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O aposentado Enio Malaquini, de 78 anos, acredita que tem uma missão: cuidar de
animais abandonados em São Carlos (SP). Na chácara de sete mil metros quadrados,
no Jardim Tangará, ele abriga cerca de 170 gatos e 80 cães, que recebem
alimento, banho e muito carinho. A dedicação do idoso é tão grande que ele usou
R$ 60 mil que recebeu de seguro, após perder a visão do olho direito, e outros
R$ 60 mil da venda de um imóvel para tratar dos bichos ao longo dos anos. O
dinheiro acabou, mas a vontade não. Atualmente, ele investe a renda mensal, que
não chega a R$ 2 mil, e conta com doações para tentar dar uma vida digna aos
'filhos de quatro patas'.
"Não é fácil, mas
sempre aparece alguém para ajudar com um pouco de ração. Às
vezes, a situação está difícil, mas aí aparece uma |
solução. Não posso
reclamar, pelo contrário, tenho muita
sorte, porque tudo acaba se ajeitando. Faço tudo com muito prazer e só
vou parar quando morrer", diz Malaquini, que começou sua missão 31 anos
atrás e que conta com ajuda e o companheirismo da mulher na sua tarefa
diária. O idoso,
que recebe um salário mínino da aposentadoria, continua trabalhando como
vendedor de caixas de papelão para complementar a renda. Tira cerca R$
1,2 mil na função, mas tem gastos com combustível e pedágio durante as
viagens. O que sobra, compra alimentos para manter a casa onde vive com
a mulher e o restante é investido na manutenção dos animais.
DESAFIOS
- Por mês, ele compra cerca de 15 sacos de 25 quilos de alimento
para gatos e outros 20 sacos para os cães. "Tem gente que ajuda
como pode. Os cães não comem qualquer tipo de ração, então
procuro comprar uma com mais vitaminas e misturo com as que
recebo. Um saco chega a custar até R$ 80 e dá apenas para um dia
de alimentação", explicou.
Comida é apenas um
dos desafios que o aposentado tem para manter os animais que,
muitas vezes, chegam ao local doentes e necessitam urgente de
tratamento. Mais uma vez a solidariedade das pessoas contribuem
para que Malaquini dê assistência aos bichos. "Levo sempre em
dois veterinários que não cobram a consulta, apenas quando
precisa de alguma intervenção mais séria. Ainda assim fazem um
valor mais em conta", relatou. |
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A lista de gastos com
remédios também preocupa. Segundo ele, alguns animais têm cinomose e
parvovirose, doenças caninas que podem levar à morte, pneumonia,
estresse, fora pulgas e carrapatos, que precisam de combate constante.
"Por isso, o problema maior ainda é o dinheiro. Faço uma dívida, tento
cobrir, depois aparece outra e assim vou levando", disse.
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AMOR PELOS BICHOS
- O cuidado com os bichos começou durante as viagens que
Malaquini fez por várias regiões do país. Quando encontrava
algum animal atropelado, colocava no carro e levava a um
veterinário para tentar salvar mais uma vida. Com o tempo, ele
passou pegar os bichos que encontrava abandonados na rua. Se
percebia que não tinha dono, estava magro ou maltratado, levava
para casa.
Todos os cães e
gatos mantidos na chácara são castrados e vacinados. Eles também
tomam vermífugos quando o aposentado percebe que há algo errado.
O idoso e a mulher dão banho semanalmente nos cães.
Tanto o canil,
quanto o gatil improvisados foram construídos pelo casal com
materiais que seriam descartados em ferro-velho. Malaquini disse
que a família está acostumada a aproveitar o que os outros acham
que não tem mais serventia.
O aposentado
explicou que ao chegar à chácara, o cão fica sozinho em um
espaço durante um período para que os demais o vejam. “Quando
todos acostumam e os vejo abanando o rabo, sei que gostaram,
então coloco junto e aí não tem briga. Com gato não há
problemas, os outros vêm perto e rodeiam o novo morador”. |
Os animais estão
disponíveis para adoção, mas poucas pessoas aparecem por lá para
levá-los para casa. Os telefones para quem deseja ajudar é (16)
99294-6622 ou 99157-6377.
*Por Fábio Rodrigues,
do G1/São Carlos
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