Nas noites de segunda, quarta e sexta, ele deixa o sítio onde
mora, na zona rural de Santa Rosa, e dorme na casa da filha. É o
jeito mais fácil de pegar a van, que passa às 8h do dia
seguinte. Pai e filha acordam 6h30, preparam a mala e seguem
viagem.
Chegam ao HC por volta das 10h, mas Braz só passa por
atendimento às 13h. Sai às 16h30 e aguarda a van para voltar pra
casa. Só chega depois das 18h30. “Eu acompanho ele desde sempre.
Não dá tempo de passear, cuidar da casa, da vida”, diz a filha,
Maria Benedita.
A história do
paciente de Santa Rosa do Viterbo que ilustra o início desta
reportagem é muito parecida com a da maioria dos pacientes que
buscam tratamentos nos hospitais e centros de especialidades
médicas de toda a região. As
dificuldades diárias de cada um que procura por atendimento
médico especializado são histórias de uma luta de muita
resistência e perseverança, o que tem feito com o que HC de
Ribeirão procurasse alternativas para proporcionar melhores
condições à estes pacientes.
Atualmente, o
hospital atende cerca de 80.800 pacientes por mês. Cerca de 60%
destes atendimentos não são para pacientes de Ribeirão Preto,
mas sim de cidades de toda a região (36,2% do total), além de
outros municípios do estado e do país (veja o infográfico). Esse
números dão a dimensão do que representa o HC para a nossa
região e principalmente, para os pacientes que necessitam se
deslocar diariamente para receber atendimento.
OUTRAS
HISTÓRIAS
- Entre consultas e demais procedimentos, o HC atende por mês a
média de 50 mil pacientes que não são de Ribeirão Preto. A maior
parte da região, mas há pacientes de todos os estados
brasileiros.
No
estacionamento do hospital, ambulâncias, vans e ônibus se
aglomeram. O início da manhã é o horário de maior movimento.
Para chegar a tempo de serem atendidos, a maioria dos pacientes
- e dos motoristas - deixa suas cidades na madrugada. Um
motorista de Monte Alto conta que começa a trabalhar às 5h00.
“Tem dias que dou mais de três viagens. Não tem hora para
parar”.
O acidente que
matou sete pacientes de Taquaritinga fez a semana desses
viajantes ainda mais difícil. A van que levava 13 pessoas a
Araraquara para hemodiálise capotou na madrugada de
segunda-feira. “Vim pensando até aqui. A gente fica com medo”,
diz Vicente Matuzzo, 79, que sai de Jardinópolis para
hemodiálise.
Sobreviventes
acusam o motorista de Taquaritinga de estar correndo e de ter
dormido. Ele, diz que a direção travou por falha mecânica.
Conversando com cerca de 15 motoristas e 10 pacientes, a
reportagem encontrou depoimentos iguais: alta velocidade,
problemas com manutenção e cansaço são realidade apontada por
quem dirige e por quem é conduzido.
VANS EM DOIS TURNOS É SOLUÇÃO A CURTO PRAZO
- Para o médico José Abrão, responsável pelo setor de
hemodiálise do HC, a melhor solução para as viagens seria que
cada município contasse com seu próprio setor de hemodiálise.
“Os custos disso são muito altos e para o governo é melhor pagar
o transporte”, ele pondera.
Assim, ele pensa
em soluções a longo prazo. O hospital já solicitou às cidades
que fizessem o transporte dos pacientes em dois turnos. “A
maioria das vans sai apenas pela manhã e os pacientes precisam
passar horas esperando o horário do atendimento ou o transporte
de volta para casa”.
O médico explica
que é extremamente necessário trabalhar a autoestima desses
pacientes, debilitada pela doença e pela condição social, na
maioria das vezes, vulnerável. “Eles precisam de muito apoio
familiar e psicológico, para não desistir”. O HC oferece, assim,
tratamento multidisciplinar.
*Com informações do Jornal A Cidade
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