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Findo o carnaval, é
tempo agora do recolhimento, da reflexão. “É um tempo que
aproveitamos para repensar nossas vidas e trabalhar para operar
uma mudança qualitativa de nossas ações e de nosso jeito de
ser”, diz o pároco da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Belém,
Padre Valdinei Silva.
Para os
católicos a Quarta-feira de Cinzas, começa com oração e
penitência. O ritual de imposição das cinzas marca o início da
Quaresma, tempo de preparação para a celebração da Páscoa, o
evento religioso que simboliza a ressurreição de Jesus Cristo. |
O ritual lembra ao fiel que ele é pecador; é um sinal de que ele
precisa trilhar o caminho da penitência e da conversão. E neste
caminho da conversão quaresmal, a Campanha da Fraternidade 2014
(CF) é apresentada aos fiéis com o tema “Fraternidade e Tráfico
Humano” e lema “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl
5, 1).
Desde a década de 60, a Igreja Católica chama a atenção da
sociedade para refletir sobre temas que ferem os direitos
humanos. Neste ano, o cartaz da CF traz a crueldade do tráfico
humano.As mãos acorrentadas e estendidas simbolizam a situação
de dominação e exploração dos traficados e o seu sentimento de
impotência. A mão que sustenta as correntes representa a força
coercitiva do tráfico que explora vítimas. A maioria das
pessoas traficadas está em situação de vulnerabilidade. São
pessoas exploradas para o trabalho escravo, prostituição,
retirada de órgãos e para adoção ilegal. Normalmente, as vítimas
são aliciadas com falsas promessas de melhores condições de vida
em outra cidade ou país. O tráfico humano é um crime
multifacetado, altamente lucrativo e silencioso.
“É uma situação
que rompe com o projeto de vida na liberdade e viola a dignidade
da pessoa humana, transformando-a em objeto para o lucro.
Desumaniza”, esclarece o Padre Valdinei.
Para este ano,
os objetivos da CF são reivindicar dos poderes públicos meios
para a reinserção das pessoas atingidas pelo tráfico, promover
ações de prevenção e resgate da cidadania e sensibilizar nas
celebrações da Quaresma para a solidariedade e o cuidado às
vítimas desse mal.
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A seguir,
acompanhe a mensagem do Padre Valdinei, para este início de
Quaresma e tambémo seu chamamento para a participação na
Campanha da Fraternidade 2014:
“Iniciamos um período especial para nós cristãos que é o tempo
da quaresma. É um tempo que aproveitamos para repensar nossas
vidas e trabalhar para operar uma mudança qualitativa de nossas
ações e de nosso jeito de ser. Quaresma são 40 dias que
significam o tempo necessário para um retiro espiritual muito
especial, que vai nos ajudar a viver os mistérios da paixão,
morte e ressurreição de Jesus. É o tempo de experimentar a
imensa misericórdia do Senhor Deus em relação às nossas vidas e
nossa condição humana. Muitas pessoas acreditam que Deus sempre
está à espreita nos esperando para nos punir. E, é exatamente o
contrário, Deus nos quer livres e felizes, realmente plenos. “ É
para a liberdade que Cristo nos libertou”. (Gl 5,1) Por isso, a
conversão é o caminho para a verdadeira liberdade. Vamos viver
tudo isso, primeiro pelo jejum, que mais que a privação do
alimento, é “humildar-se” de tal modo que nos esvaziamos de
nosso orgulho e de nossos pecados para abrir espaço em nós para
acolher a grandeza de Deus. É também, um tempo onde nos
dedicamos com mais intensidade a oração, que para nós é a
perfeita escola da vida. Orar é encontrar-se com Deus,
experimentar sua imensa misericórdia e todo amor que ele tem por
nós. Nisso consiste a vida do cristão viver sempre com Deus. O
que vai nos levar à prática da caridade. É uma dinâmica de vida
onde o que de Deus recebemos somos capazes de compartilhar. A
esmola é nossa maneira de partilhar o amor de Deus. Nesse ano a
Igreja do Brasil, apresenta a Campanha da Fraternidade com o
tema: Fraternidade e tráfico humano. Segundo Dom Leonardo Ulrich
Steiner, bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da CNBB:
“o tráfico humano é o cerceamento da liberdade e o desprezo da
dignidade dos filhos e filhas de Deus”. Existem inúmeros casos
de exploração que deixam na condição análoga à escravidão os
seres humanos. Podemos lembrar a situação dos colombianos nas
confecções brasileiras que trabalham 14 a 16 horas por dia por
um salário humilhante que cria dependência de seus patrões,
assim também muitos haitianos que vieram para o Brasil. Os
migrantes nacionais que também vieram pra nossa região em busca
de uma vida melhor, e muitas vezes, são explorados, os meninos
que vão pras peneiras de futebol e perdem contato com a família
e vivem em condições sub-humanas, as meninas que são convidadas
a irem para grandes centros e fazerem campanhas fotográficas e
se tornam prostitutas de luxo, a venda de órgãos humanos, a
exploração sexual de homens e mulheres que se prostituem ou são
traficados para tal fim. A questão é muito grave. Dom Leonardo
afirmou: “o tráfico humano viola a grandeza dos filhos de Deus,
destrói a imagem da dignidade humana, cerceia a liberdade
daqueles/as que foram resgatados por Cristo”. Diante desse
processo massacrante da globalização o ser humano foi feito
mercadoria. Somos chamados a combater tudo isso. Lutar contra a
exploração do ser humano e defender a vida de nossos irmãos/ãs.
É inconcebível a maldade humana que vitimiza tantas pessoas,
alienando seu direito de liberdade e a vida digna. O ser humano
é um projeto de Deus e não “coisa”, mercadoria a disposição de
outros “seres humanos”. Por isso, a Igreja convida a sociedade
civil a discutir a questão e a trabalharmos juntos para combater
tal prática.O papa Francisco em Lampeduza 08/07/2013 afirmou:
“Peçamos ao Senhor a graça de chorar pela nossa indiferença, de
chorar pela crueldade que há no mundo, em nós, incluindo aqueles
que, no anonimato, tomam decisões socioeconômicas que abrem a
estrada a dramas como este”. Vamos rumo à páscoa buscando o
compromisso de sermos mais filhos/as de Deus e mais irmãos/ãs
entre nós. Combatendo a infeliz sorte desse mau que vitimiza
tantos seres humanos.Nossa Senhora do Belém nos acompanhe na
nossa jornada.”
Padre Valdinei
A. da Silva - Pároco da Paróquia Nossa Senhora do Belém /
Descalvado
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