Trecho do
Rio Mogi Guaçu, na Cachoeira de Emas (Pirassununga) |
Há pelo menos 53 anos a região de Ribeirão Preto não enfrenta uma escassez de
chuva tão severa quanto a do primeiro semestre de 2014. Além do rebaixamento dos
rios Mogi e Pardo, a situação também prejudica a agricultura - alguns produtos podem ter
perda de até um terço da safra.
Um levantamento
realizado através de dados do Instituto Nacional de Meteorologia
(Inmet), cuja estação mais próxima de Ribeirão fica em São Simão
(51 km), mostra que desde 1961, quando a medição começou a ser
feita, o índice médio mensal de chuvas de janeiro a junho não é
tão baixo.
Em 32 dos
últimos 53 anos, a estação registrou o dobro da média semestral
de chuvas verificada no município neste ano. |
Nos seis primeiros meses de 1983, por exemplo, houve
precipitação acumulada de 1.318 milímetros (mm), quatro vezes a
verificada no primeiro semestre deste ano, que teve apenas 330
mm.Dados
do Ciiagro (Centro Integrado de informações agrometeorológicas)
também mostram que a situação nas cidades da região de Ribeirão
é alarmante.
Este semestre é
o menos chuvoso desde, pelo menos, 1991, data do último balanço
do órgão disponibilizado no site da União dos Produtores de
Bioenergia (Udop). Vinte dos últimos 24 anos registraram, nos
primeiros seis meses, o dobro do acumulado de chuvas no mesmo
período de 2014. Mesmo a última grande seca no município de
Ribeirão Preto (ocorrida em 2001), teve 80% mais chuvas do que
agora.
GENERALIZADO
- “A situação é crítica”, diz a meteorologista Neide Oliveira,
do Inmet. Ela ressalta que este ano foi seco em São Paulo como
um todo, mas atingiu de forma mais drástica a região Norte e
Nordeste do estado.
Na região da
Grande São Paulo, cerca de 14 milhões de pessoas podem correm o
risco de ficar sem água devido ao colapso do Sistema Cantareira
- que “zerou” na semana passada suas reservas normais.
Neide diz que a
tendência é que o nível de chuvas se mantenha baixo ao menos até
setembro. Depois, entretanto, pode haver um bom reforço. Ela
explica que as características oceânicas e atmosféricas mostram
80% de chances de incidência do fenômeno “El Niño” este ano -
que pode aumentar o índice normal de chuvas.
RIOS COM METADE DA PROFUNDIDADE
- Os dois rios mais importantes da nossa região também sofrem
com a escassez de chuva. Em de 3 de julho, o rio Pardo estava
com 50 centímetros de profundidade no ponto de medição de
Ribeirão Preto. “Esse foi o nível mais baixo verificado, no
mesmo dia, desde 1941”, explica Carlos Alencastre, diretor
regional do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica).
Já
nesta terça-feira (15), o Pardo estava com 57,5 cm de
profundidade em Ribeirão. “Nossa média, desde 2003, era
de pelo menos um metro”, diz Alencastre, que teme a
mortandade de peixes.
Alguns
pontos, como na hidrelétrica Itaipava, em Serrana, já
estão secos. “Se a chuva não vier logo e com boa
intensidade, a tendência é piorar ainda mais”, alerta.
A situação do rio Mogi também é considerada a pior dos últimos 60 anos e, atualmente, o volume de
água no rio está 50% abaixo do ideal.O cenário é assustador. O rio que já foi bem mais profundo agora está raso e com
as pedras bastante aparentes. |
Trecho da Hidrelétrica Itaipava,
em Serrana, tem apenas poças |
O nível do rio está 45 centímetros abaixo do normal para a época e o volume de
água caiu pela metade. Segundo o coordenador do Cepta de Pirassununga, José
Augusto Senhorini, em comparação com a mesma época, há 40
anos, a vazão do Rio Mogi em Pirassununga era 80 vezes maior. “Precisávamos ter
21 metros cúbicos por segundo, que seria uma vazão mínima para a comunidade
aquática sobreviver de forma satisfatória. Hoje a vazão é 10 metros cúbicos por
segundo”, explicou o biólogo.
SECA AFETA AGROPECUÁRIA DA REGIÃO - “Foram as piores chuvas de verão da última
década, pelo menos”, diz o engenheiro agrônomo Rodnei Correa, que trabalhava na
regional de Ribeirão Preto da Casa da Agricultura.
Ele afirma que a
seca atingiu em cheio a agricultura da região, principalmente o
cultivo de soja, café, amendoim e milho safrinha. “Em alguns
casos, a safra irá registar perda de até 33%”, alerta.
A mais
prejudicada será a cana-de-açúcar. “Não houve o desempenho
esperado para o verão, e as consequências são sentidas agora”,
diz Rodnei, ressaltando que o prejuízo ainda está sendo
quantificado. “Mas uma visão otimista aponta perda de 10%”, diz.
Os produtores do
bovino, devido à seca do pasto, também tiveram que antecipar a
alimentação à base de ração e silo.
*Com
informações e infográfico do Jornal A Cidade
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