e pedir ajuda.
"Foi um pouco
estranho [mudança], porque no púlpito você está diante das
pessoas, há contato humano e pode ver a reação no rosto e
gestos. Aqui é tudo virtual, você imagina a pessoas, mas pode
ser útil quando bem canalizado", explica ao comentar sobre
diálogos que se aproximam de uma confissão ou exigem tratamentos
diferenciados. "Quando surge algo que sinto ser uma confissão,
procuro chamar para uma conversa mais pessoal. Já quando está
distante, procuro encaminhá-la ao padre mais próximo para que
receba o sacramento da penitência", ressalta o padre. "Gosto de
falar em público, mas com esse novo método sinto que as palavras
vão fluindo ainda mais rápido [...] Mas aqui requer mais
confiança".
VERGONHA, MEDO
E SUPERAÇÃO
- Segundo Rossi, a vergonha e o medo criam uma barreira que
impede as pessoas de fazerem uma boa confissão. Com o uso do
Facebook, ele acredita que pode incentivar os católicos a
encontrar paz. "Muita gente acha que o Sacramento da Confissão
ou Penitência caiu de moda. Elas buscam os profissionais da área
de saúde e, diga-se de passagem, pagam caro para uma sessão onde
fazem desabafos e buscam cura."
O padre, que faz
e vende doces caseiros para ajudar festar comunitárias, admite
que ainda sente dificuldades para usar a internet e precisa
olhar o teclado para encontrar as teclas corretas. Ele demonstra
satisfação ao lembrar das pessoas que reencontrou e diz que
sentiu medo de não ir adiante no ofício.
"Quando senti
que estava completamente surdo, pensei que jamais iria fazer o
que sempre fiz com muito amor e fé. Hoje me sinto feliz e
realizado por levar palavras de Deus às pessoas mais distantes.
Sinto acolhimento", menciona ao indicar amigos que das paróquias
de Americana e Cosmópolis com quem mantém contato.
'VÍCIO ATÉ DE MADRUGADA'
- Sem titubeios, Rossi afirma que não tem horário fixo
para conversar com os fiéis. Brinca ao usar o termo
"vício" quando descreve a rotina que criou para tentar
atender o máximo de pessoas, por algumas vezes até às
3h, incluindo quem mora em outros estados. Em
determinado momento, ele precisou interromper a conversa
com a reportagem para falar com uma moradora de Curitiba
(PR). "Ela estava desesperada. Perguntei a ela se tinha
uma Bíblia em casa e disse que não. Daí tive que
transcrever o texto que havia pedido para ela ler",
lembrou o religioso na entrevista.
Embora
continue celebrando missas, casamentos e batizados, o
padre disse que buscou uma nova forma de evangelizar e
comemora a repercussão. "Senti no meu coração um desejo
de alcançar os que estão mais distantes. Antes eu sequer
sabia ligar o computador e esse contato tem me fascinado
cada dia mais, as pessoas estão carentes de ouvir a
Palavra de Deus." |
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*Fonte:
G1/Campinas - Fotos: Fábio Rodrigues
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